Catolicismo, N° 376 – Abril de 1982 – Ano XXXII, pag. 8
A independência da Argentina católica ante a efetivação da soberania em um
TERRITÓRIO INSULAR
A TFP argentina apela ao Governo, às Forças Armadas e ao povo
O entusiasmo provocado pela recuperação das Malvinas fez com que a opinião pública de nosso País deixasse passar de forma inadvertida várias circunstâncias fundamentais que importa destacar, pois são de vida ou de morte para todos os argentinos que amam deveras a Pátria.
- Se bem que o ato de soberania territorial sobre o Arquipélago seja importante, muitíssimo mais o é a sobrevivência de todo o País como nação independente do influxo e mesmo da tirania comunistas. A questão comunismo-anticomunismo é infinitamente maior que a questão das Malvinas.
- Se para conservar as Malvinas, a Argentina vier a se aliar com a Rússia ou a aceitar o apoio militar russo, teremos perdido muito mais do que ganho, pois a intenção óbvia da Rússia consiste em impor, mais cedo ou mais tarde, um governo-títere a nossa Pátria.
- Há vários indícios de que a Rússia procura atrair nessa direção o Governo e a opinião pública de nosso País. No comunicado de 7 do corrente, já mencionamos como antecedentes a compra pela Rússia de quase 80% de nossos cereais, a assinatura de tratados sobre questões nucleares, a presença de submarinos soviéticos em águas próximas à Argentina e o oferecimento da embaixada russa de nos prestar auxílio militar. A estes indícios se junta agora o silêncio oficial guardado sobre o assunto, apesar das notícias internacionais (ver, por exemplo, “El Dia” de Montevidéu de 7 do corrente, em primeira página: “URSS ofereceu ajuda militar à Argentina e seus submarinos se manteriam vigilantes na área”). Assim, um desmentido do Governo referente a qualquer tipo de compromisso com a Rússia — o qual há tempos se vinha fazendo necessário — toma agora, a nosso ver, caráter de urgência.
- Se a Rússia intervier do lado argentino, é quase certo que os Estados Unidos intervirão do lado inglês, desencadeando-se assim o jogo de todas as alianças. A III Guerra Mundial ter-se-ia desatado por causa das Ilhas Malvinas. E a Argentina formando parte do bloco soviético!
- Essa situação criaria um problema de consciência para todos os argentinos, que em sua imensa maioria são católicos. Jamais poderiam eles aceitar uma aliança com a Rússia, e, pelo contrário, seu dever é resistir a ela, sob pena de pecado contra o primeiro Mandamento da Lei de Deus: amar a Deus sobre todas as coisas. Se por amor à integridade territorial da Pátria se aceitasse uma coalizão com os comunistas — que são inimigos declarados de Deus — se estaria afirmando implicitamente que a Pátria vale mais do que Deus. O que é uma blasfêmia intolerável. Os argentinos católicos deveriam, portanto, se opor por todos os meios lícitos a essa aliança. A Argentina, ou será católica ou não será. Com ou sem Malvinas.
Deus, que deu à nação argentina todo o seu território continental —invejado pelo mundo inteiro por sua fecundidade e extensão — veria que nos aliamos com os inimigos dEle, só para tornar efetivo, neste momento e sem tardança, um direito sobre as Ilhas Malvinas, que, por outro lado, ninguém nos pode negar.
- É sintomático que até os terroristas “montoneros”, com a assinatura de Mario Firmenich, tenham apoiado o Governo a propósito da recuperação das Malvinas. E, em entrevista à imprensa, afirmem que desfilarão na Plaza de Mayo, na manifestação convocada pela Rádio Rivadávia, para demonstrar sua “solidariedade militante contra a agressão imperialista dos conservadores britânicos” (cfr. “Jornal da Tarde” de São Paulo de 10-4-82). Políticos e líderes sindicais peronistas são conduzidos pelo Governo às Ilhas Malvinas como personalidades dignas de tal honra, e também o apoiam. Cumpre lembrar o papel que coube aos peronistas no crescimento do terrorismo, as medidas socializantes com que arruinaram a convivência e a economia nacionais, e o fato de que foram necessárias duas revoluções para os desalojar do Poder. Em vista disso, o presente gesto do Governo, em consonância com as declarações dos próprios peronistas e dos “montoneros”, faz recear que, a exemplo do que sucedeu na Rússia de 1917, os eventos bélicos sirvam de ocasião para que se implante no País um governo de esquerda. O qual, por outro lado, seria amplamente favorecido pela Rússia, se tivermos a desgraça de ser apoiados por ela no conflito com a Inglaterra.
- Os integrantes das Forças Armadas argentinas, que em sua imensa maioria são católicos e anticomunistas, estão sendo arrastados a esta situação sem saída, envolvidos numa atmosfera de entusiasmo patriótico.
Rogamos a Deus que na lúcida e patriótica reflexão das Forças Armadas estejam inteiramente presentes, na atual tensão, as considerações que acabamos de lhes apresentar, bem como a todo o País. Pedir-lhes esta ponderação num momento de tão nobres ardores patrióticos de nenhum modo importa em pedir-lhes que debilitem seus esforços na defesa da Pátria, mas, pelo contrário, em revigorá-los contra seu inimigo mais profundo e terrível, que é o comunismo. O patriotismo que conduz à cegueira e ao suicídio não é patriotismo. É uma paixão manipulada por quem a provoca com objetivos friamente calculados.
- A TFP pede ao Governo e às Forças Armadas que não permitam que esta situação, que pode facilmente tornar-se calamitosa, continue. É necessário esgotar todas as vias nobres e honestas que se nos apresentem para chegar a um acordo com o governo dos “conservadores britânicos” — tão odiados pelos “montoneros” — que ressalve nossos direitos, mas sobretudo preserve a Argentina do comunismo. E também preserve contra qualquer divisão a aliança ocidental, pois essa divisão poderia dar ensejo não apenas a uma ação comunista em nosso País, como a um debilitamento irremediável da referida aliança.
Os responsáveis por muitos atos de entrega em face do comunismo, começando por Yalta e terminando pela Rodésia, talvez não o deplorem tanto. Mas na questão crucial de nosso tempo — a confrontação mundial comunismo-anticomunismo — nossa militância anticomunista deve ir além do entreguismo das grandes potências (que, diga-se entre parêntesis, em muitos outros pontos usam de rigor contra seus verdadeiros amigos, mas não contra a Rússia e seus aliados).
Se nos atrevemos a enfrentar a Inglaterra por amor às Malvinas, não nos atreveremos a rechaçar as ofertas da Rússia por amor a Deus?
- O Governo deve denunciar os numerosos tratados firmados com os países comunistas, que em seu conjunto sempre redundam em decepção e prejuízo para os países contratantes; e adotar uma política exterior de enfrentamento do comunismo, especialmente no continente americano. Se assim o fizer, por fidelidade à Lei de Deus, é provável que se consolide a reconquista das Malvinas e muito mais, porque também valem para as nações aquelas palavras de Nosso Senhor: “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua Justiça, e todas estas coisas vos serão dadas de. acréscimo” (Mt. VI, 33).
Buenos Aires, 12 de abril de 1982
Sociedade Argentina de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade