Serviço de Imprensa da TFP, 12 de abril de 1993
Se há um denominador comum no acontecer da vida pública e privada de tantas nações hoje em dia, pode-se dizer que esse é o caos. As perspectivas caóticas parecem repetir-se a si próprias e, cada vez mais, caminha-se nas vias do caos ninguém sabe bem até onde.
As forças enigmáticas do caos produzem explosões, erupções que dão a impressão de que o mundo vai rachar. Os otimistas, os idiotas – releve-me o leitor o pleonasmo – assustam-se pouco, por julgar que tudo “voltará como dantes no quartel de Abrantes”. Os que se têm em conta de clarividentes se alarmam, achando que logo o mundo “virará de pernas para o ar”. Mas, eles também se enganam, pois “plus ça change, plus c’est la même chose” – quanto mais isso muda, mais permanece na mesma…
Com efeito, o processo caótico que todos presenciamos e padecemos, por assim dizer, move-se na imobilidade. Daqui, dali, de acolá são desavenças que se manifestam, situações tão tensas e críticas, que se diria que uma guerra mundial arrebenta a qualquer momento em algum lugar. Entretanto, nesse gira-gira do caos as situações terminam ficando imóveis.
Ora, precisamente essa imobilidade fixa da mobilidade contínua, das situações que não melhoram, nem pioram, constitui o próprio drama em que, mais e mais, um número crescente de países se vai imergindo.
É uma espécie de AIDS psico-social que se espalha pelo mundo inteiro: essa doença não mata, mas debilita tudo quanto possa haver de sadio e orgânico no interior das nações.
Acovardado diante da multiplicação das catástrofes e ruínas morais e materiais, o homem de hoje se acocora lamentando: “a quebradeira é a regra da vida e a ela todos têm de se sujeitar. Tudo quebra e nada tem significado. As coisas não significam mais nada!”
Do fundo de todo esse panorama, parece projetar-se a seguinte mensagem: “Habitua-te e compreende que nada tem mais razão de ser! A razão humana está extinta e nada mais se passará razoavelmente, nunca mais! Mas isto não te será dito explicitamente: o operar dos acontecimentos mundiais será cada vez mais absurdo e desarrazoado. E todos hão de se habituar à idéia de que o absurdo assumiu o cetro do mundo!”
Essa parece ser a presente mensagem dos fatos: “Razão humana, retira-te! Pensamento humano, emudece! Homem, não reflete mais, e como um animal deixa-te levar de roldão pelos acontecimentos”…
E, do mais recôndito desse abismo é dado ao católico discernir as fulgurações enganosas, o cântico ao mesmo tempo sinistro e atraente, emoliente e delirante daquele ente abjeto que é como que a personificação da ilogicidade, do absurdo, da revolta estapafúrdia e cheia de ódio contra o Onipotente sapientíssimo: o demônio. Pai do mal, do erro e da mentira, ele geme e estertora desesperado, bradando o seu eterno e nefando grito de revolta: “Non serviam” – Não servirei!
São essas perspectivas sobre as quais podem e devem discutir os teólogos. Os teólogos verdadeiros, é claro, ou seja, os poucos dentre eles que ainda crêem na existência do demônio e do Inferno.