D. Geraldo Sigaud e a TFP
Comunicado de imprensa
|
|
Catolicismo, N° 239, Novembro de 1970, pag. 8
No dia 2 de outubro p.p., à saída de uma audiência com o Presidente da República [General Emilio Garrastazu Médici, n.d.c.], no Rio, o Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, fez declarações à imprensa a respeito da sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. Essas declarações foram amplamente divulgadas pelos jornais diários, de norte a sul do País, tendo certo número destes armado um verdadeiro alarido publicitário em torno das palavras do Prelado mineiro. Transcrevemos de um matutino de São Paulo, para conhecimento de nossos leitores, o resumo da entrevista de D. Geraldo Sigaud: “Após ser recebido ontem em audiência pelo General Médici, o Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, informou que a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) afastou-se dele há mais de dois anos. A cisão, disse, foi conseqüência de seu apoio à reforma agrária do governo, que considera justa e cristã, e à reforma litúrgica determinada pela Santa Sé. Embora lamentando a dissensão, asseverou que, por um problema de consciência, não podia deixar de ajudar o governo ou ser contra o Papa”. Comunicado de imprensa da TFPA propósito dessas declarações, o Serviço de Imprensa da TFP distribuiu no dia 7 o seguinte comunicado: “A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, tendo em vista o alarido publicitário feito por certa imprensa em torno de recentes declarações do Sr. Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, julga indispensável prestar ao público os seguintes esclarecimentos: • 1 — A atitude dos dirigentes da entidade face ao problema da reforma agrária está consubstanciada no livro “Reforma Agrária — Questão de Consciência” e na “Declaração do Morro Alto”. O Sr. Arcebispo de Diamantina, que figura como um dos autores dessas duas obras, mudou de opinião. A TFP deplora o fato, porém se conserva inabalavelmente fiel à posição assumida. • 2 — Afirmou aquele Prelado haver adotado sua nova atitude face à reforma agrária, porque “não podia deixar de ajudar o Governo”. Tal afirmação, feita à imprensa no momento em que o Sr. D. Geraldo Sigaud acabava de ser recebido pelo Exmo. Sr General Emilio Garrastazu Médici, Presidente da República, pode talvez criar a impressão de que a atitude antiagroreformista da TFP tem um sentido de oposição ao Governo atual. A esse respeito, a TFP lembra ao público que o livro “Reforma Agrária — Questão de Consciência” foi dado a lume em novembro de 1960, e a “Declaração do Morro Alto” em novembro de 1964, isto é, muito anteriormente à ascensão do atual Governo. O fato de continuar a TFP fiel a suas posições não tem qualquer sentido de oposição ao Governo. Resulta apenas de um imperativo de consciência. Assim agindo, a TFP tem a certeza de não entrar em choque com o atual regime, já que, segundo declarou recentemente à imprensa londrina o Sr Ministro da Justiça, Prof. Alfredo Buzaid, no Brasil ninguém sofre perseguição nem pressão por suas convicções políticas, e existe até um partido oposicionista, que “pode criticar o Governo, e de fato o faz”. Importa acrescentar, por fim — e para evitar explorações — que de há muito a TFP não tem mais feito campanha contra a reforma agrária, por não julgar necessário. • 3 — No que concerne às reformas litúrgicas, é bem certo que algumas delas causaram perplexidade aos membros da TFP. E não só a eles, como a Bispos e teólogos de valor, que as estão estudando, e sobre elas desejam um diálogo esclarecedor. Entretanto, a TFP timbra em afirmar que tal atitude não importa em qualquer transgressão das leis da Igreja no tocante à submissão devida pelos fiéis ao Sumo Pontífice. • 4 — O Sr. D. Geraldo Sigaud tem razão ao afirmar que a reforma agrária e as reformas litúrgicas foram causas de distanciamento entre ele e a TFP. O Sr. Arcebispo de Diamantina poderia ter acrescentado a estas uma terceira causa. É que, a partir de 1969, S. Excia. começou a se manifestar favorável à abolição do celibato eclesiástico, pelo menos em certos casos. Essa mudança de opinião lhe valeu, segundo consta, um abraço de felicitação de D. Helder. Pelo contrário, os membros da TFP se mantêm firmemente ao lado da legislação canônica atual, que estabelece a necessidade do celibato na Igreja latina para todos os clérigos. • 5 — Dada a consideração que tem ao Sr. D. Geraldo de Proença Sigaud, bem como à longa e íntima cooperação que com ele manteve, a TFP evitou quanto esteve em seus meios, de dar ao conhecimento público estes fatos. Pesarosa, fá-lo agora, pois a isto foi obrigada pela necessidade de impedir que paire qualquer sombra de dúvida sobre a inteira correção de suas atitudes face às leis civis e eclesiásticas”. |