Catolicismo, N°508 – Abril de 1993, pag. 8
Marcante presença da TFP francesa na comemoração do bicentenário da morte d Luís XVI
Na praça da Concórdia, em Paris, tremulam estandartes da entidade, esvoaçam capas de seus membros, impressionam o público os dizeres de uma faixa, emociona-o evocativa coroa de flores e o espírito de oração
Nelson Ribeiro Fragelli
Nosso Correspondente
PARIS – Praça da Concórdia (antiga praça Luís XV, que durante a Revolução Francesa tomou o nome de praça da Revolução), dia 21 de janeiro de 1993, 16:15 h. Cerca de 500 pessoas constituíam o público presente.
Desde a manifestação promovida pelo Comitê Nacional pela comemoração solene da morte de Luís XVI, às 10:22 h. – horário da morte do Rei – tinha havido, durante todo o dia, contínuo movimento. Milhares de pessoas se revezaram numa grande “ilha” cognominada “perímetro sagrado”, em frente ao Hotel Crillon, para associar-se, de alguma forma, à comemoração do trágico evento histórico. No local (aproximado) onde se havia erguido a guilhotina que executou o monarca – um espaço de 50 m², coberto com placas de grama, colocadas sobre os paralelepípedos –, as pessoas depositavam flores diretamente no solo.
Foi às 16:15h. que, a 100 metros do local onde se aglomerava o público, ergueram-se três estandartes da TFP. Um deles, de 4 m de altura – com uma tarja de luto que pendia da flor-de-lis dourada que o encimava, símbolo da Casa real francesa. Dois outros menores o ladeavam. Uma faixa, transcrevendo palavras muito apropriadas, foi desdobrada, e 27 membros da TFP francesa revestiram-se das capas rubras, características da associação. Foram logo circundados por curiosos, simpaticamente atraídos por tantas cores. Entre eles se encontrava o escritor Jean Raspail, presidente do mencionado Comitê, acompanhado de alguns outros de seus membros. Raspail – pasmem! – tentou impedir que o estandarte grande e a faixa chegassem junto ao “perímetro sagrado”.
Foi contestado por dirigentes da TFP, que qualificaram sua atitude de discriminatória. Estabeleceu-se logo uma discussão entre as pessoas presentes, ouvindo-se então protestos de algumas delas, como por exemplo: “É radicalismo contra eles [da TFP], deixai-os”; “que mal fazem eles?”; “o cadafalso está novamente na Concórdia!”
Depois de algum tempo de disputa, os dirigentes da TFP francesa decidiram que os três estandartes avançariam até o “perímetro sagrado” e que a faixa ficaria a uma distância de 50 m do aglomerado de pessoas. Um cortejo composto pelos estandartes, por uma bela coroa de flores em cruz, e por sócios e cooperadores da TFP, dispostos artisticamente em forma de farpa, caminhou então até o círculo de uns 6 m de diâmetro. Nele, colocados uns sobre os outros, os ramalhetes elevavam-se a 1 metro de altura.
Após colocarem sobre um tripé junto àquela montanha floral, a cruz de cravos rubros, os membros da TFP iniciaram a recitação do terço. Enquanto o público maciçamente acompanhava a oração, a faixa aproximou-se um pouco mais do “perímetro sagrado”. Os membros do Comitê desapareceram da cena, pouco depois de iniciar-se a prece. E o estandarte grande marcou o ambiente, tremulando sob a ação da brisa suave e gélida, tal como a que soprava no mesmo local na trágica manhã de 21 de janeiro de 1793.
Foram distribuídos ao público folhetos da TFP alusivos àquela comemoração. As pessoas presentes acompanharam o cântico final do “Salve Regina”, entoado por sócios e cooperadores da entidade.
Terminado o terço, foi depositada a coroa de cravos vermelhos no alto do conjunto floral, onde ficou numa posição de realce.
Membros da TFP, tendo se dispersado em meio ao público, conversaram então com circunstantes. As pessoas manifestavam grande simpatia pela associação, assinalada admiração por seus símbolos e compreensão real do significado do ato que acabavam de assistir.
O público da praça da Concórdia conhecera, naquela data histórica de tanto significado contra-revolucionário, o “charme grandioso” da TFP francesa.