Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir (25/11)

Santo do Dia, 24 de novembro de 1965

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Santa Catarina de Alexandria (287-305)

Hoje é festa de são João, Confessor e Doutor da Igreja, reformador da Ordem do Carmo. Século XVI. Amanhã será festa de Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir.

Sobre a morte da Santa Catarina, o Abbé Daras, na “Vida dos Santos”, tem essa narração:

“Maximiliano, imperador, ordenou a morte de santa Catarina. Foi ela conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte. A virgem caminhava com grande calma. Antes de morrer, fez a seguinte oração: `Senhor Jesus Cristo, meu Deus, eu vos agradeço terdes firmado meus pés sobre o rochedo da fé e de terdes dirigido meus passos na vida na via da salvação. Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz, para receber minha alma, que eu sacrifico à glória de Vosso Nome. Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e sangue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância e lavai minha alma no sangue que vou derramar por Vós. Não deixeis meu corpo martirizado por vosso amor em poder dos que me odeiam. Baixai vosso olhar sobre esse povo e dai-lhe o conhecimento da verdade. Enfim, Senhor, ouvi, em vossa infinita misericórdia, aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que Vosso Nome seja para sempre bendito’.

“Em seguida, mandou que os soldados cumprissem as ordens e sua cabeça foi decepada de um só golpe. Era o dia 25 de novembro. Numerosos milagres logo foram constatados. Os Anjos, como ela o desejara, transportaram seu corpo para a santa montanha do Sinai, a fim de que repousasse onde Deus escrevera sobre pedra sua Lei, que ela guardava tão fielmente escrita em seu coração”.

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Isso é um dos trechos de uma tal elevação que a gente lamenta ter que comentá-lo. Ficaria mais satisfeito deixando assim o texto brilhando no céu, no horizonte, suspenso, sem apoio nenhum na realidade, emitindo luzes… Mas já que é preciso comentar, vamos aos pormenores.

Ela foi conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte”.

O comentário é baixa de nível, mas se os senhores pensarem que são sobretudo as senhoras de alta condição que constituem a camada dos caluniadores contra os bons, os senhores veem como as situações têm mudado… De outro lado, o que ainda tem de possibilidades um país aonde as senhoras de alta condição acompanham, ao lugar do suplício, solidarizando-se com ela, chorando junto com ela, uma mártir que foi fulminada pela cólera do imperador. Um imperador onipotente, que pode mandar matar todos aqueles que se desagradarem de alguma atitude dele. Entretanto, essas damas vão todas, com santa Catarina, e vão chorando…

O bonito – para verem a diversidade dos dons do Espírito Santo e dos efeitos da graça -, o bonito é que elas vão chorando e é bom que elas vão chorando. Mas contrasta, pela sublimidade, com isso, com esse dom das lágrimas que as mulheres tiveram nesse momento, o fato de que Santa Catarina não chorava. Ela permanecia quieta, e com uma grande calma. Ela caminhava de encontro à morte, inundada de graças do Espírito Santo de outra natureza, por onde ela não chorava para si aquilo que a graça queria que as outras chorassem para ela. E como deveria ser impressionante esse cortejo de damas, andando, no meio dos soldados, e ela no meio, a única calma, a aconselhar a todas que tivessem tranquilidade, que tivessem consolação, até chegar o momento em que ela devia morrer…

Aí, no fim da vida, ela faz uma oração, que é muito bonita e com aquela forma especial de beleza que tem certas coisas muito bonitas, quando não são inteiramente consequentes na sua lógica. São um conjunto de afirmações que são como raios de luz, que procedem de um mesmo foco, mas que brilham com uma beleza própria no horizonte. Então, os senhores veem aqui a ideia dela:

Senhor Jesus Cristo, meu Deus”: é para afirmar que Ele era o Deus dela e que não reconhecia outro Deus, se não Ele. Então, a primeira coisa que ela diz, no momento de morrer, a primeira graça, a primeira palavra, o primeiro pensamento dela qual é?

É para essa primeira graça: “Eu vos agradeço por terdes firmado meus pés sobre os rochedos da fé, e terdes dirigido meus passos na via da salvação”.

Quer dizer, eu Vos agradeço de ter pertencido a Vós. Vós que sois a fonte de minha salvação, Vós que sois o ponto de partida de todo bem que pode haver em mim, Vós que, eu sou boa porque Vós sois bom e porque Vós me destes o ser boa; eu Vos agradeço a fé que me destes e a firmeza que me destes na fé; eu Vos agradeço o amor à virtude que me destes e a firmeza que Vós me destes no amor à virtude. É esse o primeiro dom que Vos agradeço, reconhecendo que tudo que em mim há, à vossa iniciativa eu devo.

“Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz para receber minha alma que eu sacrifico à glória de Vosso Nome”.

Pode haver uma coisa mais bonita do que isso? O Divino crucificado, com os braços todos sangrando, que os desprende da cruz para receber a alma dela que sai também inundada do sangue do martírio, para ser recebida por Ele. Que maravilhosa intimidade! Que encontro do Mártir dos mártires com uma mártir heroica e grandiosa! Que ideia do sangue dela misturando-se ao Sangue infinitamente preciso de Nosso Senhor Jesus Cristo! Que noção do Corpo Místico de Cristo há nisso! Que sacratíssima e argutíssima intimidade com Nosso Senhor! Ela tinha de tal maneira a ideia de que sua alma estava unida a Ele, que a morte selava essa união, que ela pedia que Ele a abraçasse, logo que ela entrasse na eternidade. Que certeza de ir para o Céu!

Depois dizia: “Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e sangue. Perdoai-me as faltas …” – que somos feitos, hein? os dois – “Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância e lavai minha alma no sangue que vou derramar por vós”.

Quer dizer, ela tinha medo de ter por ignorância cometido alguma falta. Então, isso era o que tinha para se acusar a si própria. Então “lavai a minha alma no vosso Sangue. Antes de ir para o Céu, antes de derramar o meu sangue por vós, eu quero que vós laveis a minha alma no vosso Sangue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância… Não deixeis meu corpo, martirizado por vosso amor, em poder dos que me odeiam. Baixai vosso olhar sobre esse povo”.

Ela, então, depois de ter pensado em sua alma, pede que a alma seja recebida por Nosso Senhor; pede, depois, que sua alma seja lavada das faltas que tenha, e depois pensa em seu corpo. E pede que este não seja deixado em mãos de seus inimigos, daqueles que odeiam a ela, porque odeiam a Ele.

Vejam que respeito pelo corpo próprio! Que respeito pela santidade do corpo que foi um conosco na realização da virtude!

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Mosteiro de Santa Catarina, no Sinai

Também, que atendimento magnífico dessa oração! Foi só ela morrer, que os Anjos vieram e levaram o seu corpo; para onde? Para a montanha mais augusta que há na terra, depois do Gólgota, depois do monte Calvário, e que é o Sinai, aonde a Lei de Deus foi dada aos homens. Os senhores sabem que até hoje o corpo dela está lá, e há um mosteiro de monjas contemplativas, no deserto do Sinai, que guardam esse corpo, e que meditam sobre a Lei de Deus que ali foi concedida aos homens.

“Baixai vossos olhos sobre esse povo e dai-lhe o conhecimento da verdade”. Ela já não pensa em si, mas nos circunstantes.

“Enfim, Senhor, ouvi em vossa infinita misericórdia, aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que vosso Nome seja para sempre bendito”. Quer dizer, ela pede desde já para Deus que atenda todo mundo que por meio dela pedir alguma coisa.

 “Em seguida mandou que os soldados cumprissem as ordens, e sua cabeça foi decepada de um só golpe. Era o dia 25 de novembro”.

calma e a resolução! Feita a oração, nenhum tremor, nenhum desejo de contemporizar um pouco. Também nenhuma precipitação de quem tem medo de enfrentar a morte correndo em direção a ela. Não, ela diz tudo quanto tem que dizer. E terminado isso, ela se entrega às mãos de Deus. Os soldados a matam e a oração dela se atende.

“Era o dia 25 de novembro. E numerosos milagres foram logo constatados”.

Então, fala dos Anjos que foram lá. E assim nós temos a considerações dessa grande santa, mártir, para algum efeito para nós de caráter espiritual.

Qual é o efeito que devemos pedir? Devemos pedir a ela que quando chegar a ocasião dos castigos profetizados por Nossa Senhora em Fátima se a humanidade não se convertesse, ocasião em que tantos, na luta contra o comunismo, contra outros adversários da Igreja, tivermos que sofrer o risco, ou talvez a perda de vida, tenhamos aquela serenidade que só a graça dá, perante a morte.

Porque perante a morte só há duas espécies de pessoas serenas: o cretino ou o homem movido pela graça de Deus. A morte é uma coisa tão tremenda; a dissolução entre a alma e o corpo; a liquidação do ser, o aparente afundar no nada são tão tremendos, que a gente só compreende a serenidade na morte do cretino, que está cronicamente habituado a não medir a importância do que lhe vai acontecerou então de quem está dominado pela graça.

Vamos pedir, então, que em todas as ocasiões de nossa existência, tenhamos essa calma diante do risco de vida; e calma que seja levada até o sacrifício extremo, caso essa seja a vontade de Nossa Senhora.

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