Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Churchill

 

 

 

Catolicismo, N° 568 - Maio de 1998 (*)

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A ascensão de Churchill foi em linha reta, até o zênite. As mais diversas formas de inteligência, de tino político e de coragem nele se foram patenteando e refulgindo. E cada vez mais, à medida que o iam exigindo as contingências da luta. Quando a guerra terminou, Churchill foi o mais famoso dos vencedores.

Da esquerda para a direita, na Conferência de Yalta: Churchill, Roosevelt e Stalin

A propaganda aliada apresentava-o freqüentemente ao lado dos outros dois - Roosevelt e Stalin - como que a querer nivelá-los. Mas o esforço foi inútil. E até contraproducente. Enquadrado entre o velho presidente ianque, de olhar comum e de inexpressivo riso-padrão, de um lado, e do outro, o sinistro ditador soviético, sob cujas sobrancelhas hirsutas faiscavam dois olhos ignaros a chispear ameaças, e sob cuja bigodeira farta e descuidada se delineavam lábios mais próprios para injuriar e beber do que para falar, a fisionomia superexpressiva de Churchill se destacava de um modo que quase se diria esplendoroso. 

Para brilhar não basta obviamente ser muito expressivo. Cumpre ademais exprimir algo que valha. Fazia-o às catadupas o velho leão inglês. Em sua calva parecia reluzir um pensar diplomático vigoroso e sutil. Seus olhos - quanto haveria de dizer sobre eles! - exprimiam sucessivamente fascinantes profundidades de observação, reflexão, "humour" e gentileza aristocrática. Suas largas bochechas musculosas nada perderam do vigor, com a idade. Pareciam dois contrafortes faciais, a emoldurar vigorosamente a fisionomia tão altamente intelectualizada. E davam à face um não-sei-que de decidido, estável, quase se diria de perpétuo: símbolo expressivo da força multissecular da monarquia inglesa. Seus lábios, finos e de contorno incerto, pareciam acompanhar o movimento dos olhos e, pois, sempre prontos a se abrirem para uma ironia, uma palavra de ordem, um discurso monumental... ou um charuto.

Sinto que não estaria descrevendo Churchill por inteiro, se não lhe acrescentasse um traço. Membro autêntico da "gentry" inglesa, adornado - é bem este o termo - com o charme varonil de um aristocrata de alta classe, em Churchill coincidiam as rutilações da cultura universitária, do talento jornalístico, da oratória parlamentar e da glória militar, com ademais, um não-sei-que de direto, positivo, desconcertantemente ativo, típicos dos "businessmen" norte-americanos da "belle-époque". É que sua mãe era uma ianque, filha de um estuante "self-made man". 

Conversando certa vez sobre Churchill com o arquiduque Otto de Habsburg, dele ouvi um lúcido comentário. Está na ordem das coisas - dizia ele - e até entre os vegetais, que de vez em quando apareçam, nesta ou naquela variedade, espécimes gigantescos. São fenômenos da natureza. Churchill foi um deles. 

(*) Nota da Redação: Excertos de artigo escrito pelo Prof. Plinio para a "Folha de S. Paulo" em 19 de dezembro de 1977.


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