Carta de Dr. Plinio para Alceu Amoroso Lima alertando-o quanto às posições doutrinárias de Plinio Salgado, uma vez que este último e Alceu foram convidados por Juarez Távora para redigirem a próxima Constituição

 

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

28 de Março de 1932

 

 

 

 

 

 

 

 

 
[Os negritos são deste site]

São Paulo, 28 de março de 1932

Meu querido Dr. Alceu

(…) De seu artigo, é suficiente dizer que é seu.

São ótimas as sugestões que me mandou. Monsenhor Pedrosa vai pedir ao Sr. Arcebispo [de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, n.d.c.] autorização (pois que ele dispõe das quantias necessárias) para reproduzir em todos os jornais melhores de São Paulo.

Conversei aqui, rapidamente, com o P.S. Este havia por sua vez falado com o Pe. [jesuíta, Leonel] Franca sobre o caso do contra-manifesto. O Pe. Franca, ao que ele me disse, estava antes inclinado a uma resposta, que não tivesse propriamente o caráter de contra-manifesto. Penso, no entanto, que devemos caracterizar nossa resposta (pela) máxima [nota categórica]. É necessário que notem que estamos dispostos a todas as lutas, e em todos os terrenos lícitos, para impedir que logre resultado sua infeliz doutrinação (?) em benefício da escola única.

Julgo, portanto, que, dentro da necessária linha de polidez e discrição, devemos ser veementíssimos.

Qual sua opinião?

Li nos jornais que o Juarez [Távora] indicou seu nome como um dos autores da futura Constituição. Entre outros nomes figurava também o do Plinio Salgado.

Quanto à sua indicação, seria supérfluo dizer qualquer coisa, pois que o Senhor bem sabe o que a este respeito penso.

Dos nomes indicados pelo Juarez, e de umas declarações que ele fez, depois da viagem ao norte, em companhia do [Severino] Sombra, […. duas palavras que não se conseguem ler, n.d.c.] …ta nova orientação do Juarez é fruto de um hábil trabalho do Sombra.

No entanto, tenho receio de que este se iluda quanto ao Plinio Salgado, evidentemente também indicado pelo Sombra.

Para dizer as coisas nua e cruamente como são, o Plinio pode talvez ter boas intenções. Não tem, porém, independência alguma. Pobre, paupérrimo, vive debaixo das opulentas asas do A.E., e não tem fibra suficiente para um movimento qualquer, de real independência intelectual, e principalmente política.

Quanto às intenções do Plinio, é necessário também colocar algumas sombras no quadro em geral pintado a este respeito.

Sei que ele tem escrito coisas muito nossas, e que parece aproximar-se cada vez mais de nós.

No entanto, uma série de pequenos fatos me têm demonstrado que ele tem uma hostilidade surda em relação a qualquer ação mais pronunciadamente nossa.

Para prová-lo, conto-lhe o seguinte fato:

Quando esteve aqui, em São Paulo, o Sombra (pelo qual nutro grande simpatia e admiração) indicou, a pedido meu, para chefe de uma sociedade de estudos, o Dr. Ataliba Nogueira, ótimo católico, e promotor público aqui.

A sociedade em questão seria um meio de propaganda de ideias direitistas. O Catolicismo deveria estar latente, mas a sociedade, de acordo com os projetos do Sombra deveria ser nossa, quanto à sua orientação geral.

Para evitar que o Plinio Salgado desviasse a sociedade, é que propus ao Sombra o Ataliba, grande amigo do Plinio, mas elemento muito de nossa confiança. Minha indicação foi pessoalmente ratificada ao Sombra pelo Monsenhor Gastão [Liberal] Pinto.

Uma vez de posse desta indicação, o Sombra a submeteu à apreciação do Plinio que, habilmente, a aplaudiu muito, e disse que iria, comigo, convidar o Ataliba.

Depois, a sociedade começou a se organizar. Eu não fui convidado a reunião alguma, e isto acintosamente. O Ataliba, com quem eu não havia conversado, foi eleito Tesoureiro. O Plinio, por proposta de um funcionário da Razão, foi eleito presidente. E o funcionário, por proposta do Plinio, foi eleito secretário. Uma verdadeira pantomima. Além de um teosofista “enragé” [radical; ver N.B. n.1 no final da carta, n.d.c.] e outros elementos suspeitos, convidados pelo Plinio, havia na reunião alguns católicos, cuidadosamente postos à margem!

Note que o Plinio deu ao Ataliba o cargo menos útil que poderíamos ter. O que prova que o Plinio não procedeu por uma pequena vaidade, mas por causa do desejo de nos afastar está em que: 1) convidou elementos suspeitíssimos de toda e qualquer representação social, ou literária etc.; 2) não convidou o Ataliba, mas para “tapear” o Severino [Sombra] nomeou aquele Tesoureiro; 3) Se procedesse simplesmente por vaidade, teria nomeado o Ataliba secretário. O Secretário, porém, é perigoso, porque intervém muito na vida da associação. Puseram, então, o Ataliba como Tesoureiro.

O que dizer disto?

Conviria que o Senhor escrevesse ao Sombra, comunicando-lhe o fato. Não quero que o Sombra pense que o Ataliba e eu nos afastamos da sociedade por negligência.

Em caso algum quero, porém, que o Sombra diga ao Plinio que eu me queixei a este respeito.

No entanto, seria bom que o Sombra, por exemplo, me escrevesse pedindo notícias da associação. Assim, eu poderia ir ao Plinio e, jeitosamente ou não, conforme as circunstâncias, exigir explicações.

Um aviso fica, porém, para o Senhor e para o Sombra, que dou apenas no interesse de nossa causa: cuidado, e muito cuidado com o Plinio, que possui raras qualidades de dissimulação.

E a política? Gostei imenso de seu artigo na Ordem. Um afetuoso abraço do irmão em Cristo

Plinio

N.B. 1) A indicação de um teosofista é muito significativa, porque a teosofia é hoje, em São Paulo, o setor mais ativo da maçonaria. Aliás, as afinidades entre uma e outra são oficiais. É mais uma prova do maçonismo do Plinio e principalmente do E.A. que condiz perfeitamente com outros indícios que colhi. E, quanto a maçom, nem para aliados servem. Timeo danaos et dona ferentes (sempre se deve desconfiar dos inimigos – palavras que Virgílio (Eneide II, 49) faz pronunciar a Laocoonte, quando quer dissuadir os troianos de receber na cidade o cavalo de madeira entregue como presente pelos gregos, n.d.c.).

N.B. 2) Um indivíduo “catolicisante”, de muito poucas letras, pede-lhe um favor: indicar um tratado rudimentaríssimo de Direito Natural; a coisa mais rudimentar que conheça.

 

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