Catolicismo, N° 462, Junho de 1989, págs. 25-26 (www.catolicismo.com.br)
Contra o torpor, apelo ao heroísmo
LISBOA — Chamando a atenção do público português para que desperte do misterioso torpor que o domina, e reacenda a velha chama de Fé e heroísmo, grandeza do Portugal de outrora, o Centro Cultural Reconquista elaborou substancioso estudo, publicado em seu boletim “TFP Lusa Informa”.
Ao tratar do verdadeiro perfil da alma portuguesa, o documento remonta às origens da nacionalidade, às lutas contra os invasores muçulmanos e à expansão marítima que levou a Cruz de Cristo aos mais distantes pontos do Globo. Evoca com especial admiração o Beato Nuno Álvares Pereira e a Rainha Santa Isabel, como figuras íntegras e abnegadas que marcaram a História de Portugal nos momentos mais tristes e dolorosos.
Rejeitando a versão de que os atuais problemas da nação se restringem apenas à economia e às finanças, o Centro Cultural Reconquista aponta numerosos sintomas da grave crise social, moral e religiosa que solapa o país hoje em dia. Essa grave crise — salienta — tem um nexo profundo com a descristianização propugnada pelos iluministas e revolucionários franceses de 1789, e trazida a Portugal por Napoleão e seus exércitos. Pretendia ela apagar da fronte lusa aquele sinal que tinha sido até então a sua glória, a sua alegria e a sua honra: a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ilusão otimista
A estabilidade política de cunho liberal, o afastamento do perigo imediato de uma tomada de poder pelos comunistas, e o recente ingresso de Portugal no Mercado Comum Europeu despertaram em muitos espíritos a impressão de que se inicia uma era de bem estar e prosperidade definitivos. Teriam ficado para trás os tempos em que o país era o primo pobre da Europa, a qual lhe voltava as costas com desdém…
O documento do Centro Cultural Reconquista deseja que as vantagens da integração do país no MCE sejam aproveitadas para corrigir os erros crônicos da política agrária confiscatória implantada anteriormente, e ao mesmo tempo chama a atenção para o perigo de que as medidas exigidas por essa integração venham a desfigurar ainda mais os vestígios do passado cristão.
E para demonstrar a inconsistência de uma visão cor-de-rosa do panorama luso, relaciona fatos concretos de uma tendência à autodemolição nacional, semelhante à autodemolição da Igreja. Por exemplo:
— A descolonização consistiu na transferência das colônias para a órbita soviética; as populações ficaram reduzidas às mais penosas condições de miséria.
— A província de Macau, a exemplo de Hong-Kong, será entregue à China, sem que ninguém tenha sido consultado a respeito, nem em Portugal, nem em Macau. Onde estão os ardorosos defensores da democracia liberal e das consultas populares?
— A aprovação da lei do aborto e a difusão de anticonceptivos poderão reduzir a taxa de natalidade em Portugal, como já ocorre em outros ricos países europeus, com a sombria perspectiva de um envelhecimento prematuro da nação.
— Ação deletéria da imoralidade em geral e da televisão em particular, como veículo de violência, pornografia e inqualificáveis ultrajes à Religião Católica.
— É muito sintomático o afastamento de grande número de católicos portugueses dos deveres religiosos. Nos últimos anos, o comércio esteve aberto nas grandes cidades por ocasião da Sexta-Feira Santa, e no Porto chegou-se a marcar uma partida de futebol justamente para as três horas da tarde.
Força jovem
Este é, infelizmente, o Portugal de hoje. Um país onde a Fé se evanesce como um perfume que se evapora de seu recipiente aberto. Enquanto essa situação perdurar, Portugal caminhará certamente para a destruição de tudo o que ainda resta de Civilização Cristã.
De sua parte, o Centro Cultural Reconquista, com o apoio de numerosos amigos e simpatizantes se propõe a prosseguir sua atuação junto à opinião pública, para defender as tradições lusas e os princípios básicos da Civilização Cristã.
E conclui o documento: “Com os olhos postos na Virgem Mãe de Deus, que ao escolher a nossa Pátria para, de Fátima, falar ao mundo inteiro, manifestou por ela especialissima predileção, consagramos aqui, com gratidão filial, nossos trabalhos, nossos esforços e nossa luta ideológica em prol de um Portugal sempre mais cristão e fiel a si mesmo. Estamos certos de que contribuiremos, assim, para que um dia não muito distante se cumpra inteiramente aquela Sua promessa tão cheia de esperança e doçura: ‘Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!’”.