Não adianta falar nem de ONU nem de paz, num mundo onde o homem é um lobo para outro homem!

Trecho de memorável discurso proferido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em Campos (Rio de Janeiro, a 20-5-1973), por ocasião do Jubileu episcopal de D. Antonio de Castro Mayer. Para a íntegra de tal discurso, clique aqui.

Santo Agostinho viveu numa época que não deixava de ter analogia impressionantes com a nossa. Porque – se nós temos hoje, golpeando nos limites da Civilização Ocidental, o monstro comunista, a barbárie comunista, disposta a nos devorar – Santo Agostinho tinha, nos tempos dele, a ameaça dos Vândalos. Bárbaros que tinham transposto o Danúbio e o Reno, tinham invadido a Europa, tinham passado pelo Estreito de Gibraltar, tinham entrado pela África e ameaçavam, de próximo em próximo, até a pequena cidade de Hipona onde luzia o seu grande talento episcopal.

Santo Agostinho, diante dessa ameaça de bárbaros de um lado; e diante de outro espetáculo muito do século XX, [de] uma civilização moralmente decadente e que cochilava, intoxicada sobre as próprias riquezas em que ela se viciara – Santo Agostinho fazia esta pergunta: o que seria do mundo – do mundo bárbaro como do mundo cristianizado dos romanos, o que seria de um e de outro mundo – se todo o mundo praticasse a lei de Deus, se fossem [todos] católicos e os súditos; católicos, mas como se deve ser católico e não apenas da boca para fora; católicos os mestres de alunos, católicos os pais e os filhos, católicos os que dirigem as tropas, católicos os que são os soldados das tropas, católicos os que cobram os impostos, católicos os que pagam os impostos, católicos os que possuem os bens, católicos os que cumprem o trabalho.

O que seria de uma civilização assim? E ele dava esta resposta, que é intuitiva para todos nós: esta civilização alçaria rapidamente à plenitude de seu apogeu. Tudo quanto nas condições daquela época se poderia esperar do gênero humano, isto, o gênero humano daria.

Razão fácil de compreender. Os dez Mandamentos – explica-nos São Tomás de Aquino – os dez Mandamentos são a própria lei natural; são revelados por Deus para confirmar os homens nas incertezas de seu engenho. Os dez Mandamentos são os pontos fundamentais de toda a ordem que deve existir no mundo. Se o mundo cumprir os dez Mandamentos ele terá paz, terá uma prosperidade – que não significará vício, mas significará glória – e caminhará para a sabedoria e para nobreza. Se o mundo abandonar esses dez Mandamentos, ele pode fazer tratados, pode construir instituições, ele pode jurar paz, ele pode descobrir elementos de união magníficos entre os homens – como são, por exemplo, as facilidades de comunicação –, ele pode fazer o que quiser; ele acabará se precipitando na voragem de todas as crises.

Porque o homem – ensina Santo Agostinho – não é capaz de amar outro homem. Ele só ama a Deus ou só ama a si mesmo. E só é capaz de amar outro homem quando ele ama outro homem por amor de Deus. Tirai o amor de Deus da Terra, vós tereis tirado os Mandamentos da Terra. Tirai os Mandamentos da Terra, e a velha e surrada expressão de Plauto se tornará verdadeira:Homo homni lupus – o homem se transformará num lobo para outro homem”. Não adianta falar nem de ONU nem de paz, num mundo onde o homem é um lobo para outro homem. (Aplausos).

A guerra é a condição natural do homem egoísta que se choca com outro homem egoísta. E as maiores civilizações, no ambiente do egoísmo e do neopaganismo, servirão sobretudo para engendrar as maiores guerras. E é por isso que nós entramos no ciclo trágico das guerras mundiais: a primeira, a segunda e o espectro da terceira que ronda diante de nós.

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