Santo do Dia, 27 de novembro de 1963
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Neste dia Nossa Senhora apareceu à Santa Catarina Labouré, em Paris, e revelou-lhe o desenho da Medalha Milagrosa, cujo primeiro grande milagre foi a conversão, em articulo mortis, de um bispo juramentado.
Na Medalha Milagrosa figura uma imagem de Nossa Senhora das Graças, como apareceu a Santa Catarina Labouré com as mãos emitindo raios. Essa devoção – a Nossa Senhora das Graças – marcou uma verdadeira renovação da devoção a Nossa Senhora, na Europa.
A devoção a Nossa Senhora tinha sido profundamente corroída pelo jansenismo, e apesar de que este se encontrasse meio moribundo por volta de 1830, quando houve a aparição de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré) é porque outras formas mais radicais da Revolução o tinham substituído. Mas a devoção a Nossa Senhora deixava muito a desejar. Creio que se pode afirmar, a respeito dessa aparição, que foi o primeiro grande passo para a re-marianização do século XIX, preparando o grande movimento de almas que culminou com o dogma da Imaculada Conceição.
As graças que se propagaram por toda a Igreja com o uso da Medalha Milagrosa foram assombrosas. Passou a ser clássico colocar-se uma Medalha Milagrosa ao pescoço, ou no peito de um doente impenitente, fazendo novenas e as orações prescritas por Nossa Senhora, e era quase certo que a pessoa se converteria. Isso além de outras graças que Nossa Senhora começou a dispensar ao mundo por meio dessa devoção.
Por outro lado, essa mesma prática era também vinculada a outras duas devoções muito importantes, e que sofreram tentativas jansenistas para ser sepultadas: ao Sagrado Coração de Deus e ao Imaculado Coração de Maria. Todos se lembram daquele Scipione de’ Ricci [1741-1810], bispo de Florença que no pontificado de Pio VI, portanto antes da Revolução Francesa, tinha em seu palácio episcopal um quadro que mandara pintar representando a si próprio rasgando uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Todos se lembram da recusa à devoção ao Sagrado Coração de Jesus, pela Casa dos Bourbons, razão pela qual essa mesma devoção não pode espalhar-se antes da Revolução, como deveria.
No verso da medalha, Nossa Senhora manda por um M, que é seu santíssimo Nome e na base os corações de Jesus e de Maria, vinculando assim essas três devoções de tanta significação, e tão odiadas pelos jansenistas.
Nossa Senhora das Graças presidiu também a um fato que tem muita relação conosco: a conversão do judeu Alphonse Ratisbonne. O que ele viu, na famosa aparição, foi Nossa Senhora das Graças. E Nossa Senhora do Miracolo, que cultuamos, é Nossa Senhora das Graças aparecida com aqueles atributos, em Roma, ao Ratisbonne. Foi ali que obtivemos graças muito grandes durante a viagem que fizemos na época do Concílio [1962], e que vincularam a igreja da Madonna del Miracolo à nossa própria história.
A devoção a Nossa Senhora das Graças foi, por sua vez, objeto da ofensiva anti-mariana, que foi delineada depois. Como todo movimento de piedade do século XIX, continuou mais ou menos, até aparecer, em 1920 e poucos, no pontificado de Pio XI, o movimento litúrgico. Era o modernismo ressurrecto e começa então a campanha de silêncio sobre a devoção a Nossa Senhora e todas as mil formas de devoção a Ela. E com isso caiu muito a devoção à Medalha Milagrosa, como também a devoção dos fiéis ao Sagrado Coração de Jesus, ao Imaculado Coração de Maria e a devoção a Santa Teresinha do Menino Jesus (distinta dessas, mas que entra numa mesma perspectiva espiritual). E tudo isso é, exatamente a eclosão do estupendo movimento ultramontano na ordem filosófica, política e social, movimento marial e propugnador da infalibilidade pontifícia, de devoção aos Sagrados Corações, no século passado. Tudo isso consistiu numa Contra-Revolução comandada por Pio IX, e depois levada adiante por São Pio X.
Igreja de S. Andrea delle Fratte, Santuario Madonna del Miracolo, nas proximidades da Piazza di Spagna, em Roma