Plinio Corrêa de Oliveira
Cortesia e o quadro milagroso de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano
Santo do Dia, sábado, 29 de junho de 1974
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A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito: “Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959. |
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(Se o seu browser não consegue visualizar a imagem abaixo, clique em https://gloria.tv/media/jFm4L6Bcpwk para ouvir a gravação original) Eu recebi aqui algumas perguntas a respeito do assunto cortesia. São sete perguntas ao todo e vou passar a tratar delas agora com os srs. (Aparte: o sr. já respondeu a primeira) Está bem. Então, a segunda: “O sr. poderia comentar, no quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, a intimidade e a gentileza do Menino Jesus para com Nossa Senhora?” Ah, por isso está aqui o quadro. Para fazer o comentário bem feito, eu preciso olhar para o quadro. Não se levantem. Queiram sentar-se, faz favor. Vamos primeiro desembaraçar o quadro de todas as impressões que não dizem respeito. É um modo que a gente tem de ordenar as impressões, é primeiro não comentar o que vem ao caso, depois comentar o que vem ao caso. Os srs. estão vendo que se trata de Nossa Senhora como Rainha. Há uma coroa aqui de pedras preciosas, outra coroa do Menino Jesus, que não são propriamente do quadro. São jóias que foram presas ao quadro posteriormente, em razão dos grandes milagres e graças de que o quadro em Genazzano tem sido ocasião. Os srs. também percebem aqui os colares de pérolas que estão suspensos ao quadro, alguns adornos que dão uma idéia oriental, uma espécie de meia lua aqui, que são coisas muito legítimas, muito boas, mas das quais nós podemos abstrair para compreendermos bem o quadro em si mesmo como pintura. A figura mais expressiva nesse quadro é Nossa Senhora: distendida e degustando o contato de alma com o Menino Jesus No quadro, os srs. percebem que há uma coerência admirável na figura mais expressiva – porque o Menino Jesus é menos expressivo no quadro do que Nossa Senhora – na figura mais expressiva que é Nossa Senhora. O que que há de interessante na figura de Nossa Senhora? A fisionomia dEla está completamente distendida. Os srs. não notam um músculo que esteja contraído, que indique qualquer impressão senão a sensação de satisfação de estar com o Menino. Ela está toda voltada para a idéia de que Ela está com o Menino Jesus nos braços, e só está pensando no Menino Jesus. Não tem outra preocupação, o mundo inteiro não existe para Ela, existe apenas o Menino Jesus. O curioso é que Ela não está olhando propriamente para Ele. Ela está olhando para quem reza. Mas a gente percebe que o fato de a face dEla tocar na fronte dEle e na face dEle faz com que Ela tenha uma espécie de degustação da presença dEle; que aquele tocar dEla nEle dá nEla uma espécie de degustação, de alegria daquele contato do corpo que é sobretudo um contato de alma. E que Ela está tendo com Ele um contato de alma muito íntimo e que deixa a Ela cheia de satisfação. Esse contato, entretanto, é um contato habitual. Não é um contato que seja de surpreender, não é um êxtase nem nada desse gênero. É uma impressão, é uma sensação como toda mãe tem com seu filho. Quando ela está intimamente com seu filho, ela tem momentos em que o amor materno se abre mais, floresce mais, e nesses momentos o seu carinho se expande. Nossa Senhora é apresentada dessa maneira aqui. E a bondade, a ternura dEla para com o Filho, a proteção, se fazem notar muito na posição do pescoço e da cabeça. Não sei se os srs. vêem de longe que o Menino está suspenso nEla e que A agarra pelo pescoço, a ponta da mão aparece aqui por detrás. E explica que Ela esteja com o pescoço ligeiramente inclinado pelo peso dEle. A intimidade dEle com Ela é extraordinária. Ele A agarra como a uma Coisa que está habituadíssimo a agarrar. E Ela se deixa agarrar, como quem já foi agarrada mil vezes. E até acha agradável de Se sentir curvada diante de um peso tão suave para Ela, tão doce para Ela, tão deleitável. O Menino tem um pouco… o Menino não está propriamente com medo, mas Ele está meio agarrado a Ela, também Ele como que não quer saber nada do mundo de fora. Ele está todo para Ela, como Ela está toda para Ele. Ele só está na alegria de estar ligado à Mãe dEle, mais nada. E na alegria de Se sentir protegido, de Se sentir unido a Ela. Nenhum dos dois pensa nem cogita em nada, nem nota nada. Os srs. olhem para essa Criança: não está pensando em bola, não está pensando em doce, não está pensando em nada, está pensando apenas: – “Mamãe”. E a Mãe está pensando apenas: – “Meu Filho”! Na expressão do Menino Deus: sensação de domínio. Em Nossa Senhora, a de veneração Aí os srs. percebem entretanto uma coisa curiosa. É que na expressão dEle existe – apesar dEle ser Menino, e é uma delicadeza do quadro – existe uma sensação de domínio. Ele segura nEla, está contente e protegido, mas Ele é um pouco “doninho” dEla. Enquanto nEla existe uma veneração, um respeito, parece que Ela está procurando escutar o que se dá dentro dEle, o que é que… se sai uma palavra desse sacrário que Ela tem nos braços. E quando a gente presta atenção, a gente vê o seguinte: Ela está rezando para Ele. Essa posição da cabeça, essa atitude é de quem ausculta, e no fundo está numa espécie de prece. Não pedindo algo, mas fazendo uma contemplação, uma contemplação da pessoa dEle, querendo tomar contato com a pessoa dEle. É propriamente isso que está, é uma meditação, uma contemplação muito alta. Ele está nessa intimidade com Ela, mas os olhos dEle vão para cima. Enquanto os olhos dEla vão para baixo; os olhos dEle vão para cima, os olhos dEle vão para Deus. É a idéia da mediação: Ela olha para Ele e Ele olha para Deus, nós olhamos para Ela, Ela olha para Ele e Ele olha para Deus. O quadro tem a doutrina católica suavissimamente expressa Os srs. não acham bonito que tanta doutrina tenha sido posta tão delicadamente nesse quadro, que nem se sabe o que dizer? Bem, notem outra coisa. O olhar dEla é um olhar curiosamente bivalente. Não é verdade que Ela está olhando para Ele? Mas não é verdade que Ela está olhando para quem olha para o quadro? A gente se sente meio olhado por Ela quando olha para o quadro. E é bem o papel dEla. Ela é nossa Medianeira: Ela recebe nossa oração, Ela transmite para Ele e Ele transmite para Deus. Ele é Deus e transmite a nossa oração às outras Pessoas da Santíssima Trindade. De maneira que os srs. têm a doutrina católica suavissimamente expressa, sem essa precisão dogmática que é própria à Teologia, mas com essa suavidade e com esse subentendido, que é próprio à arte. Porque é agradável adivinhar isso no quadro, sem que se veja à primeira vista. Os srs. não estão achando mais interessante os srs. descobrirem quando uma pessoa lhes mostra, do que estar escrito embaixo: “Mediação universal”? Quer dizer, a coisa que se insinua, é dada a entender de leve, que não está afirmada de modo “tranchant” (ostensivamente categórico, n.d.c.), mas que a pessoa vai assim descobrindo como atrás de um aroma delicado; essa coisa da arte tem um certo encanto. Para a arte, às vezes um certo mistério aumenta o atrativo. E aqui os srs. têm então esse mistério. Quem olha o quadro, sente-se mais do que se fosse um filho adotado Uma outra coisa curiosa é o seguinte: toda intimidade é uma coisa fechada, exclui. O pintor soube fazer – aliás, a meu ver, esse quadro foi pintado por Anjo – o pintor soube, a meu ver, criar uma coisa curiosa, que é uma intimidade aberta. A gente tem a impressão de que a gente chegando perto, entra no circuito dessa intimidade: que é amado por Ela, é amado por Ele, é entendido pelos dois e que os dois socorrem a pessoa que se aproxima. Qualquer um que se aproxima desse quadro pode sentir-se íntimo, pode sentir o aconchego da presença do quadro. Seja uma alma reta, seja um pecador, seja até um inimigo, se se aproxima sente esse aconchego. Outra coisa curiosa é o seguinte: Nossa Senhora aqui está sorrindo? Olhando para os lábios, não. Não sei se os srs. notam que há qualquer coisa de ligeiramente risonho, um ligeiro sorriso indefinido, espalhado por todo o rosto. Que é um certo comprazimento para com o Filho, mas de outro lado também é um comprazimento para com o devoto, com o fiel que chega ali perto, filho dEla como esse Outro. O que está insinuado, aqui no quadro, é que quem olha para o quadro é também filho, é também irmão do Menino Jesus, é também filho dEla. Esse quadro se poderia chamar “Adoção”, porque a gente se sente filho adotivo, ou mais até do que adotivo, simplesmente aproximando-se do quadro. Isso é o que me parece que é o que o quadro tem de mais interessante. Nossa Senhora trata o Menino Jesus com a mesma cortesia duma Rainha Agora eu pergunto o seguinte: o quadro é de uma Rainha? Façam abstração da coroa. Não há nada que indique uma pessoa de alta categoria social, não há também nada que indique uma pessoa de categoria social modesta, nem média. Está à margem das categorias sociais, não tem categoria social. Está bem, apesar disso, há qualquer coisa nEla de Rainha, porque é sumamente venerável, sumamente respeitável! A gente abrindo a boca para dizer uma palavra, a gente teria vontade de se ajoelhar. Por que? Tão ordenada, tudo tão direito dentro dEla, que qualquer palavra que partisse dEla seria uma palavra de sabedoria, uma palavra de santidade. A gente quase que imagina o timbre dessa voz. Seria um ensinamento. A gente teria vontade imediatamente de se ajoelhar. Foram todas essas as riquezas que foram postas nesse quadro. Para tratar da cortesia: Nossa Senhora está cortês com o Menino Jesus aí? Eu diria que sumamente cortês. Os srs. notem que, apesar de toda a intimidade dEla, com que respeito Ela está com Ele! É um enorme respeito, é uma veneração. Mas, de outro lado, muito íntima. Mas os srs. notem Ele com Ela também, com que respeito, como Ele está direitinho, nada está errado, nada está como não deve ser. Ele tem a sensação da sacralidade dos braços onde Ele está. Quer dizer, um menino numa igreja rezando, dessa idade, não podia ter uma atitude mais cheia de respeito do que essa. Aí os srs. têm então uma verdadeira obra de cortesia e de arte. Onde é que está a cortesia aí? Os três elementos da cortesia estão presentes aí. Os srs. têm o respeito mútuo, que é um elemento; os srs. têm o amor mútuo, que é o outro elemento; e como reflexo do respeito mútuo e do amor mútuo, um modo de tratar que deixa transluzir o bem estar de estar ligado a algo de mais alto. E ao mesmo tempo um sorriso, por estar ligado a algo que se quer muito. Esta é uma das definições da cortesia. Aí estaria a cortesia no quadro de Nossa Senhora de Genazzano. |