Folha de S. Paulo, 25 de novembro de 1984
NA MANHÃ DE HOJE, quatro investigadores, transportados por um vistoso veículo da Polícia Civil, estiveram na sede da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), localizada à Rua D. Domingos de Sillos, 238, e pediram para investigar se ali estaria sequestrada uma menor de idade, conforme denúncia de familiares. Foram-lhes franqueados todos os edifícios da referida sede, que visitaram do modo mais pormenorizado. E, evidentemente, nada encontraram.
A TFP comunica ao público o insólito fato pela significativa conexão que ele apresenta com outros, que vêm se desenrolando na América do Sul.
Um estrondo publicitário veiculou contra a TFP, na Venezuela, as difamações e calúnias mais torpes e inverossímeis. Preparou ele, assim, o ambiente para o decreto flagrante, e até escandalosamente ilegal, que proibiu as atividades da Associação Civil Resistência, coirmã autônoma das várias TFPs. Previamente ao estrondo, o primeiro ato dessa perseguição começou — é muito de se notar — pela invasão policial da sede da entidade, com base em denúncia de que ali se encontravam menores de idade que estariam proibidos pelos respectivos pais de frequentar o local. Examinada toda a sede os policiais nada encontraram, do que aliás deram testemunho escrito. “Menti, menti, alguma coisa sempre ficará”, dizia Voltaire. E com quanta razão! Começava assim na Venezuela, com o emprego da bem conhecida técnica das denúncias falsas, a preparação do ambiente para o estrondo publicitário. E daí o resto…
Há poucos dias um tendencioso noticiário de uma TV de Bogotá sobre o que ocorrera na Venezuela, dava o primeiro sinal de que algo de análogo começava na Colômbia. Um ou dois dias depois, a TFP daquele país recebeu na sua sede de Bogotá uma sintomática informação. Uma respeitável mãe de família daquela cidade tem um filho que, com toda a anuência dela, frequentou alguns anos a sede local. Entretanto, o jovem preferiu retirar-se da TFP e passou a frequentar outras rodas de amigos. Há seis meses esse jovem, que viajara para outra cidade, deveria ter regressado para casa, o que entretanto não aconteceu. É fácil imaginar o sobressalto da pobre mãe. Há cerca de 15 dias, ela começou a receber telefonemas anônimos dizendo-lhe que procurasse o filho na sede da TFP, pois ali estava ele sequestrado. Percebe-se a sequência desejada pelas pessoas anônimas: denúncia à polícia, varejamento da sede, estrondo publicitário etc.
Os urdidores da trama hão de ter ficado desapontados. A aflita mãe teve bastante bom senso para repudiar com energia a denúncia vil, e por isto telefonou em seguida para a sede da TFP, para que esta se precavesse contra o embuste.
Não é de espantar que as mesmas pessoas que ligaram para essa mãe, procurem outras que tenham colocado anúncio nos jornais por causa de desaparecidos.
Talvez pelo fracasso dessa tentativa, os empreiteiros da demolição anti-TFP parecem ter lançado mão de outro recurso. Na sexta-feira à tarde manifestou-se em Bogotá o rumor de que Sua Eminência o Cardeal-Arcebispo Lopez Trujillo faria declarações sobre a TFP pela televisão. E presumivelmente desfavoráveis, se bem que seja ele de uma linha de direita extremamente moderada. De fato, nesse dia Sua Eminência não falou pela TV. Ignoramos se ainda o fará. Caso isto aconteça será inteiramente segundo a técnica seguida na vizinha Venezuela: preparar o terreno para o dilúvio de calúnias, sobressaltando no público sentimentos respeitáveis: o amor materno na Venezuela, o acatamento à autoridade eclesiástica na Colômbia.
No Equador, o estrondo também parece ter começado hoje. Mas — é preciso que se diga — bem mais sem-cerimônia. Jornais da esquerda, recentemente derrotada nas eleições presidenciais, começaram a uivar diretamente pedindo ao governo o fechamento da TFP local. Tal é a autenticidade democrática de certas esquerdas.
Seria infantil imaginar que as pessoas envolvidas diretamente em todos esses primeiros lances acusatórios agem necessariamente de má fé, e movidas de modo consciente pela força internacional que delas tira proveito simultâneo, em lugares tão diversos, e para um só fim. Todos sabem o papel dos “inocentes-úteis” na trama comunista mundial. Denunciando à opinião pública brasileira esses fatos, a TFP tem em vista proporcionar-lhe o meio de concatenar outras ocorrências — aparentemente desconexas entre si — as quais muito provavelmente se seguirão aos episódios de hoje.
Sobretudo fica neste comunicado um brado de alerta. Se o comunismo internacional opera agora no sentido de montar suas urdiduras contra as TFPs na América do Sul, tal se dá porque ele quer eliminar um anteparo para as investidas dele contra a civilização cristã.
No grande público, quem se manifestar receptivo ou simpático para as calúnias e tramas que assim se preparam, colaborará para destruir o anteparo e abrir o caminho ao adversário.
Quem, pelo contrário, se mostrar sereno, sagaz e insensível ao estrondo e às febricitações psicológicas de que este se faz acompanhar, terá prestado um valioso apoio à defesa do Brasil e da civilização cristã contra o comunismo.
Nossa Senhora Aparecida proteja o Brasil!
São Paulo, 23 de novembro de 1984
Paulo Corrêa de Brito Filho
Diretor de Imprensa da TFP
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade