O PAPA ANALISA A SITUAÇÃO NO BRASIL. Telegrama da TFP a Paulo VI

“Catolicismo”, julho de 1977, N. 319, 1ª. página

CONFORME LARGAMENTE noticiou a imprensa diária, o Santo Padre Paulo VI recebeu em audiência o embaixador brasileiro, Sr. Espedito de Freitas Resende. O Pontífice respondeu à saudação deste com uma alocução que causou estranheza em largos setores da opinião pública de nosso País. Pelo contrário, o quotidiano “L’Unità”, órgão do Partido Comunista Italiano (6-7-77, p. 14), noticiando as palavras de Paulo VI, delas tirou partido com evidente satisfação.

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Um flagrante da Ostpolitik vaticana: Paulo VI recebe Gromiko, ministro do Exterior da Rússia. Foto Keystone

A propósito da alocução de Paulo VI, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, enviou a S. S. o seguinte telegrama, datado de 7-7-77:

“Beatíssimo Padre Paulo VI – CIDADE DO VATICANO

Movida por sua profunda e filial veneração à infalível Cátedra de São Pedro, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), está persuadida de cumprir um dever tornando presente a Vossa Santidade suas reflexões e sentimentos acerca de pronunciamentos e atitudes de Vossa Santidade concernentes à efetivação de sagrados princípios do Direito Natural e da moral cristã no Brasil e no mundo contemporâneo.

Esta Sociedade se sente perplexa, Santíssimo Padre, ao notar que a alocução dirigida dia 4 por V. S. ao Embaixador do Brasil deixa ver sua paternal solicitude ante violações de direitos humanos que a V. S. consta haverem ocorrido por ocasião de atos de repressão contra agitadores comunistas. Mas não contém qualquer censura à violação de direitos humanos sistemática e astuciosa, que o comunismo internacional, com sede na Rússia, vem cometendo há décadas em nosso território ao instigar continuamente a luta de classes e a revolução social, com patente violação de nossa soberania. Instigação esta favorecida – como nos dói dizê-lo – pela atitude de simpatia, quando não de cumplicidade, de eclesiásticos e leigos da chamada esquerda-católica com os manejos soviéticos. Exemplo disto são certas poesias e afirmações doutrinárias de D. Pedro Casaldáliga, Bispo Prelado de São Félix do Araguaia.

As relações cordiais do Vaticano com o governo russo nos levam a esperar que um protesto de V. S. poderia influenciar os soviéticos no sentido de cessarem a pressão subversiva que exercem no Brasil e em toda a América Latina, a qual é sentida como um verdadeiro pesadelo pelas famílias brasileiras e dos países irmãos. Contribuindo para eliminar tal pressão, Vossa Santidade daria o seu mais valioso concurso para diminuir o perigo comunista, e tirar assim a ocasião para os excessos da repressão anticomunista aludidos por V. S.

Pedimos também vênia para dizer que se a solicitude de V. S., transpondo o Oceano e as fronteiras de nossa Pátria, se alarma em público pronunciamento com os já referidos excessos, esperamos que com a maior urgência V. S. manifeste de público aos governos comunistas o horror que a V. S. causam as atrocidades cometidas continuamente sobre os povos que eles dominam. Destas atrocidades são exemplos as repressões exercidas ainda nestes últimos dias contra os dissidentes russos. Bem como a chacina que o governo comunista da Etiópia cometeu matando trinta mil oposicionistas.

Sobretudo nos parecem dignos de uma alta e paterna manifestação de apoio e proteção de V. S. as infelizes famílias vietnamitas fugitivas do comunismo que vogam pelos mares do Extremo Oriente em frágeis embarcações, na maior miséria e desassistidas pelos governos não comunistas circunvizinhos, presumivelmente coarctados por alguma pressão comunista. Suplicamos, pois, um gesto de repercussão mundial de V. S. que lhes possa aliviar a triste sorte!

Rogamos respeitosamente a Vossa Santidade que nos releve se acrescentamos que o público silêncio de V. S. sobre fatos como estes nos causa a mais dolorosa perplexidade.

Levando a V. S. a expressão destes sentimentos, que estamos certos não serem só nossos, mas de incontáveis católicos do Brasil, da América Latina e do mundo inteiro, contribuímos para evitar que no seio da Santa Igreja Universal tome volume um bolsão de filhos indefectivelmente fiéis, desolados mas até o momento cronicamente silenciosos, que vai crescendo dia a dia, e que vai formando na Cristandade uma zona dolorida e relegada a uma como que catacumba, à maneira da Igreja do Silêncio por trás da Cortina de Ferro.

Pedindo as bênçãos de V. S., nos subscrevemos com toda a veneração.

Plinio Corrêa de Oliveira

Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade”.

 

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