Plinio Corrêa de Oliveira
Carta para Alceu Amoroso Lima, 22 de Janeiro de 1935
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[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
São Paulo, 22 de Janeiro de 1935
Meu caro Dr. Alceu Tendo conversado com nosso povo daqui, venho pedir-lhe, então, o grande obséquio de vir fazer a saudação ao Dr. Alexandre Correia no dia 22, ficando as conferências constantes do seu excelente programa, para agosto. Como já lhe disse, as conferências comportam perfeitamente um grande auditório, mesmo de nível intelectual menos elevado (o nível intelectual será tanto menos elevado, quanto mais alto for o social, infelizmente). Realmente, uma vez que o Sr. abordou diante da mesma gente as teses tão complexas e, em si, tão mais áridas, do “Problema da Burguesia”, em que o Sr. se viu forçado a familiarizar um ambiente com grande porcentagem feminina, com questões meramente econômicas, parece-me certo que o Sr. arranjará meios de interessar do mesmo modo seu auditório, mas com questões cuja relação me enviou. Quanto aos integralistas, é o que já lhe disse: em lugar de compreenderem que sua entrevista obedecia ao desejo de remover todas as possíveis desinteligências entre os dois campos, acolheram com pedradas sua atitude. Não compreendo isto. E, principalmente, estou ansioso por uma resposta sua. Mais uma vez, permito-me insistir sobre o lado prático do problema, tal qual ele se apresenta em São Paulo. Em São Paulo, “Integralismo” e “Ação Integralista” são coisas paradoxalmente distintas. Realmente, há aqui dois problemas: 1) a questão da doutrina integralista, tal qual ela se apresenta nos documentos oficiais da Ação Integralista; 2) a questão da “mentalidade” integralista, qual ela aparece em contato com os integralistas de São Paulo. O primeiro problema é, evidentemente, o mesmo para todos os Estados do Brasil. Mas o outro varia de Estado para Estado. Estou persuadido, por exemplo, de que, no Norte, Integralismo e Patrianovismo são coisas muito vizinhas e de que houve mesmo tempo em que eram uma única e mesma coisa. Em São Paulo, o que mais interessa, e oque mais atrai a atenção dos círculos católicos é a “mentalidade” integralista, ou, em outros termos, o estado de espírito em que ficam colocados os Congregados que ingressam para as fileiras integralistas. O Sr. há de ter visto, pelo último Anuário da Federação Mariana, o que é aqui nosso movimento. Graças a Nossa Senhora, pode-se dizer que a Federação é um exército “sicut acies ordinata” [em ordem de batalha, n.d.c.], tal a disciplina, a harmonia e o ardor de seus membros. Ora todos os Congregados Marianos que se fazem integralistas passam a professar as seguintes teses: 1) a ação católica adota processos tais, e vive em tal desorganização, que é inútil trabalhar-se por ela; 2) a ação católica, aliás, não é o remédio para o momento, uma vez que a restauração da civilização cristã (não se fala NUNCA em civilização católica entre integralistas, aqui) exige o emprego de certos meios humanos e políticos, de que a ação católica não se pode valer, dada sua finalidade e caráter próprio; 3) acresce que, salvas exceções, o Episcopado não está à altura do momento, motivo por que não se pode esperar grande coisa do Catolicismo, e todos os esforços devem convergir para o Integralismo. É bem de se ver que estas teses – são as principais, mas há outras – têm algo de verdadeiro, e muito de perigoso. Realmente, há afirmações que, EM PRINCÍPIO, são exatas. Eu não recuo nem mesmo diante do número 2, que me parece a mais arrojada. No que diz respeito ao nosso Episcopado, sem dúvida não estão à testa de todas as nossas 90 e tantas dioceses outros tantos Dom Leme ou Dom Duartes (embora um católico NUNCA deva chamar um Bispo, e muito menos o Episcopado inteiro ao tribunal de sua rebeldia). E, principalmente, quanto ao número 1, é certo que ninguém lamenta mais do que o Sr. ou do que eu, as falhas reais que existem na ação do laicato católico, e, ninguém tem mais do que o Sr. elementos para saber quanto estas falhas são reais e profundas. Há, no entanto, o que eu chamaria as contra-teses, de que nossos Congregados Integralistas se esquecem inteiramente: 1) se é certo que ação católica está cheia de falhas, tudo indica que os progressos reais que se tem verificado tendem a acentuar-se, de sorte que a ação católica tende a transformar-se na maior potência do Brasil; 2) ainda que tal não se desse, é preciso ponderar que todo o trabalho será feito por Nosso Senhor, e que Ele ri-se às vezes dos meios humanos, preferindo vencer sem eles, para mostrar nossa impotência; nada, portanto, nos autoriza a considerar a ação católica uma coisa inútil ou definitivamente votada à derrota; 3) se é verdade que uma ação meramente política poderá ser utilíssima para a “recatolicização” do Brasil (“recristianização” é pouco preciso), é verdade que sem a ação propriamente religiosa nada se fará; a ação política poderá ser um acessório da ação religiosa; mas como mero acessório que é, não se deve sacrificar à política nem um único dos soldados que são tão escassos na ação católica, pois que seria um absurdo distrairmos tropas para a defesa de uma fortificação secundária, quando está ameaçada a fortificação principal. Estas, e muitas outras coisas, mostram até que ponto é falsa a posição que tomam nossos Congregados integralistas. E isto principalmente quanto TODOS eles se recusam a inscrever-se na Liga (isto desde 32, muito antes, portanto, da última atitude eleitoral dos católicos em Outubro de 35), sob pretexto de que não devem obediência ao Sr. Arcebispo neste assunto, PORQUE NOSSO BISPO NÃO TEM, DIZEM ELES, NOÇÃO DA VERDADEIRA SITUAÇÃO DO BRASIL. Suponhamos que seja isto verdade. Mesmo assim, nada lhes autoriza a desobedecer. Portanto, se, em princípio, é desejável o ingresso de católicos na Ação Integralista, é certo que, concretamente, isto representaria um grande enfraquecimento para a Federação Mariana, que é a espinha dorsal da ação católica de São Paulo. Já me estendi demais, meu caro Dr. Alceu. Por esta razão, deixo-lhe um apressado abraço, para tratar de um casinho de advocacia, que me apareceu. A este propósito, comunico-lhe que estou com escritório montado à Rua Libero Badaró 10, 2º. Andar, mas toda a minha correspondência deve continuar a ir para casa. Um afetuoso abraço do Plinio N.B. Envio o dinheiro para renovar a assinatura da “Ordem”. |
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