São Gregório Nazianzeno (2/1): grande intelectual e polemista, sabia analisar a fisionomia e atitudes de seus adversários

Santo do Dia, 9 de maio de 1966

A D V E R T Ê N C I A

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução” (R-CR), cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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São Gregório Nazianzeno (ca. 330  + 390) – Igreja da Martorana, em Palermo, Itália (foto de Jastrow – Opera propria, CC BY 2.5, wikipedia)

Hoje é festa de São Gregório Nazianzeno, Bispo, Confessor e Doutor. Dados biográficos do Rohrbacher:

“Gregório nasceu em Nazianzo, na Capadócia, entre 325 e 330. Sua mãe, mulher de virtude extraordinária, é Santa Nona. Teve como irmãos São Cesário e Santa Gorgônia”.

Isso é que entrar na vida!… Como introdução, o começo é este…

“O jovem Gregório, demonstrando excepcionais dotes de inteligência e caráter, foi enviado à Atenas, com seu amigo Basílio, dedicando-se nessa cidade ao estudo da Escritura Santa e das ciências profanas. Após ter passado algum tempo na solidão, foi sagrado bispo de Sásima, depois de Nazianzo, enfim, de Constantinopla, em 371. Um de seus primeiros trabalhos foi de combater a heresia ariana e conduzir numerosas almas à pureza da fé católica. Mas, levantando-se contra ele feroz perseguição, já velho e combalido, renunciou ao episcopado. Ao despedir-se de seus diocesanos, prometeu que se a língua se lhe calasse, as mãos e a pena combateriam pela Verdade. Voltou a Nazianzo, entregando-se à contemplação das coisas divinas e a composição de obras teológicas. Após anos de recolhimento e estudos, adormeceu no Senhor no ano de 390”.

 “Gregório de Nazianzo, amigo de São Basílio, orador insigne e poeta, que unia a admirável fecundidade à energia e à elegância, foi um firme defensor da consubstancialidade do Filho de Deus. Obteve o nome de “O Teólogo” pela segurança de sua doutrina e elevação de seu pensamento, o esplendor de sua exposição, pela sua defesa inigualável da Santíssima Trindade.”

Agora vem um fato da vida de São Gregório de Nazianzo:

São Gregório e São Basílio encontravam-se estudando em Atenas. Foram de tão excepcional brilho que eram conhecidos de toda a cidade. Tinham por companheiro de estudo um jovem chamado Juliano. Analisando este jovem, os dois amigos consideravam que podiam nele descobrir os desregramentos de seu espírito pela sua fisionomia e pelo seu exterior. Era de estatura mediana, pescoço taurino, largas espáduas que ele encolhia frequentemente, bem como a cabeça.

Os pés não eram firmes, o andar inseguro. Os olhos eram vivos, mas esbugalhados e irrequietos. O olhar furioso, o lábio inferior pendente, a boca grande, o nariz desdenhoso e insolente, a barba hirsuta e pontiaguda. Fazia trejeitos ridículos e sinais com a cabeça, sem motivo. Ria sem compostura e com grandes gargalhadas. Arrastava-se no falar e respirava irregularmente. Fazia perguntas impertinentes, dava respostas embaraçadas que nada tinham de firme, nem de metódico. Gregório dizia ao vê-lo: “Que peste alimenta o Império Romano. Deus queira que eu seja um falso profeta”. Esse jovem foi Juliano, o Apóstata”.

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Moeda romana (maiorina) representando o imperador Juliano, o apóstata

Esses vários elementos biográficos muito bem colhidos, a respeito de São Gregório Nazianzeno, justificam alguns comentários. Mais uma vez, nessa desolação dos dias em que vivemos, notamos essa abundância de santos. Logo de uma vez, quatro grandes santos: São Gregório, Santa Nona, São Cesário, Santa Gorgônia; mãe e filhos. Por outro lado, um grande amigo, o qual era, por sua vez, São Basílio. Os senhores veem aí uma conjunção de santos que iluminou todo o mundo antigo. Especialmente São Gregório Nazianzeno e São Basílio.

Os senhores observam, de outro lado, em São Gregório Nazianzeno, o papel de um grande defensor da ortodoxia contra a heresia, um desses gigantes de defesa da fé. Por outro lado, os senhores veem aqui o papel desse santo do ponto de vista da elaboração intelectual. Quer dizer, ele era um grande literato, grande poeta, tinha, portanto, do seu lado todo o prestígio que havia no mundo antigo a vida intelectual, qualquer coisa de vagamente parecido com o prestígio de um grande jogador de futebol de nossos dias e, portanto, uma coisa imensa.

Considerem os homens de grande inteligência, de grande força, de grande capacidade, consagrados à ortodoxia. Durante quanto tempo isso deixou de ser assim? E durante quanto tempo tivemos os homens inteligentes do lado da heresia e, pelo contrário, do lado da ortodoxia os pocas, os pulhas, os desbotados, os decadentes? É uma forma de maldição de Deus exatamente permitir que de tal maneira valores humanos se retraiam dos arraiais da ortodoxia. Exatamente o movimento de “Catolicismo” – na medida de suas possibilidades vem conseguindo isso – visa quebrar esse desequilíbrio mostrando como os valores humanos devem estar ao serviço da boa causa.

Por fim, os senhores têm aqui o que é uma fassur [neologismo para se referir a um sujeito péssimo, n.d.c.]: Juliano, o apóstata!

Os senhores ouviram  como São Gregório Nazianzeno e São Basílio faziam dele um juízo que indicamos com a palavra “fassur”. E – ao contrário do que diz a “heresia branca” [piedade sentimental e adocicada, n.d.c.] com seus pânicos a respeito de juízo temeráriocomo é legítimo olhar para um homem e dizer que ele é “fassur”. Portanto, como os verdadeiros católicos andam bem quando inculcam a perspicácia, a combatividade, a vigilância contra o adversário, sabendo analisar o adversário na sua fisionomia. É uma confirmação preciosa de tais atitudes contra-revolucionárias!

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Túmulo de São Gregório Nazianzeno na Basílica de São Pedro, no Vaticano

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