São Pedro Crisólogo (30/7): a distribuição dos dons divinos na Igreja

Plinio Corrêa de Oliveira

Santo do Dia, 4 de dezembro de 1965

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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São Pedro Crisólogo (406-450, pintura anônima, Museu diocesano de Ímola, Itália, cidade onde nasceu. Foto Wikipedia)

Hoje é dia de São Pedro Crisólogo, a respeito do qual há o seguinte apanhado biográfico:

“São Pedro, nascido em Moura, na Emília. O Bispo desse lugar o formou na ciência e na santidade. O Papa Cornélio, movido por uma inspiração divina, o promoveu, em 433, ao Episcopado de Ravena. Ele defendeu a Fé Católica contra Eutiques, por uma carta dirigida ao Concílio de Calcedônia e, por sua célebre eloquência, ele mereceu o nome de Crisólogo, que quer dizer “aquele que tem a palavra de ouro”. Depois de ter governado a Igreja de Ravena durante 18 anos, morreu na sua cidade natal, no dia quatro de dezembro de 450. As suas relíquias são veneradas em Ravena, na Basílica Prussiana”.

A respeito da Anunciação, um trecho lindo de São Pedro Crisólogo que vem muito a propósito. É de uma eloquência muito bonita, à qual os ouvidos contemporâneos já não estão muito habituados, porque um pouco sobrecarregada, mas se os srs. tomarem o trabalho de acompanhar com atenção, verão quanta beleza isto encerra.

É uma comparação entre a cena da Anunciação – em que São Gabriel revela a Nossa Senhora que será a Mãe de Deus, pede a Ela seu consentimento, leva-o ao Céu – e os esponsórios humanos.

Aqui estão as palavras de São Pedro Crisólogo:

“Com destino à Virgem Santíssima, Deus envia um mensageiro de asas…”

Quer dizer, um Anjo.

“…ele que será o portador da graça…”

Ele leva a Nossa Senhora a graça.

“…ele apresentará as arras e receberá o retorno”.

Ou seja, o Anjo adiantará o dote e levará a Deus o consentimento.

“Ele que levará a Deus a Fé dada por Nossa Senhora”.

A aquiescência dEla.

“E que depois de ter conferido a recompensa a uma tão alta virtude – ele vem do Céu com a recompensa da virtude de Nossa Senhora, que era a maternidade virginal – voltará rapidamente aos Céus para levar a Deus a promessa da Virgem.

“O ardoroso mensageiro se lançará com um voo rápido do Céu até a Virgem; ele veio suspender os direitos de esposo.”

Realmente, os direitos de São José ficaram como que suspensos, por causa do consentimento que Nossa Senhora deu à concepção virginal do Espírito Santo.

“Mas sem arrancar a Virgem ao poder de José, ele [A] restitui a Cristo, do qual Ela foi noiva desde o primeiro instante em que foi criada”.

Aqui é um jogo de palavras porque, como Ela foi destinada a Nosso Senhor Jesus Cristo para um desponsório místico da alma com Ele, Ela que era mãe dEle, sob um certo ponto de vista de alma, podia ser chamada de Esposa dEle.

Então, assim como há cerimônia de casamento, em que o pai do noivo pede a moça, a moça dá o consentimento e, nesta ocasião, se firma o pacto, assim também o Padre Eterno pediu a Nossa Senhora por meio de um mensageiro celeste e Nossa Senhora concordando com isso, o mensageiro leva este acordo para o Céu e os direitos de São José ficam suspensos. Mas, ao mesmo tempo, Ela não fica tirada da mão de São José e continua a ser legalmente sua verdadeira esposa.

Isto que todo mundo sabe, os senhores veem com que palavras muito elevadas São João Crisólogo soube dizer, confirmando bem a fama de homem que tem palavras de ouro.

Aqui talvez fosse interessante dizer uma palavra a respeito desses grandes oradores do tempo passado. Nós, que estamos na época dos locutores de rádio, talvez lucremos algo em ouvir falar desses homens.

Assim como a Igreja teve, no passado, grandes figuras de bispos que fundaram ou que organizaram cristandades, grandes figuras de Padres e de Doutores que, depois, consolidaram sua doutrina, Ela teve também, em várias épocas da História, grandes oradores.

De que vulto eram estes oradores? Eram tais que compuseram monumentos que são reconhecidas como obras-primas de oratória, mesmo pelos homens mais incultos. Herdeiros ainda de toda a oratória grega e romana antiga, mas com uma incisão ardentíssima do espírito católico e que fizeram, como tais, obras de um conteúdo e, ao mesmo tempo, de um voo de linguagem que sobrepunha os pagãos “imortais”.

Os senhores estão vendo assim como se distribuem os vários dotes e carismas no período em que a Igreja nascente está mais fraca, tais dons são, por assim dizer, mais fortes, de sorte que ficam depois como monumentos para todos os séculos vindouros.

Então os senhores têm dois cujo nome eloquente explica bem o valor da oratória: São Pedro Crisólogo, ou seja, São Pedro “da palavra de ouro” e São João Crisóstomo, ou seja, São João com a “boca de ouro” porque tudo quanto dizia era de ouro, eram cognomes com que a Igreja até hoje aclama a oratória desses grandes homens.

Devemos nos perguntar se essas coisas dadas quando a Igreja era como que nascente, se tais dons desapareceram para sempre dEla. Creio que, pelo contrário, os carismas se vão multiplicando de acordo com as épocas e com as necessidades do século. Mas podemos esperar para os tempos vindouros uma outra grande ressurreição de todos esses valores para atender à fundação do Reino de Maria, o qual deverá vir depois de toda a queda da “civilização” contemporânea, como está prometido em Fátima, quando Nossa Senhora anuncia todos os castigos e depois faz esta afirmação solene: “Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará”.

Para a implantação do Reino de Maria, devemos ver que essas grandes recordações do passado não são apenas imagens dos tempos de outrora e que iluminam de então para cá os passos dos contra-revolucionários para andarmos, mas que o sol que está na retaguarda se ponha na vanguarda e que todos os valores, todos os aromas e todas as luzes do futuro Reino de Maria já comecem a brilhar.

É o que devemos pedir a Nossa Senhora na noite de hoje.

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