São João da Cruz (14/12): “Quem se fia de si mesmo, é pior que o demônio”

Santo do Dia, 23 de novembro de 1965

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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São João da Cruz (* 1542 – 14/12/1591), Confessor e Doutor da Igreja. Co-reformador da Ordem do Carmo, com Santa Teresa de Jesus, insigne contemplativo

Aqui temos algumas sentenças de São João da Cruz que estão propostas à nossa consideração esta noite e são as seguintes:

Não Vos conhecia, eu a Vós, meu Senhor, porque queria ainda saber e saborear ninharias. Secou-se meu espírito porque se esqueceu de apascentar em Vós”.

É uma verdadeira maravilha! O amor da ninharia é uma das coisas mais invisceradas no gênero humano. E mesmo quando se trata de analisar um assunto sério, a tendência é considerá-lo do ponto de vista da ninharia.

Ora, afirma São João da Cruz com muita propriedade que quem gosta de ninharias não pode saborear a Deus. Por que razão? Porque não é possível gostar de duas coisas opostas, contrárias ao mesmo tempo. Deus é infinito, altíssimo, insondável, transcendente. A ninharia é o contrário, é a coisinha, a bagatelinha.

A consequência não deve ser tomar uma atitude de ninharia diante disso: “Ah! Então não tem remédio, porque eu gosto tanto de ninharia, que nunca me descolarei dela…”. O resultado é outro. Dizer: “Meu Deus, livrai-me da ninharia, dai-me o Vosso espírito, o Vosso Espírito Santo que me fará sentir apetência das grandes coisas e me dará o horror da ninharia”. No Evangelho, Nosso Senhor dá um exemplo que mostra que das orações feitas a Deus, a que mais certamente é atendida é a que pedimos o bom espírito, o Espírito Santo, oposto à bagatela e à ninharia. Então é o que se trata de pedir. É, portanto, uma esplêndida sentença de São João da Cruz!

Secou-se meu espírito, porque se esqueceu de apascentar em Vós”. O que é o espírito que se apascenta em Deus? É o que gosta de pensar nas coisas da Igreja Católica, nos temas da Religião Católica, na doutrina e na vida da Contra-Revolução, que são expressões da Igreja Católica, da Doutrina Católica. Este é como uma ovelha que se nutre da erva divina, das coisas divinas.

A alma que está unida com Deus incute temor ao demônio como o próprio Deus”. Que linda afirmação! Realmente, a gente vê que o demônio teme o contra-revolucionário e lhe tem um ódio feito de temor. Ele estremece diante do verdadeiro contra-revolucionário, porque este último está unido a Deus.

O mais puro padecer traz e produz o mais puro entender”. Outra proposição magnífica! Quer dizer, só entendem as coisas até o fundo os que sabem sofrer até o fim. Estes compreendem. Os que não sabem sofrer até o fim, não compreendem nada.

Quem se fia de si mesmo, é pior que o demônio”. Duro, hein?… E fiar-se de si mesmo quer dizer o seguinte: “Não, isso eu não preciso pedir a Nossa Senhora, porque isso eu consigo”. Por exemplo, a virtude da castidade. “Eu consigo por mim mesmo. Eu, diante da ocasião próxima de pecado, sabe que eu sou um colosso! Eu não preciso evitá-la, nem pedir auxílio quando se apresenta porque são um beatério quem fica pedindo. Mas eu, com minha força de vontade e minha inteligência, eu não preciso pedir. Na hora, eu enfrento!”… “Enfrento”, quer dizer, se estatela no chão! Cai o cavalo e o cavaleiro e – segundo uma expressão arcaica que conheci – “caía de costas e quebrava o nariz”. Ou seja, a queda era tão grande que atingia até o nariz. Por que? Porque confiava em si próprio.

Quem opera com tibieza perto está da queda”. É uma outra coisa evidente. Algum tempo atrás uma pessoa dizia: “Fulano – no fundo era um elogio de si mesmo – é tíbio, mas é muito correto”. Eu pensava: é “muito correto”… Ele está exatamente se desmilinguindo! É a mesma coisa que pegar um agonizante, olhar para ele e dizer: “ele está vivinho e inteiro, não morreu”. Mas a vida o está abandonando, o está deixando de lado. Como é essa história?

É melhor vencer-se na língua do que jejuar a pão e água”. É bem verdade. Mas qual é a maior vitória que a pessoa precisa ter quanto à língua? A primeira é não dizer coisas impuras. A segunda é não dizer algo que represente uma fraqueza diante do mundo, bem como manifestar agrados, gentilezas, atitudes, que dêem a impressão de que somos filhos desse mundo. Isso é que se trata de não dizer e é essa vitória sobre a língua que se trata de obter.

É melhor sofrer por Deus do que fazer milagres”. Como é verdadeiro isso! Pode-se encontrar pessoas que fizeram milagres e que foram para o inferno. Não se encontra gente que sofreu a vida inteira por Deus e que foi para o inferno. Não é possível. E o maior milagre, milagre mais evidente é o milagre do homem que sofre de todas as maneiras, mas sofre por Deus e não volta atrás no seu sofrimento. Esse é o milagre. De maneira tal que só temos que considerar como verdadeira também esta sentença: é realmente melhor sofrer por Deus do que fazer milagres.

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