A TFP diz NÃO a Maastricht

Catolicismo, N° 503 – Novembro 1992 – Ano XLII, págs. 18-19

PARIS – Quando Mitterrand, meses atrás, convocou o plebiscito na França, as pesquisas de opinião indicavam folgada margem de aprovação do Tratado de Maastricht: dentre cada três entrevistados, dois lhe eram favoráveis e um o desaprovava.

Durante meses a fio, o eleitor foi bombardeado pela propaganda oficial e pela mídia, no sentido de votar SIM.

A TFP francesa publicou em 25 de agosto p.p., no “Le Quotidien de Paris”, vinte e seis dias antes da consulta popular, vigoroso manifesto de crítica àquele tratado, propondo sua rejeição. E iniciou pujante, campanha nas vias públicas da capital francesa e de várias cidades do interior.

Chegando o dia 20 de setembro, o resultado do plebiscito abalou os governos europeus pró-Maastricht: a maioria que era de dois para um, transformou-se numa pequena margem de 2,1%! Vitória que representou, de fato, um fracasso para o processo de unificação européia e para Mitterrand.

A seguir apresentamos uma síntese do manifesto da TFP francesa. (…)

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Campanha da TFP

em Strasbourg (França), de difusão do manifesto contra Maastricht

Desde que se tratou da ratificação do Tratado de Maastricht, a impressão que se tinha na França era a de que ele receberia aprovação maciça da população.

Entretanto, a rejeição que ele sofreu no plebiscito dinamarquês projetou sobre os franceses as primeiras sombras: os que procuravam lê-lo dificilmente o entendiam. Cheio de imprecisões e complexidades, falta-lhe a clareza que satisfaça os que decidiriam sobre matéria tão importante.

Sua aprovação levaria a França ao abandono de importantes parcelas de sua soberania, passando a ser governada por um poder supra-nacional dirigido por determinada nomenklatura de tecnocratas.

E uma soberania em frangalhos não é uma soberania, é um engodo: a França teria de fazer a renúncia, entre outras, da maneira de dispor de seu potencial militar. A França deveria também um dia renunciar a ter com outros países uma política exterior independente. Internamente, ela submeteria suas contas e orçamentos ao supra-governo da Comunidade Européia (CE).

Sua soberania moral e cultural ver-se-ia igualmente à mercê de um poder extrínseco ao de sua população, o qual, aliás, já impugna, em nome de arbitrárias normas ecológicas, certas tradições milenares do povo, como a produção de queijos característicos ou patês de grande fama.

Em abril deste ano, o Presidente socialista, Mitterrand, favorável ao Tratado, declarou ao diário parisiense “Le Monde”: “Há um bom tempo que se vêm fazendo transferências de soberania da França à Europa, quer dizer, à Comunidade”.

Quanto sangue foi derramado por franceses ao longo de sua História em defesa da identidade nacional, da soberania moral e cultural de seu povo: eles julgavam que isso valia mais do que a própria vida.

Que diferença entre esses bravos e os negociadores de Maastricht, os quais permitem, alegremente, que a soberania francesa se torne presa de obscuros interesses políticos e econômicos!

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Campanha da TFP francesa diante do Parlamento europeu

Uma construção antidemocrática, de rumos desconhecidos

“Por muito tempo construímos a Europa em surdina, às escondidas”, reconheceu a ministra delegada dos negócios europeus, Elisabeth Guigon. “Informamos mal sobre a Europa”, acrescenta a deputada centrista Nicole Fontaine. A deputada centrista ao Parlamento Europeu, Simone Veil, admite: “As pessoas se sentiram excluídas do processo como se qualquer coisa se tramasse contra elas!”

Todos os órgãos da Comunidade Européia estão em formação, e vão assumindo, segundo um plano desconhecido, uma forma ainda mal definida.

Jacques Delors, presidente do mais alto órgão executivo da CE, reconhece este fato: “A construção européia não começou enunciando claramente o que deverá ser, no fim de seu processo de formação, a repartição dos poderes”.

A ambigüidade intencional do Tratado de Maastricht vai assim, às escondidas, empilhando obscuridades e problemas não resolvidos. Seria isto tratar o povo como soberano?

Na realidade, os povos europeus não foram previamente instruídos sobre as finalidades da Comunidade que agora são chamados a aprovar em plebiscito.

Jean-Pierre Chevènement, socialista, e portanto habituado a uma excessiva intervenção estatal, ficou incomodado com o caráter totalitário da Comunidade Européia: “Longe de construir a Europa dos povos, construiremos a Europa sem o povo. Os super-altos funcionários, que formam a Comissão das Comunidades Européias, promulgam textos sem se preocupar em obter o consentimento democrático. Por exemplo, em 1987, sem nenhum controle democrático, alguns conselhos de Ministros da Comissão emitiram, em regime de maratona, 3.655 regulamentos, 23 diretrizes e 4.212 decisões…. As diretrizes são verdadeiras injunções à soberania nacional”.

A burocracia de Bruxelas: super-poder sem contacto com o eleitorado massificado

Na estrutura da Europa, os supremos dirigentes tecnocráticos não serão escolhidos pelo “cidadão europeu”, mas nomeados pelo Conselho Europeu. Nada garante ao público uma informação séria e completa sobre as questões tratadas pelo órgão executivo supremo, nem a possibilidade de exprimir sua opinião sobre o assunto.

Essa estrutura política rígida, resultante de Maastricht, poderia facilmente transformar-se numa nomenklatura dirigente, tal como a que existiu na extinta URSS. Se os franceses fizerem a lista das diferenças entre o Estado soviético e este regime devorador de nações, eles ficarão provavelmente surpresos em notar o quanto ela é curta. E eles estariam então sujeitos ao mesmo processo de massificação que arruinou as nações da ex-União Soviética.

“A massa é inerte e não pode ser movida a não ser por forças externas …. Ela atende ao impulso de fora e é um jogo fácil nas mãos de qualquer um que explore seus instintos e suas impressões”, disse Pio XII, na Radiomensagem de Natal de 1944.

Quanto mais se debilitam as tradições de um país, mais sujeito fica ele à massificação. A morte das nações e a onipresença das massas serão frutos da abolição das fronteiras e das soberanias.

O termo deste processo será logicamente um super-governo mundial, que levará a cabo a extinção de tudo o que é vivo, pessoal, regional e característico de um povo. Os utopistas de Maastricht continuam com imperturbável serenidade a temerária realização da quimera forjada pelos revolucionários russos de 1917.

Ação sobre as consciências

Entidade de inspiração católica, a TFP constata que muitos valores espirituais e temporais ameaçados pelo Tratado de Maastricht correm o risco de desaparecer, se não houver uma ação profunda sobre as almas.

São Luís Grignion de Montfort, missionário francês do século XVII, difundiu na Bretanha e na Vandéia a devoção a Nossa Senhora Rainha dos Corações.

Nesta terrível virada de página da História da França e do mundo, é a Ela que imploramos orientar o coração dos franceses, no momento de escolher seu voto na cabine eleitoral.

Paris, 25 de agosto de 1992

Festa de São Luís, Rei de França

(“Le Quotidien de Paris“, 18-9-92)

 

 

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