Santo Ambrósio (7/12): insigne devoto de Nossa Senhora, grande apologista da virgindade, observador de uma digna apresentação pessoal dos eclesiásticos

Santo do Dia, 6 de dezembro de 1966

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Santo Ambrósio, representado com o látego com que fustigou a heresia (Carlo di Braccesco – 1495)

Amanhã, 7 de dezembro, é festa de Santo Ambrósio (339 ou 340 – 397), bispo, confessor e Doutor da Igreja. Hoje continua a novena de Nossa Senhora da Conceição. Santo Ambrósio lutou contra Teodósio, imperador do Ocidente, pela liberdade da Igreja. Combateu os hereges e converteu Santo Agostinho.

A respeito dele, Dom Guéranger dá alguns traços biográficos:

 “Adolescente ainda, Ambrósio apresentava gravemente sua mão a beijar à sua mãe e à sua irmã, porque, dizia ele, esta mão seria um dia a de um bispo”.

Os senhores veem o que é a compenetração e como isso é diferente do clero progressista. “Imagine eu, padre progressista, deixar minha mão ser beijada por minha mamãezinha, nunca!” A irmã, naturalmente, trataria a ele de “você”, etc., etc. Aí, com Santo Ambrósio, não. “Como essa mão será um dia a de um bispo, oscule já”. E isso não é por vaidade, por orgulho, mas por amor à dignidade episcopal. É realmente magnífico!

 “Pode-se crer que, se os decretos divinos não tivessem irrevogavelmente condenado o Império Romano a perecer, influências como as de Ambrósio, exercidas sobre um príncipe de um coração tão reto, teriam preservado sua ruína. Sua máxima era firme, mas ela não devia ser aplicada senão nas sociedades novas, que surgiriam depois do choque da queda do Império e do cristianismo. Ele dizia, portanto: Não há título mais honroso para um imperador, do que filho da Igreja. O imperador está na Igreja, ele não está acima dela”.

Santo Ambrósio e os Doutores da Igreja tiveram que lutar contra uma tradição, que ficou entre os imperadores romanos cristãos e que vinha do tempo do paganismo. No paganismo clássico, não havia propriamente uma igreja pagã. Não havia uma distinção entre duas sociedades, Igreja e Estado, como Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu. Mas o Estado pagão era um estado-igreja.

Assim, o Estado pagão dispunha a respeito de toda a religião e promovia ao mesmo tempo a vida temporal. De maneira que os imperadores romanos habitualmente se consideravam chefes da religião. E quando morriam, eles eram até deificados, elevados à condição de deuses, no tempo do paganismo.

Quando veio o império cristão, em muitos imperadores romanos o hábito mental, naturalmente conservado por mau espírito, levou-os a considerarem que eram os chefes da religião e terem, portanto, os maiores atritos com a Religião Católica. Donde, exatamente, choques enormes de Santo Ambrósio com o imperador Teodósio.

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O Imperador Teodósio proibido por Santo Ambrósio de entrar na Catedral de Milão (Camillo Procaccini)

É conhecido o fato de que o imperador Teodósio, não tendo querido subordinar-se à ordem de Santo Ambrósio, porque achava que quem mandava era ele não o bispo de Milão, Santo Ambrósio, dirigiu-se à igreja acompanhado de todo seu séquito, depois de ter sido punido por aquele Santo. Teodósio encontrou Santo Ambrósio com seu clero, na entrada da igreja, e o proibiu de entrar. O imperador não teve coragem e retrocedeu…

Então, Dom Guéranger comenta essa máxima de Santo Ambrósio: “nada é mais honroso para o imperador do que ser filho da Igreja. O imperador está na Igreja, ele não está acima da Igreja.”

Quer dizer, para o imperador, o grande título de honra é o de ser católico e é por isso que os senhores veem, depois de caído o império romano, haver príncipes católicos que colocavam toda sua honra em ligar o seu título de soberano a um título religioso. Daí vem o fato do imperador do Império Romano Alemão usar o título de imperador do Sacro Império Romano Alemão.

Igualmente daí provém o título de Rei Apostólico aos reis da Hungria; o título de Rei Cristianíssimo dado aos reis da França; o título de Defensor da Fé dado a Henrique IV da Inglaterra, antes de ele apostatar obviamente; o título de Rei Católico dado aos reis da Espanha; de Rei Fidelíssimo dado ao rei de Portugal.

Qual era a razão? O título imperial ou real, que é o mais alto dos títulos humanos, vale pouco se não vem conjugado com uma relação qualquer com a Igreja Católica. Essa é a bonita observação que faz Dom Guéranger.

“A piedade de Santo Ambrósio em relação a Nossa Senhora nos ensina também que admiração e que amor devemos ter para com a Virgem Bendita. Assim, o Santo bispo de Milão é aquele dos padres do IV século que mais vivamente exprimiu as grandezas do ministério na pessoa de Maria. Esta eterna predileção por Nossa Senhora explica o entusiasmo de que Ambrósio estava repleto pela virgindade cristã, da qual ele merece ser considerado o doutor especial. Nenhum dos padres o igualou no encanto e na eloquência com os quais ele proclamou a dignidade e a felicidade das virgens”.

É um lindo título esse que cabe a Santo Ambrósio! Ele é Doutor da Igreja, mas de todos eles foi o que melhor estudou a virtude da virgindade; e que, com uma delicadeza de linguagem e de alma inexcedíveis, soube tratar do tema de maneira a não só dar a convicção de que a virgindade é uma virtude excelsa, mas ainda dar uma verdadeira apetência da virgindade.

Valeria a pena ler aqui, algum dia, e comentar os sermões de Santo Ambrósio sobre a virgindade; é tudo quanto há de mais belo!

Por fim continua Dom Guéranger:

Santo Ambrósio preocupava-se para que os ministros da Igreja apresentassem grande dignidade externamente. Não aceitava em seu clero quem não tivesse uma presença respeitável.

“Assim, não admitiu um seu amigo, porque nele notou algo menos próprio no modo de andar”.

Não foi ordenado padre, porque o modo de andar tinha qualquer coisa que não era condizente à dignidade sacerdotal…

“É que Santo Ambrósio estava persuadido de que os movimentos desregrados do corpo, são efeito do desregramento da alma”.

Os senhores perguntem qual seria a seleção das vocações sacerdotais hoje em dia, e a gente não saberia o que dizer…

Conheço o caso de uma senhora que entrou num bonde com seu filho, o qual estava querendo ser padre, no tempo em que era apreciável alguém querer ser. A mãe viu no bonde um sacerdote. Disse ela que era um padre tão derramado, tão sujo de tabaco, com o cabelo tão despenteado, que afirmou o seguinte: “Meu filho jamais será padre!” Era um raciocínio errado, mas que tinha um certo fundo de razão.

Quer dizer, se numa determinada classe os homens se apresentam assim, não convém a alguém pertencer a essa classe… E a ideia é muito verdadeira. Quando uma pessoa é altamente respeitável, até no seu físico transparece  uma respeitabilidade. E uma pessoa relaxada, desabotoada, desarranjada, sem compostura, não pode ser sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo. Compreende-se, portanto, como Santo Ambrósio tinha razão e profundamente razão.

Essas são as considerações para a noite de hoje.

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Santo Ambrósio converte o imperador Teodósio – Pierre Soubleyras, 1745. Galeria Nacional, Perúgia (Itália)

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