“Sem uma vida de piedade intensa e fervorosa, a TFP não é nada!” Uma proclamação de confiança

Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, Santo do Dia, 21 de setembro de 1991 – Sábado

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Neste Santo do Dia de sábado (21-9-1991), Dr. Plinio Corrêa de Oliveira responde à seguinte pergunta: por que a piedade contra-revolucionária se baseia sobretudo na devoção à Sagrada Eucaristia, à Nossa Senhora e no Papado? Nesta primeira parte, ele expõe sobre a devoção a Nossa Senhora, fazendo outros comentários sobre a famosa oração composta por São Bernardo, o “Lembrai-Vos”. A continuação desta reunião será postada proximamente, com o graça de Deus.

 

Meus caros, é com muito prazer que eu respondo as perguntas que tratam de temas absolutamente fundamentais para nós. Quer dizer, sem uma vida de piedade intensa, ardorosa e fervorosa, a TFP não é nada. Isso por uma razão muito simples, é que a TFP é uma entidade que, se nós formos analisar bem, vive para o improvável, vive quase para o impossível e, portanto, vive do milagre e para o milagre. E vivendo assim para o improvável ou quase para o impossível e por assim dizer, do milagre, para o milagre. Ou a TFP é inteiramente baseada no sobrenatural ou não tem TFP.
Nos ensina Dom Chautard, no seu admirável livro “A alma de todo o apostolado”, que cada católico que se dedica ao apostolado, é um instrumento da graça, é um canal da graça para tocar os outros católicos. E que sem a graça de Deus, um católico nada pode fazer na ordem do apostolado. Por que isto? Porque é preciso ver o que é a graça de Deus.
* A graça é uma participação na vida de Deus e faz com os homens sejam capazes de cumprir a lei de Deus 
A graça de Deus é uma participação que o homem tem, uma participação criada na vida incriada de Deus. A vida de Deus é incriada, porque Deus não é criado. Deus é criador, nós somos criaturas. Deus não foi criado por ninguém, Ele existe antes de todos séculos e antes de todas as eternidades das eternidades e depois ele é perpétuo. E é dEle que procede tudo quanto existe; Ele que criou tudo quanto existe e que não é Ele próprio.
Mas a esse Ser tão supremo, tão perfeito, tão admirável, corresponde, toca uma vida que é Ele próprio. Ele é a vida dEle. E dessa vida Ele dá uma participação aos homens para quê? Para que os homens sejam capazes de cumprir a lei de Deus. Sejam capazes de ter Fé, Esperança e Caridade, que são as virtudes teologais. Depois tem as quatro virtudes cardeais: a justiça, a fortaleza, a temperança e a prudência.
O homem que tem a Fé, Esperança e Caridade e tem as quatro virtudes cardeais, este homem, realmente então, é capaz de cumprir os mandamentos. Tudo isto é perfeitamente bem ordenado, bem pensado e sabiamente pensado e os senhores vão ver porquê.
Como é que nós podemos imaginar um homem que cumpre os mandamentos sem ter fé? Os mandamentos são tão duros de cumprir! Os sacrifícios que a vida católica pede são tão duros que, se não fosse a existência de um Deus infinitamente bom, por amor a quem nós fazemos esse sacrifício; se não fosse o temor de um Deus infinitamente justo, por temor de quem nós fazemos esse sacrifício; se não fosse a esperança da vida eterna, nós não teríamos razão, não teríamos motivo para levar a vida dura que o católico leva.
Não sei se isso está bem claro.
* Sem a graça de Deus o homem não pode cumprir de um modo durável, perfeito e inteiro, os dez Mandamentos 
Por outro lado também é verdade que o católico para cumprir os dez mandamentos da lei de Deus, que são a aplicação dessas virtudes para cada caso concreto – quer dizer por exemplo, em matéria de roubo, o homem não rouba porque ele é temperante, justo, etc.; o homem não mente porque tá-tá, porque ele tem as quatro virtudes cardeais e as três virtudes teologais.
Então, para isto, se não fossem essas virtudes, o homem não cumpriria os dez mandamentos. E os dez mandamentos são tão duros de cumprir, tão difíceis de cumprir, que a Igreja Católica nos ensina o seguinte, que se nós fôssemos considerar as meras qualidades humanas, a mera força do homem, a mera justiça, a mera temperança, etc., naturais do homem, depois do homem ter caído no pecado original como caiu, pela falta de Adão e Eva, o homem não seria capaz de cumprir os mandamentos. De maneira, que é até um ponto de fé católica, que sem a graça de Deus o homem não pode cumprir de um modo durável, perfeito e inteiro, os dez mandamentos.
* O que significa praticar a virtude de um modo durável 
O que quer dizer de um modo durável? Quer dizer, um homem pode passar cinco, dez, quinze minutos, por sua força natural, sem pecar. Mas duravelmente quer dizer, durante uma extensão apreciável de tempo, ele não pode passar sem pecar. Por quê? Porque a natureza dele é de tal maneira decaída, é de tal maneira aniquilada, por um lado. E de outro lado, a natureza do homem, o homem está tão fraco que se não fosse uma força que não está nele, mas que lhe vem de cima e que é a graça, que é essa participação na vida de Deus, o homem não teria força para cumprir os dez mandamentos. E, portanto, não teria meio de salvar-se. Ficaria uma situação absurda, porque ele era obrigado a cumprir os dez mandamentos, mas, de outro lado, ele não teria meio de salvar-se. E então, era um zero.
Deus preenche tudo isto por meio da graça dEle. Essa graça dá ao homem a força para cumprir os dez mandamentos, para ter as virtudes cardeais, para ter as virtudes teologais.
Isto é de tal maneira assim, que nós podemos calcular a coisa da seguinte maneira. Se hoje, sobre esse auditório – que está reunido aqui levado pela Fé, pela Esperança, pela Caridade, etc., etc., – se sobre esse auditório, deixasse de estar baixando a toda hora e a todo momento enquanto estamos aqui, a graça de Deus, nós sairíamos daqui, sem Fé.
A Fé nos é dada e nós somos mantidos na Fé pela graça de Deus, que está continuamente nos sendo comunicada. Sem isto nós perderíamos toda e qualquer espécie de força, toda e qualquer espécie de capacidade de crer, de esperar, de amar a Deus, perderíamos as virtudes cardeais e desobedeceríamos aos mandamentos. É uma coisa tremenda.
* Exemplo de um santo que ofereceu o sacrifício de perder a sensação da Fé, para converter um homem que não acreditava 
Isso é de tal maneira terrível que – eu não me lembro de que santo se conta esse fato, o fato se eu não me engano se deu na Polônia. Um santo estava querendo muito converter um homem. E esse homem discutia com ele, etc., um homem que não tinha fé e que ele queria trazer para a Fé católica. E em certo momento o homem procurou-o e disse: “Olha padre – ele era sacerdote – eu queria dizer ao Sr. o seguinte: eu de fato vejo que o Sr. tem razão em tudo quanto diz, mas o que o Sr. quer, eu não creio, eu não tenho fé.”
O padre pensou: “Eu preciso fazer um sacrifício em favor desse homem.”
Ele rezou a Deus, a seguinte oração, ele disse: “Eu quero tanto converter este infeliz, que eu vou fazer o seguinte oferecimento: Vós não me tireis a Fé, porque a Fé é indispensável para a minha salvação, mas fazei com que desapareça em mim, toda a sensação da Fé, para passar para este infeliz.”
Na manhã seguinte, o homem procurou a ele, radiante: “Padre, eu creio!”.
Ele cria, mas no interior dele, ele não sentia fé, não sentia nada. Ele tinha feito esse sacrifício para salvar o outro. Ele tinha obtido essa graça colossal para o outro, por meio de uma imolação tremenda de si próprio. É uma coisa terrível.
* Para vencer sua fraqueza o homem deve pedir muito as graças de Deus, e as acaba recebendo 
Quando uma pessoa peca, ainda que peque muito consecutivamente, essa pessoa tem razões para esperar que em certo momento, deixará de pecar. Qual é que é? Ela é fraca, ela não corresponde as graças que recebe. Se ela não receber graças ainda muito maiores, vai acontecer que ela vai acabar caindo no pecado. E então, como é que a pessoa faz? Ela deve pedir a Deus, pedir a Deus, pedir a Deus, graças, graças e mais graças. Se ela pedir muito, acaba acontecendo que Deus dá graças tão grandes, que vence a falta de força dela e ela acaba vencendo os seus pecados.
* O diário de uma vida espiritual, escrito numa pedra de uma igreja de Roma 
Houve um escritor católico famoso, francês, no século passado, chamado Louis Veuillot. Ele era um muito bom contra-revolucionário e ele era, por outro lado, um entusiasta do papado. E escreveu um livro muito bonito, muito bom, em francês, “Les parfums de Rome” – “Os perfumes de Roma” – em que ele conta esse fato.
Ele esteve várias vezes em Roma e conta esse fato. Ele foi a uma igreja, foi visitar igrejas antigas em Roma. Roma tinha mais de quatrocentas igrejas. Hoje, tem muito mais do que isto porque a cidade cresceu muito. Mas, naquele tempo, a bem mais de cem anos, Roma tinha quatrocentas igrejas. Ele foi visitar algumas igrejas antigas e uma igreja lhe agradou muito, a fachada da igreja ele achou muito bonita. E a parte de trás da igreja ficava colocada num jardim privado, pessoal dos padres.
Mas ele tinha muita vontade de ver toda a construção da igreja como era, inclusive a parte de trás. E então ele abriu, entrou por esse jardim a dentro e foi olhando a igreja, etc. Quando ele chegou bem atrás da igreja, – ele admirando a construção, as pedras, etc. – em certo momento ele olhou para baixo e notou que numa pedra tinha escrito um mundo de coisas, com uma letra relativamente pequena em carvão, escrito com carvão.
E ele ficou curioso de saber o que é que seria. Então, agachou-se para olhar. E viu que uma alma, que ninguém sabe quem é, tinha escrito ali, o diário de sua vida espiritual. Todos os dias essa alma passava lá e punha alguma coisa a respeito de uma batalha que travava para evitar um certo pecado.
Então dizia: “Ano tal, dia tanto. Hoje, meu Deus, infelizmente pequei, perdoai-me.”
No dia seguinte: “Meu Deus, Vós me perdoastes, mas eu Vos ofendi ainda muito mais. Aonde vai parar isto? Perdoai-me.”
Mais outro escrito: “Graças a Deus, desta vez eu não pequei”.
Passa três, quatro dias sem pecar. De repente um pecado pior, uma série de pecados. Essa desigualdade completa.
Depois, aos poucos, a pessoa vai registrando melhoras, melhoras e no fim está escrito o seguinte: “Meu Deus, há mais de um ano que eu não Vos ofendo mais. Graças, graças, graças.”
Eram graças que a pessoa pedia, a pessoa não correspondia. Pedia mais graças, Deus mandava. A pessoa assim mesmo não correspondia. A pessoa pedia, vinham mais graças. A pessoa não correspondia. Até chegar a um ponto tal, que em determinado momento, as graças foram tais, que, por assim dizer, arrancaram o homem.
O comentário muito bonito de Luis Veuillot, foi o seguinte: “Se aquela pedra, em vez de estar escrita com esse diário de um católico para se tornar um católico correto; se aquela estivesse salpicada com sangue de mártir, ele não a respeitaria mais, do que com o diário da vida espiritual desse feliz e vitorioso miserável.”
* Quem quer obter uma graça, precisa muito pedir e a oração é o meio para alcançá-la. A parábola do conhecido importuno 
Quer dizer, quem quer obter a graça, precisa muito pedir. A oração é o meio para obtenção da graça. E nunca nós devemos desanimar em nenhum caso. Porque a graça sempre acabará nos atendendo e nós acabaremos vencendo os nossos pecados e abrindo o caminho do Céu.
De maneira que, por mais miserável que esteja o estado de uma alma, rezando, rezando, rezando, acaba obtendo graças e obtendo graças, acaba se regenerando.
Os senhores vêem uma aplicação muito bonita disso, numa parábola que Nosso Senhor conta no Evangelho.
A parábola de um homem que estava deitado na cama, com os seus filhos e toda a família deitada, dormindo. Quando alguém bate na porta. Era um conhecido que explicou que ele tinha recebido hóspedes e que precisava dar algum alimento a esses hóspedes. Ora, ele àquela hora da noite não tinha mais pão em casa e, portanto, ele não tinha o que dar, porque não tinha nada. E ele pedia ao dono da casa que desse a ele uns pães para poder distribuir aos hóspedes.
Isso era um tempo muito antigo, tempo de Nosso Senhor, um tempo que não havia hotéis, quase não havia hospedarias, tudo isso era muito mais atrasado. Ainda mais ali na Ásia, no Oriente Próximo etc. E então, o homem de dentro da casa – a gente vê pela narração que o dono da casa não gostava da pessoa que estava batendo – diz que “não, que não podia, que ele estava deitado, que não podia dar.” O outro bateu e pediu mais. Ele insistiu, o outro não quis.
Afinal, chegou o momento que o importuno bateu tanto, que o pai disse para um dos filhos: “Olha, vá lá dentro, pegue pão, dê para esse homem, para me ver livre dele!”
* “Ainda que um homem esteja em estado de pecado, peça a Deus; ele pedindo, pedindo, Deus, para se livrar da importunidade dele, dá o que ele está pedindo” 
E depois ele faz essa aplicação curiosa, a nós. Diz : “Ainda que um homem esteja em estado de pecado, mas peça a Deus, – ele estando em estado de pecado, ele não tem o amor de Deus – mas ele pedindo, pedindo, Deus para se livrar da importunidade dele, dá o que ele está pedindo.”
Quer dizer, por pior que seja a condição de uma alma, se pedir muito, se pedir muito, se pedir muito, acaba obtendo a graça necessária e acaba não pecando.
Eu digo isso aos senhores, porque isto é uma proclamação de confiança. Em nenhum caso nós podemos deixar de confiar em Nossa Senhora, na bondade Dela, na misericórdia dEla, em Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Nosso Senhor, porque eles nos acabam atendendo sempre.
* A lindíssima oração do “Lembrai-Vos” 
E por isto, os senhores encontram a lindíssima oração do “Memorare”: “Lembrai-Vos, ó Piíssima Virgem Maria …” Cada palavra tem sua aplicação aí.
“Lembrai-Vos, ó Piíssima Virgem Maria…”, o que quer dizer aí, “Piíssima”? Piedosa, o superlativo é piedosíssima. Mas a gente resume dizendo “piíssima”. Mas “piedosa” aqui, não quer dizer pessoa que reza muito, quer dizer a pessoa que tem muita piedade dos outros, muita compaixão dos outros. Poderia dizer portanto, “Lembrai-Vos, ó Compassivíssima Virgem Maria”, que tem muita compaixão, que perdoa muito, etc., etc.
“… que nunca se ouviu dizer …”. Notem bem “nunca se ouviu dizer”. Mas é geral, “nunca” é em nenhum tempo, em nenhum lugar de toda a terra.
“… que tendo alguém recorrido a Vossa proteção …”, quer dizer tendo alguém pedido que Vós a protegeis.
” … implorado a vossa assistência …”, quer dizer implorado que o acompanheis, que olheis para ele, que o sigais.
“… e reclamado o Vosso socorro …”, é evidente o sentido.
“… fosse por Vós desamparado …”, é uma linda proclamação. Então, em nenhuma época do mundo, a Virgem Maria deixou de atender àqueles que pedem a Ela. Em nenhum caso, em nenhuma circunstância, deixaram de ser atendidos. Então, é também conosco, se um de nós tem a infelicidade de pecar, pior ainda, se um de nós tem a infelicidade de um vício, de uma atitude moral ou imoral, que se repete. Não faz mal, reze e peça, reze e peça, porque no fundo Nossa Senhora acabará tendo pena.
“… Animado, eu pois, com tal confiança …”, quer dizer, por este motivo.
“… a Vós, ó Virgem entre todas singular …”, quer dizer, “Vós que sois mais virgem do que todas as virgens, a Santa Virgem das virgens”.
” … ó Vós entre todas singular, como Mãe recorro e de Vós me valho …”, [quer dizer,] “Vós sois minha Mãe, Vós sois Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Vós sois Mãe de todos os homens. E sendo Mãe de todos os homens, sois minha Mãe! Eu serei o último dos homens, mas Vós sois a mais alta e a mais excelsa de todas as mães. E vossa compaixão vale mais do que merecem todos os meus pecados. Se meus pecados são um abismo, a vossa compaixão é uma montanha muito maior do que esse abismo.”
“… e gemendo sobre o peso dos meus pecados, me prostro aos vossos pés…” A pessoa então, é um pecador que geme. Pecou tanto que ele está gemendo sobre os pesos de seus pecados, mas se põe aos pés da Virgem Santíssima.
“… Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado…”, quer dizer, “Mãe, ó Vós que sois a Mãe de Jesus Cristo, o Verbo que se fez homem, não desprezeis a minha súplica.” Quer dizer, eu sei que dá para desprezar, são súplicas que não valem nada, por si mesmas não são nada. Não desprezeis essas súplicas porque eu vos estou pedindo que não as desprezeis. Não as desprezeis porque eu sou vosso filho. E um filho pode pedir isso a uma mãe. O coração da mãe está sempre aberto para perdoar, para amar, para afagar etc., etc. Sobretudo Nossa Senhora, que é a Mãe das mães, a perfeição das perfeições.
“…mas dignai-Vos de ouvir propícia…”, quer dizer, dignai de ouvir. “Propícia” quer dizer favoravelmente, com boa vontade, com boa disposição.
“…e alcançar o que Vos rogo. Assim seja.”, e alcançai-me aquilo o que eu estou Vos pedindo. É a emenda de um defeito, emenda de um vício, aquisição de uma virtude, etc., etc. A gente tomando em consideração tudo quanto a Igreja ensina sobre Nossa Senhora, a gente tem todos os motivos para achar que Ela vai acabar obtendo. E portanto, nós pedimos a Ela, com muito empenho, com muito ardor.
* “Maria mons, Maria fons, Maria pons” 
Nossa Senhora, numa canção litúrgica muito bonita, muito piedosa, Ela é chamada: Maria mons, Maria fons, Maria pons.  Maria é montanha de todas as virtudes – mons em latim. “Maria fons”, Ela é a fonte de todas as graças. “Maria pons”, Ela é a ponte por cima de todos os abismos.
“Nós vos pedimos, Senhora, quando pensamos que Vós sois tudo quanto sois, que nós não somos senão aquilo que nós somos. Mas que nunca, nunca, nunca, Vós deixareis de olhar com boa vontade para o filho que pede a Vossa assistência. Nós pedimos com insistência, tende pena de nós e acabai arrancando dos nossos pecados.”
Nós seremos atendidos.
* Nossa Senhora é a Onipotência Suplicante 
O senhores viram pelo que eu acabo de dizer de Nossa Senhora, que é absolutamente de primeira importância, nós termos a devoção a Nossa Senhora. Porque se Deus é tão perfeito, é tão supremo, nós somos tão zero, que se não houvesse uma ligação entre Deus e nós, que é Nossa Senhora, Deus só, não nos ouviria. A Justiça dEle, a Pureza dEle, a Santidade dEle, postas em contato com os nossos defeitos, teria horror aos nossos defeitos e nos mandaria para o inferno.
Mas, mas, mas, Ele mesmo, na sua bondade, criou os vínculos que O iam atar a nós. Ele se encarnou na Virgem Maria e com isso ele ficou homem. E como Nossa Senhora é Mãe espiritual de todos os homens – por ser Mãe dEle, é Mãe espiritual de todos os homens – acaba acontecendo que Ela sendo Mãe de todos, Ela pedindo a Ele por nós, é como uma mãe que pede para um irmão, em benefício do outro irmão. O irmão não pode resistir. E por causa disso, Nossa Senhora é também chamada pelos teólogos: “Onipotência suplicante”.
Ela suplica, Ela pede, mas como a oração dEla é sempre atendida, pelo cúmulo inaudito de perfeições de santidade que Ela tem, – daqui a pouco, eu vou dizer uma palavrinha aos senhores sobre isso – como Ela é sempre atendida, Ela ao mesmo tempo que é suplicante, é onipotente. Porque o que Ela pede, Deus dá. E se nós pedirmos Ela atende, logo, nós que não mereceríamos de Deus nada, por causa dEla merecemos.
Não sei se isso está bem claro.
* Exemplo de uma mãe que pede ao filho, que é juiz, que perdoe outro filho que é criminoso 
Os senhores podem sentir bem essa situação, tomando em consideração, por exemplo, uma mãe que tem um filho tão reto, tão direito, etc., que merece ser designado como juiz. Mas ela tem por outro lado, um filho que é um criminoso. E toca ao filho juiz, julgar o filho criminoso. O que é que acontece?
É que a mãe chega ao filho-juiz e diz: “Meu filho, eu sei que tu és juiz e que a ti cabe aplicar a justiça. Os defeitos dele são tais, que merecem a pena de morte. Mas em justiça, tu ó juiz, me deves a vida. Poupa a vida desse homem que merece a pena de morte, por pedido daquela que te deu a vida”.
A aclamação dos senhores torna bem claro que não é preciso explicações a esse respeito. Está tudo entendido.
Quer dizer, Nossa Senhora é tudo quanto Ela é, por ser Mãe de Deus. Deus deu a Ela, tudo o que o melhor dos filhos, pode dar à melhor das mães.
E é tal o valor da súplica de Nossa Senhora, que os teólogos dizem o seguinte: “Todas as orações de todas as criaturas passam por Nossa Senhora ou não chegam a Deus. De maneira que – eles dizem – se todo o Céu, todos os anjos, todos os santos que há no Céu, pedissem algo a Deus sem ser por meio de Nossa Senhora, Deus não atenderia. Mas se Nossa Senhora, sozinha pedir, sem nenhum anjo, nem nenhum santo, Ela é atendida.”
Essa é a Mãe de uma doçura sem nome. De uma compaixão que não tem limites. Uma mãe que – os senhores verão isso daqui a pouco, a beleza desse fato – uma mãe que tem tanta pena do filho, que ela na hora do filho ruim ser julgado, ela obtém a salvação dele.
* Nossa Senhora, ao pé da Cruz, obtém as graças para a conversão do “bom ladrão” 
Isso não é uma coisa teórica, os senhores conhecem o episódio do Evangelho lindíssimo, de Nosso Senhor crucificado entre dois ladrões. E os ladrões, naturalmente, com o resto de vida que têm falam entre si e o mau ladrão começou a blasfemar contra Nosso Senhor.
E o bom ladrão disse para o mau: “Nós merecemos o castigo que estamos sofrendo e vamos morrer. Mas este aqui é um justo e Ele não merece o castigo que está sofrendo. Então, não fales mal dEle.” E pediu perdão a Deus, o bom ladrão, pelos pecados que cometeu. Deus disse a ele: “Tu, hoje, comigo estarás no Paraíso.”
Foi a primeira canonização pronunciada na Igreja Católica! Foi contra um ladrão, bandido que estava amarrado numa cruz e que ia morrer. Nosso Senhor canonizou-o: “Hodie mecum eris in Paradiso” – “Tu hoje estarás comigo no Paraíso”.
Por quê? Porque Nossa Senhora estava ao pé da cruz. E Ela estava rezando pelos ladrões. E Nosso Senhor do alto da cruz recebeu essa oração e deu graças extraordinárias a esses ladrões. Um era ruim mesmo e rejeitou, mas o outro recebeu e naquela hora pediu perdão. A graça dada por esse pedido de Nossa Senhora foi tão torrencial e tão abundante que, naquele dia, quando Nosso Senhor expirou, a alma santíssima de Nosso Senhor desceu ao limbo para levar todas as almas dos justos do antigo testamento que estavam lá, levar para o Céu. E o bom ladrão morreu e foi para o limbo. E Nosso Senhor levou a alma dele para o Céu.
E qual foi a razão? É porque Nossa Senhora pediu por ele. Se Nossa Senhora não tivesse pedido, não tinha.
Os senhores estão compreendendo a importância da devoção a Nossa Senhora e como é leve a devoção a Nossa Senhora, como é a alegria de nossas almas a devoção a Nossa Senhora. Como seria soturna a nossa vida de católicos se não fosse essa devoção e como ela é leve, como é cheia de esperança, cheia de perdão, cheia de afeto materno, essa continua assistência de Nossa Senhora.
Bem, isto para compreendermos bem como devemos estar ligados a Nossa Senhora.
Agora, Nossa Senhora, pede a quem? Ela pede ao Divino Filho dEla. E o Divino Filho dEla atende, porque Ele é a torrente de todas as perfeições e dEle é que procedem todas as graças. Ele é que dá, porque Ela pede.

Nota: Para ouvir ou ler mais a respeito do “Lembrai-Vos”, clique aqui.

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