Catolicismo, N.° 376, Abril de 1982 (www.catolicismo.com.br)
Sai a lume a íntegra da carta de D. Eugênio
SEGUNDO NOTICIOU a imprensa, o Sr. Cardeal D. Eugênio Sales não pretende comentar a nota da TFP publicada no dia 10 de março no jornal “Última Hora” do Rio. Pois tendo o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, presidente do CN [Conselho Nacional] da TFP, escrito no dia 28 de fevereiro último missiva a S. Emcia., o Purpurado lhe teria enviado, no dia l.° de março, carta que a Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro qualificou de “resposta cabal”.
Um matutino informou que S. Emcia. insistiu em não divulgar o teor da carta e que considerava o caso “já encerrado”. Mas a Assessoria de Imprensa da Cúria do Rio comentou que o comunicado da TFP omite os “trechos mais importantes” da resposta de D. Eugênio.
A tal respeito, a TFP tem algumas ponderações a fazer:
- É muito compreensível que o ilustre Prelado se abstenha de comentar a mais recente nota da TFP, publicada na “Última Hora”. Pois calar é a única atitude cabível para quem não tem o que alegar;
- Poder-se-iam interpretar as declarações do Sr. Cardeal Sales como conferindo à carta carátersigiloso, agora que ele se retira explicitamente do assunto? Nenhuma circunstância lhe confere essa possibilidade. Pois ela foi escrita há quinze dias sem nenhum pedido de reserva. Ademais, em declaração publicada na imprensa (cfr. “Folha de São Paulo” de 4 do corrente), o Purpurado afirmou que tocava unicamente ao destinatário publicar a carta, ou não. Por isso, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira já a publicou quase integralmente.
O que contém a parte ainda não publicada? Por que não a terá publicado o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira? Tal publicação prejudicaria em algo a reputação da TFP? Essas são perguntas aguçadas já agora pela afirmação picante da Assessoria de Imprensa de S. Emcia., de que a TFP omitira os “trechos mais importantes” dessa carta. Mais uma vez: por que o fez ela?
Essas perguntas naturalmente ocorrerão a muitos leitores intoxicados pelo noticiário malévolo com que certos órgãos de imprensa vêm difamando ultimamente a TFP. É, portanto, um direito desta dissipar qualquer dúvida, procedendo à publicação dos tópicos ainda inéditos daquela missiva.
Em sua íntegra, os tópicos ainda não publicados, da carta de S. Emcia., são os seguintes:
“A mesma lamentável omissão se repete com relação à Diocese de Campos, também lembrada em sua carta, onde parcela do Clero, pelo menos admiradora da TFP, não manifesta filial adesão às orientações do Concílio Vaticano II e muito menos ao Exmo. Sr. Dom Carlos E. G. Navarro, Bispo da Diocese.
“Permita-me dizer-lhe, prezado Prof. Plinio, que V. S. poderia ajudar o restabelecimento da disciplina eclesiástica com uma palavra de orientação, dentro das diretrizes do Concílio Vaticano II, dirigida àqueles sacerdotes.
“São estas as considerações que faço à sua carta de 28 último.
“Atenciosamente em Cristo”.
Não quis a TFP dar a lume esses tópicos, apenas para não chamar sobre si a responsabilidade de patentear ainda mais toda a amplitude da controvérsia teológica que se vem desenvolvendo em Campos. Fá-lo tão-só para salvaguardar sua própria reputação.
Não há participação da TFP nessa controvérsia. Pois a entidade é cívica e o tema da controvérsia é teológico.
Quanto ao caráter decisivo — ou quase tanto — que S. Emcia. imagina ter uma démarche do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira junto aos Sacerdotes antiprogressistas de Campos, há nisto pelo menos muito exagero de S. Emcia. Basta notar que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, com grande número dos probos e dignos Sacerdotes antiprogressistas, não teve até hoje mais do que um ou dois encontros passageiros, com mera troca de saudações. E a alguns não conhece pessoalmente.
São Paulo, 15 de março de 1982.
“Manchete” reconhece erro e publica desmentido
A CORRESPONDENCIA da TFP com D. Eugênio Sales (ver “Catolicismo” n.° 375, março de 1982), cujo ponto de partida foi uma nota oficial da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro censurando severamente a TFP, teve por epilogo o comunicado desta entidade transcrito ao lado [acima], seguido do silêncio definitivo do Purpurado. Esse comunicado foi publicado na íntegra pela “Última Hora” do Rio em 17-3-82.
A acusação-mestra do Purpurado tinha por base a notícia divulgada pela revista carioca “Manchete”, segundo a qual a TFP manteria em município do norte fluminense campo de exercícios paramilitares, com treinamento de tiro com armas de fogo, tendo por alvo uma fotografia de S.S. João Paulo II. Essa notícia já havia sido desmentida categoricamente pela TFP em vários órgãos de imprensa, e não se explicava o estranho endosso que a ela conferiu o Arcebispo do Rio de Janeiro.
Em todo o caso, a própria “Manchete” publicou, em edição datada de 27 de março p.p., pormenorizado desmentido do Serviço de Imprensa da TFP, ao qual não apôs qualquer comentário. Segundo a praxe vigente, tal atitude importa em afirmar que, de sua parte, a revista nada tem a objetar ao desmentido que estampou. Eis a íntegra do desmentido:
“Peço a publicação integral da presente carta em próximo número:
Como diretor do Serviço de Imprensa da TFP, vejo-me na necessidade de retificar reportagem publicada por “Manchete” com data de 27 de fevereiro sob o título “TFP – Agora o alvo é o Papa”. Pois, quer pelo que essa reportagem afirma, quer pelo que ela omite, apresenta ao público uma imagem gravemente errônea da TFP.
Na impossibilidade de analisar uma por uma as numerosas acusações desfiadas contra ela ao longo das quatro páginas da reportagem, a entidade timbra em afirmar especialmente:
- que a entidade jamais praticou agressão, ou sequer ameaça de agressão, contra quem quer que seja;
- que a TFP nunca realizou no local mencionado pela reportagem — ou em qualquer outro — exercíciosparamilitares;
- que a TFP não promove treinamento de uso de armas de fogo, ou qualquer adestramento de tiro ao alvo, para seus sócios, ou seus cooperadores;
- e que, portanto, a fotografia de S. S. João Paulo II jamais foi objeto de exercícios de tiro ao alvo por parte de sócios ou cooperadores da entidade. E nem o poderia ter sido, pois tal procedimento — pesadamente sacrílego ou burlesco — contrastaria de todo em todo com a Fé católica na qual todo o pensamento da TFP se baseia.
Estas, como as demais acusações da reportagem contra a TFP, vêm publicadas na aludida reportagem sem apoio em qualquer prova. Por exemplo, a fotografia de dois indivíduos atirando contra uma foto de João Paulo II os apresenta de costas. Pelo que são inidentificáveis. Como inidentificável também é o local onde a cena se passa.
O Brasil inteiro conhece a TFP, que tem atrás de si um longo passado de atuação pública em favor da civilização cristã (cfr. “Meio século de epopéia anticomunista”, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980, 472 pp., quatro edições, 39 mil exemplares). Esse passado transcorreu inteiro na mais exata conformidade com as leis de Deus e as dos homens.
Constantemente voltada para o combate doutrinário ao comunismo — adversário inexorável, e afeito a todas as formas de agressão — a TFP vem sendo objeto de campanhas de detração que se repetem monotonamente umas às outras, ao longo dos anos, sem que jamais haja sido exibida qualquer prova das acusações alegadas.
Notadamente, possui a TFP 2.927 declarações de Delegados de Polícia, Prefeitos e outras autoridades municipais, atestando o caráter ordeiro de suas campanhas em todo o território nacional.
Considerada a reportagem como um todo, e não só no que concerne à TFP, salta aos olhos, ainda por outro lado, a inteira carência de credibilidade da reportagem. Pois ela também lança acusações das mais graves — igualmente sem provas — contra a honestidade pessoal do douto e virtuoso Bispo D. Antonio de Castro Mayer, e de ponderável parcela do Clero diocesano de Campos. O que a qualquer católico brasileiro, sem discriminação de corrente ou de tendência, repugna crer.
Também em várias outras matérias, a reportagem incide em erros flagrantes.
Assim, por exemplo, o terceiro segredo de Fátima não poderia ser “divulgado pelo Papa João XXIII, em 1980”, pois esse Pontífice faleceu em 1963. No índice das “Acta Apostolicae Sedis” referente ao ano de 1969 não consta qualquer Encíclica lançada por Paulo VI sobre “Novos Rumos”. Por certo, há na França, como em vários outros países, uma corrente de Sacerdotes e de leigos que recusam o “Novos Ordo Missae”. Mas quem deu impulso a essa corrente não foi o “cardeal francês Henry Lefebvre”, como assevera a reportagem. Nem há Cardeal com esse nome. A reportagem pretendeu referir-se ao Arcebispo Mons. Lefebvre, diretor do Seminário de Ecône. Esse, porém, não se chama Henry, mas Marcel. Por fim, a reportagem também entra no terreno da fantasia quando afirma que “a TFP conta com o apoio de dois cardeais que já se manifestaram publicamente: Ottaviani e Bacci”. Pela dupla razão de que ambos já morreram, e nunca aliás se manifestaram em favor da TFP.
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Estou certo de que, por um sentimento de justiça, V. Sa. não recusará a publicação aqui solicitada”.