São João da Mata (17/12): nobre, Fundador, libertador de cativos e pregador da Cruzada contra os albigenses

Santo do Dia, 7 de fevereiro de 1969

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Comentaremos uma ficha sobre São João da Mata, confessor, extraída de uma biografia de Darras, da “Vida dos Santos”:

“São João da Mata nasceu na Provence (França), a 23 de junho de 1160, de nobre família. As armas da casa de Mata, representavam um cativo carregado de correntes com essas palavras como divisa: ‘Senhor, livrai-me dessas correntes’.

“Enquanto sua mãe aguardava seu nascimento, um dia em que se recomendava particularmente à Santíssima Virgem, Nossa Senhora lhe apareceu dizendo: ‘Não temas, tu darás ao mundo um filho que será santo e o redentor dos escravos cristãos. Será pai de um grande número de filhos que cumprirão o mesmo ministério para a salvação das almas’.

“Seus pais o educaram no amor de Deus e da Virgem, e desde cedo o menino correspondeu a seus cuidados. Fez seus estudos na Universidade de Aix e ao voltar para casa decidiu retirar-se para o deserto, escolhendo a região de Beaune, onde Santa Madalena vivera em penitência. O demônio o assaltou rudemente, mas foi vencido por uma coragem semelhante a de Santo Antão e de outros solitários.

“Após um ano de solidão, Nosso Senhor recomendou-lhe que fosse acabar os seus estudos porque queria servir-Se dele. João foi para a Universidade de Paris cursar teologia. Um dia em que rezava ante um crucifixo no convento de São Vítor, ouviu uma voz que lhe disse por três vezes: ‘Procure a sabedoria, ó Meu filho, e alegra o Meu coração’. Ele voltou aos estudos com novo vigor e tornou-se tão versado, que os mestres da universidade lhe ofereceram o chapéu de doutor. Ele a princípio recusou. Mas São Pedro lhe apareceu ordenando-lhe que aceitasse em nome do Senhor. Enquanto lecionava teologia, S. João da Mata foi ordenado sacerdote.

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Ordenação de São João de Mata (Vicente Carducho, Museu do Prado) 

“Quando o bispo lhe impôs as mãos dizendo: ‘Aceite o Espírito Santo’, um globo de fogo apareceu sobre sua cabeça. No dia de sua primeira Missa, no momento da Elevação, a assistência admirada viu surgir sobre o altar um anjo vestido de branco, trazendo no peito uma cruz vermelha. Ele estendia as suas mãos cruzadas sobre dois cativos dos quais um era cristão e o outro mouro. São João explicou então que Deus o chamara a fundar uma Ordem para a redenção dos cativos. Para isto, então, dirigiu-se ao Papa Celestino III.

“Nesse tempo, São Domingos de Gusmão estudava em Palência. Um dia, uma pobre mulher veio pedir-lhe uma esmola para ajudá-la a resgatar um de seus irmãos que era escravo dos mouros. O santo que nada tinha para dar, ofereceu-se ele mesmo. E como a mulher não quisesse vendê-lo, São Domingos lançou-se aos pés de um crucifixo implorando a Deus que viesse em socorro do cativo e dos outros escravos cristãos. Então, o Crucifixo respondeu-lhe em alta voz: ‘Meu filho, não é a ti que quero encarregar desta obra, mas a João, doutor em Paris. Eu te reservo outro ministério, que exercerás entre os cristãos’.

“Mais tarde São João e São Domingos encontraram-se na França, quando aí estabeleceram suas ordens. São João partira de Roma. Em Focon, encontrou São Felix de Valois, que a ele se associou para a consagração de seus desígnios.

“No dia da Purificação da Virgem, 2 de fevereiro de 1198, Inocêncio III em pessoa deu-lhes o hábito da nova ordem. Ao vesti-los, disse-lhes que as três cores que o compunham eram o símbolo da Santíssima Trindade. O branco representando o Pai; o azul, o Filho; e o vermelho, o Espírito Santo. E acrescentou as palavras: ‘Haec est ordo aprobata, non a sanctis fabricata, sed a Deus solo – Esta é uma Ordem aprovada, feita não por santos, mas exclusivamente por Deus’.

“Os dois santos retiraram-se para a França onde fundaram o mosteiro de Cerfroid e entregaram-se ao seu trabalho. Suas lutas são inenarráveis, sendo acompanhadas de numerosos milagres. É conhecido aquele em que os mouros de Túnis retiraram as velas do navio que levaria São João a Roma. Este fez de seu manto uma vela; o barco foi conduzido em seis horas às costas da Itália.

“Fundou ainda este santo numerosos conventos e pregou a Cruzada contra os albigenses.

“Tendo Inocêncio III convocado um concílio em Latrão, o rei Filipe Augusto escolheu São João da Mata para seu teólogo. Mas Deus já o queria no Céu, pois o santo caiu doente, vindo a falecer a 17 de dezembro de 1213. Foi canonizado por Urbano IV em 1262”.

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Afresco do Papa Inocêncio III no mosteiro beneditino de Subiaco (Itália), em torno de 1219

Essa biografia é tão rica em dados saborosos e de alto valor simbólico, que não se sabe bem o que dizer…

Antes de tudo, é interessante notar como a predestinação aparece clara. Desde o ventre materno Deus quis tornar manifesto que tinha uma grande vocação reservada para este santo. Porém, ao mesmo tempo que o destinava a essa finalidade, fez de sua vida um verdadeiro ziguezague. Primeiro ele começou a estudar, depois foi ser eremita, a seguir voltou para o estudo, depois não era mais ao estudo e era preciso fundar uma Ordem Religiosa, onde realizou verdadeiramente sua vocação.

Por que isto? Porque quase tudo quanto é de Deus passa por ziguezagues. Nunca insistiremos suficientemente sobre isso: todas as coisas de Deus passam por aparentes fracassos, por verdadeiras derrotas que representam aparentemente o extermínio daquela obra. Depois, afinal, a Providência intervém, arranja a situação e a coisa toca para a frente.

Nessa biografia os senhores vêem um caminho maravilhoso: em meio a milagres, de lances de sua vida que pareciam desvios da sua verdadeira vocação, encontrando aqui e acolá Santos extraordinários como São Domingos de Gusmão, o qual recebe a confirmação de sua missão providencial através da revelação de um Crucifixo e, por fim, chega o momento em que ele funda esta Ordem para a redenção dos cativos.

Naquela época, o número de escravos cristãos aprisionados pelos mouros em campo de batalha era enorme e a Providência quis que se fundasse uma Ordem de católicos que se entregassem como escravos para resgatar aqueles cativos. De maneira que aquelas almas – sujeitas a um sumo risco – fossem substituídas por outras, as quais, por ter mais virtude e mais perseverança, se expunham menos a riscos de salvação entre os infiéis.

Foi para isto que esta Ordem foi fundada e Deus suscitou para a redenção dos cativos não só um homem de linhagem nobre, como São João da Mata, mas um príncipe como São Félix de Valois. Ambos foram os fundadores desta Ordem, cujos membros deveriam se entregar como escravos.

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À esquerda: versão da cruz trinitária original, ainda usada pelas irmãs. À direita: versão da cruz trinitária que é o símbolo da Ordem da Santíssima Trindade desde o final do século XVI. A barra vertical vermelha simboliza o Espírito Santo, a barra horizontal azul simboliza o Filho (Jesus) e o fundo branco simboliza Deus Pai.

É bonito considerar o momento em que lhes é dado um hábito com as três cores, branca, vermelha e azul, e que o papa declara que são as cores da Santíssima Trindade, mais tarde as cores da Revolução Francesa. É até chocante o contraste, mas a verdade é a seguinte: a combinação branca, azul e vermelha, tornou-se detestável por causa da Revolução Francesa, mas em si é uma muito bonita combinação de cores. Sob um certo ponto de vista, é uma das mais belas combinações de cores que há. E o Papa deu o simbolismo: o branco – Padre Eterno; o azul – o Filho; e o vermelho, que é o fogo do amor, é o Divino Espírito Santo.

Então, com as cores da Santíssima Trindade, eles foram mandados para este apostolado. Os senhores viram tudo quanto eles realizaram neste apostolado: a obra se tornou famosa durante séculos.

Esta sua atividade não será a única, mas ele pregou uma Cruzada contra os albigenses. Ou seja, este santo tão cheio de mansidão, que pregava o resgate dos cativos, este santo, entretanto, também se distinguiu pelo valor com que pregou a Cruzada.

Os senhores considerem como mudam os tempos… Esta Ordem ainda existe. E ela poderia cuidar do resgate dos prisioneiros católicos que estão nas mãos dos comunistas; poderia aceitar uma pena qualquer para entrar nas masmorras comunistas e fazer algum bem aos prisioneiros que lá estão. Para a honra desta Ordem, deveria haver tentativas para que existissem membros seus presentes nos cárceres e nos campos de concentração do nazismo e do comunismo. Entretanto, não nos conta que algo disso haja sido feito por parte dela.

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Mediante a bula de 21 de outubro de 1666, o Papa Alexandre VII o canoniza. Clemente IX aprova sua Missa e ofício próprios e Clemente X fixa sua festa para 17 de dezembro. Seus veneráveis restos mortais se encontram no convento dos trinitários de Salamanca, onde chegaram a 26 de agosto de 1674. Sua festa se celebra a 17 de dezembro, data de um duplo aniversário importante: da aprovação de sua regra em 1198 e de seu centenário (1213-2013).

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