Carta de Dr. Plinio para Alceu Amoroso Lima a respeito das necessidades espirituais/morais de muitos dos católicos no Brasil: 1)

 

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

15 de Outubro de 1932

 

 

 

 

 

 

 

 

 
[Os negritos são deste site]

São Paulo, 15 de outubro de 1932

Meu querido Dr. Alceu

Somente hoje, depois de restabelecido de uma operação de amídalas, é que lhe respondo as cartas que me enviou, e que muito me alegraram pelas boas notícias de que foram portadoras.

Agradeço-lhe o amável telegrama. Espero que tenha recebido o meu.

Espero ir ao Rio dentro destes 7 ou 8 dias, para passar aí mais ou menos 10 dias. Poderemos, então, conversar à vontade sobre a Liga [Eleitoral Católica], e sobre todos os assuntos que estão exigindo um entendimento pessoal.

Soube, por Svend e José Pedro, que seu modo de encarar os últimos acontecimentos coincide exatamente com o meu.

Um perigo, porém, cuja extensão o Sr. dificilmente poderá avaliar no Rio, é o separatismo.

Derrotado como está, e votado agora às últimas humilhações, São Paulo não tem forças para se separar. Mas há nisto outro perigo, que terei ocasião de lhe mostrar.

Em todo caso, lembre-se de que sofro do que o Sr. chamou uma vez a “obsessão da maçonaria”. Mostrar-lhe-ei como esta “obsessão” me permite ver com muita segurança os atuais acontecimentos, e explicar muitas coisas inexplicáveis…

Já rezei hoje pelo Senhor, pois que hoje é dia de uma das Santas a quem mais admiro, isto é, Santa Teresa de Jesus [ou Santa Teresa de Ávila, n.d.c.].

Gosto de seu ardor. É um Santo Inácio de Loiola de saias, e dedicado à vida contemplativa. É de um catolicismo assim, ardente, combativo, implacável, intransigente, completo, que precisamos.

E precisamos, também, para os nossos católicos, de uma vida profundamente imbuída de espírito de oração, profundamente voltada para o sobrenatural, para as verdades eternas, e não apenas de um certo catolicismo que anda por aí, sequioso de transigir com tudo, de fazer da Igreja uma instituição meramente humana, vivendo apenas dos esforços humanos, e lutando com armas apenas humanas.

Reunir em nós, ao mesmo tempo, a combatividade de um Santo Inácio e a vida interior de uma Santa Teresa, eis aí um ideal certamente imenso, mas do qual nos devemos aproximar o mais possível.

É preciso que desenvolvamos uma reação cada vez maior contra duas tendências incompletas, e portanto más, que existe em alguns dos nossos: 1) a tendência de fazer da Igreja uma simples organizadora de novenas, inteiramente privada de qualquer intervenção positiva na vida social; 2) considerar o Catolicismo principalmente como uma doutrina social, relegando a um plano inferior seu aspecto propriamente religioso e piedoso.

O Catolicismo é, ao mesmo tempo, uma e outra coisaE desde que perca um destes aspectos, passará a ser coisa alguma. Nunca a sociologia católica poderia ser aplicável, sem que a graça sobrenatural infundida através dos Sacramentos desse ao homem as forças necessárias para lhe purificar e elevar o caráter. Mais ainda: o homem nunca se conformaria com a austeridade inflexível de tal sociologia, nunca reconheceria a procedência de suas razões e de seus argumentos, se a graça não lhe viesse em auxílio, porque a eterna tendência do espírito humano será de considerar falsas as verdades incômodas.

Por outro lado, o Catolicismo será um mero passatempo de beatas, se não tivesse uma atuação real e vigorosa na vida social. Em uma palavra, a concepção exclusivamente piedosa do Catolicismo nos conduziria infalivelmente àquela piedade festeira e vã de nossos avós, que transformava as festas da Igreja em pretextos para divertimentos exclusivamente mundanos.

Eis-me bem longe de meu assunto inicial. Sei que seu tempo é precioso, e por isto coloco o ponto final.

Aceite um saudoso e afetuoso abraço do todo seu em Nossa Senhora,

Plinio

 

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