110.000 fugitivos vietnamitas já pereceram nos mares – A TFP apela ao Presidente Carter, a Paulo VI e ao Presidente Geisel

Catolicismo, N. 321, setembro de 1977, pág. 3

A propósito da tragédia das famílias que fogem do Vietnã, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, enviou, a 20 de setembro de 1977, telegrama ao Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e a S. S. Paulo VI, bem como ofício ao Exmo. Sr. Presidente da República, Gal. Ernesto Geisel, documentos esses que transcrevemos abaixo.

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Para não viver no inferno comunista, milhares de vietnamitas partem em frágeis embarcações na esperança de que qualquer navio os acolha e alguma nação lhes dê abrigo. Mas, ninguém quer recebê-los.

O barco Mính Châu (foto), por exemplo, conseguiu romper as redes de ferro que os comunistas instalaram para impedir as fugas. Em liberdade, seus 120 ocupantes não podem, entretanto, deixar o barco. Há quatro semanas o Minh Châu permaneceu junto ao porto malaio de Trangganu, que se recusou a receber os fugitivos. Na aflição, estes por vezes ateiam fogo a seus barcos, ou abrem um rombo nos mesmos, a fim de ver se pelo menos assim algum país não comunista lhes dê asilo.

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Ao Presidente Carter

A SOCIEDADE Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade solicita respeitosamente a atenção de Vossa Excelência para o destino trágico a que estão sujeitas famílias vietnamitas que fogem da brutal perseguição comunista levada a efeito em sua pátria, aventurando-se pelos mares em embarcações ligeiras e pondo sua esperança no senso de justiça e compaixão dos navegantes que encontrem em sua odisséia.

Os portos de nações próximas, algumas delas ontem ainda aliadas dos fugitivos, na muito grande maioria dos casos se lhes fecham fria e inexoravelmente. E também navios de quase todas as nacionalidades se esquivam de recolhê-los. Assim, essas famílias sofrem riscos e tormentos inenarráveis. E muitas acabam perecendo numa desolação fácil de imaginar.

Essas informações, difundidas nos últimos tempos por noticiários jornalísticos esparsos, foram confirmadas por trágicas declarações prestadas em Tóquio pelo conhecido ex-deputado líder da oposição do Vietnã do Sul, Sr. Tran Van Son. Estima ele em 110 mil o número de expatriados vietnamitas que dessa maneira morreram. E admite que apenas 8 mil se tenham salvo. Essas declarações foram reproduzidas em primeira página pelo diário londrino “The Times”, em sua edição de 13 do corrente.

A História registrará um dia com severidade e horror que tenham sido objeto de tal tratamento, em nosso século, famílias que deram prova de elevada dignidade moral e nobre intrepidez, ao preferirem expor sua vida a se sujeitarem ao aviltante jugo do comunismo.

Não há nestes dias exemplo maior do patriotismo e fidelidade a altos ideais.

Bastaria a trágica e imerecida situação em que se encontram esses verdadeiros heróis para documentar  que o terror de desagradar os governos comunistas avassala aquela extensa área, e coíbe a liberdade de movimentos de nações e empresas privadas de navegação que, em condições normais, obviamente agiriam de modo oposto.

Em uma palavra, Senhor Presidente, não há no mundo atual episódio que ponha em jogo direitos humanos mais fundamentais.

Negá-lo importaria em dizer que esses heróicos vietnamitas não tem direitos. Ou que não são homens.

Assim, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a maior entidade civil anticomunista do Brasil, se dirige atenciosamente a Vossa Excelência, como propulsor universal da campanha em favor dos direitos humanos, rogando-lhe que abra com a maior urgência uma eficiente investigação sobre os fatos mencionados, e se dirija aos paises e às empresas de navegação marítima relacionados com o assunto, a fim de lhes dar garantias para que cumpram sem temor de represálias de qualquer natureza as leis internacionais de hospitalidade.

Pedimos também a Vossa Excelência que envie para o local embarcações e aviões que sejam de imediato auxilio para aqueles fugitivos.

Vossa Excelência sentirá, sem dúvida, Senhor Presidente, que a continuação do estado de desamparo em que até aqui se encontram esses nossos gloriosos e infelizes irmãos ameaça por em questão a própria autenticidade da campanha mundial pelos direitos humanos.

Vossa Excelência, Senhor Presidente, tem nas mãos o maior poderio político, militar e econômico do mundo de hoje. Solicitamos-lhe que o use no sentido destes pedidos. Obterá assim as bênçãos de Deus, tão indispensáveis para que toda grandeza seja durável e efetivamente grande.

Neste desejo, reitero a Vossa Excelência os protestos de minha mais alta estima e distinta consideração.

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A S. S. Paulo VI

A SOCIEDADE Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, apresentando a Vossa Santidade as homenagens de seu profundo respeito, solicita, com a devida vênia, sua preciosa atenção para o destino trágico a que estão sujeitas famílias vietnamitas, muitas delas católicas, que fogem da brutal perseguição comunista implantada em sua pátria, aventurando-se pelos mares em embarcações ligeiras e pondo sua esperança no senso de justiça e compaixão dos navegantes que encontrem em sua odisséia.

Os portos de nações próximas, algumas delas ontem ainda aliadas dos fugitivos, na muito grande maioria dos casos se lhes fecham fria e inexoravelmente. Também navios de quase todas as nacionalidades se esquivam de recolhê-los. Assim, essas famílias sofrem riscos e tormentos inenarráveis. E muitas acabam perecendo numa desolação fácil de imaginar.

Estas informações, difundidas nos últimos tempos por noticiários  jornalísticos esparsos, foram confirmadas por trágicas declarações prestadas em Tóquio pelo conhecido ex-deputado líder da oposição no Vietnã do Sul, Sr. Tran van Son. Estima ele em 110 mil o número de expatriados vietnamitas que dessa maneira morreram. E admite que apenas 8 mil deles se tenham salvo. Essa declarações foram reproduzidas em  meia página no diário londrino “The Times” em sua edição de 13 do corrente.

Tendo isso em vista, V. S. não duvidará, por certo, de que a História registrará um dia com severidade e horror que tenham sido objeto de tal tratamento, em nosso século, famílias as quais deram prova de elevada dignidade moral e nobre intrepidez, ao preferirem expor sua vida a se sujeitarem ao aviltante jugo do comunismo.

Não há nestes dias exemplo maior de patriotismo e fidelidade a altos ideais.

Bastaria a trágica e imerecida situação em que se encontram esses  verdadeiros heróis para documentar que o terror de desagradar os governos comunistas avassala aquela extensa área, e coíbe a liberdade de movimentos de nações e empresas privadas de navegação que, em condições normais, obviamente agiriam de modo oposto.

Em uma palavra, Santo Padre, a nosso ver não há no mundo atual episódio que ponha em jogo direitos humanos mais fundamentais.

Negá-lo, V. S. bem o vê, importaria em dizer que esses heróicos vietnamitas não tem direitos. Ou que não são homens.

Sendo o Augusto Trono de São Pedro o mais alto e possante foco de justiça e de caridade entre os homens, para ele se voltam neste momento os olhos aflitos e cheios de esperança das pessoas a quem, no orbe inteiro, essa tragédia confrange. Anima-as o ardente e respeitoso anelo de que V. S. apele para todos os poderes da terra ainda capazes de se condoer com essa situação, e lhes peça que tudo façam em favor daqueles desditosos filhos de V. S.

A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a maior entidade civil anticomunista do Brasil, dirige aqui respeitosamente a V. S. seu apelo nesse sentido, certa de estar interpretando os gerais anseios de todos aqueles para quem as palavras “direitos humanos” tem um elevado conteúdo cristão.

Parece-nos que uma pública intervenção de V. S. estimularia os governos não-comunistas a dar garantias aos paises do Extremo Oriente de que nenhuma represália terão que temer no caso de concederem asilo a estas vítimas da crueldade comunista.

  1. S., que tantas vezes se tem pronunciado sobre os direitos humanos, sentirá, sem dúvida, no seu coração, que a continuação do estado de desamparo em que até aqui se encontram essas gloriosas e infelizes famílias ameaça tornar questionável, aos olhos da opinião pública, a própria autenticidade e eficácia da campanha mundial pelos direitos humanos.

Tais considerações animam nos membros e cooperadores desta Sociedade a convicção de que este apelo não subirá em vão a V. S. E, nessa disposição de alma, desde já pedem que a Providência Divina favoreça e coroe de êxito as medidas que V. S. haja por bem tomar nessa matéria.

Pedindo para a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade e para mim a bênção de Vossa Santidade, subscrevo-me com veneração.

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Ao Presidente Geisel

Com os meus respeitosos comprimentos, peço vênia para enviar a Vossa Excelência, em anexo, uma cópia xerográfica das declarações feitas em Tóquio ao correspondente do jornal londrino “The Times”, pelo ex-deputado e líder da oposição do Vietnã do Sul, Sr. Tran Van Son, acerca da trágica situação em que se encontram dezenas de milhares de famílias de seu país.

No nobre empenho de não se sujeitarem ao aviltante jugo comunista, aceitaram elas o risco de fugir em frágeis embarcações, singrando os mares à procura de navios que as acolhessem, ou portos que se lhes abrissem. Entretanto, na imensa maioria dos casos, os portos se tem mantido inexoravelmente fechados a elas, e os navios de quase todas as nações se tem esquivado de as receber. Estima o Sr. Tran Van Son que oito mil vietnamitas foram, até agora, socorridos e asilados em diversos países, mas que cerca de cento e dez mil deles pereceram.

Estarrecida ante as dolorosas declarações do Sr. Tran Van Son, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade enviará ao Sr. Jimmy Carter, Presidente dos Estados Unidos da América, e a Sua Santidade Paulo VI os telex cujas cópias também junto a este.

Antes de expedir esses telex, permito-me escrever a Vossa Excelência, em nome da entidade de cujo Conselho Nacional tenho a honra de ser Presidente, a fim de atrair para o tema em foco a valiosa atenção de Vossa Excelência.

Todos sabemos o quanto é terna e compassiva a alma dos brasileiros. Estes aplaudirão por certo – e com que entusiasmo – todas as medidas que Vossa Excelência haja por bem tomar, no plano diplomático, como no do urgente envio de mantimentos e socorros, em favor daquelas desventuradas famílias.

Ademais, Senhor Presidente, proponho que Vossa Excelência declare aos Governos relacionados com o assunto estar o território nacional aberto para acolher essas infelizes vitimas. Deus nos deu uma extensão geográfica de amplitude continental, não só para o bem de nossos corpos, isto é, para dele tirarmos o nosso sustento, mas ainda para o bem de nossas almas, ou seja, para que generosamente façamos participar de nossas riquezas os nossos irmãos. E, dentre estes, os que, segundo a expressão do Evangelho, “sofrem perseguição por amor à justiça”.

Compreendo bem que o afluxo de numerosos refugiados vietnamitas a nosso País possa acarretar problemas e gastos. Porém, estou certo de que a população de bom grado se disporá a ajudar os cofres públicos em tal emergência.

São esses os pedidos que, em favor dos vietnamitas vítimas do comunismo, faço a Vossa Excelência.

Em um momento, Senhor Presidente, em que, com propósito e, não raras vezes, fora de propósito tanto se fala de direitos humanos, parece-me que a alta intervenção de nosso Governo a bem desses fugitivos brutalmente feridos precisamente em todos os seus direitos humanos bem mostraria de que maneira o Brasil entende esses direitos. E contribuiria para fazer sentir aos mais altos poderes espirituais e políticos da terra, que, a serem abandonadas pelas nações livres essas infelizes e gloriosas vítimas do comunismo, a própria autenticidade da campanha universal por tais direitos se tornará discutível aos olhos da opinião internacional.

O Brasil dispõe hoje de um conceito mundial que garante peso e repercussão gerais a seu pronunciamento sobre o que ocorre em qualquer parte do orbe. Quer-me parecer, Senhor Presidente, que uma intervenção direta de Vossa Excelência no assunto será registrada pela História como um belo e glorioso lance de sua atuação à testa do País.

Agradecendo desde já a atenção que Vossa Excelência der a este ofício, apresento a Vossa Excelência as expressões de meu subido apreço e elevada consideração.

Ofício análogo foi também enviado pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, ao Sr. Antonio Azeredo da Silveira, Ministro do Exterior.

 

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