Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Pedro Julião Eymard:

para a "salvação, é preciso também ter uma paixão que nos domine a vida"

 

 

 

 

 

18 de setembro de 1984, Reunião Extra

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

Leitura de textos de São Pedro Julião Eymard (1811-1868), fundador da admirável obra da adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento e da Congregação dos Sacramentinos (O Santíssimo Sacramento, Coleção "Os grandes Autores Espirituais", nº 24, Edições Paulinas, São Paulo, 1956, pp. 27 e seguintes):

“(Dizem para ele) é exagero tudo isso [a devoção que atribui ao Santíssimo Sacramento, ao que responde]. Mas o que é o amor, senão o exagero? Exagero é ultrapassar além, pois bem, o amor deve exagerar. Quem se limita ao que é absolutamente de seu dever não ama. Só se ama quando se sente interiormente a paixão do amor. Nosso amor para ser uma paixão, deve sofrer a lei das paixões humanas. Falo das paixões honestas, naturalmente boas. Sem uma paixão nada se alcança. A vida carece de objetivo, arrasta-se numa vida inútil”.

Quer dizer, quais são os erros que se opõem a isto? Primeiro erro: a ideia de que a verdade é uma posição “responsável” - vou empregar os adjetivos detestáveis de hoje – “responsável e adulta diante dos fatos”. Vocês já devem ter ouvido esses adjetivos. “Responsável e adulta diante dos fatos, pede a não-paixão. É só depois que o homem se desapaixonou que ele é capaz de ver, de julgar e de agir”...

Aqui há uma teoria de São Julião Eymard que é o contrário dessa impostação. Pela primeira teoria, que acabo de dar, a paixão seria uma coisa sempre má, seria preciso estar desapaixonado para tomar posição. Ele sustenta o contrário: há paixões más e há paixões boas. Estas últimas são movidas pelo bem, e o homem deve utilizá-las para chegar até a ponta do amor. E que se a pessoa aplica, portanto, aquela tal “ascese clínica” do não se apaixonar, peca contra a doutrina católica, sobre a moral humana, que supõe a paixão.

São Pedro Julião Eymard vai um pouco mais adiante, e afirma “que é o amor, senão o exagero?” Evidentemente, ele não está sustentando que a paixão é necessariamente um exagero, mas sim outra coisa: o amor continuamente vai além do que o ambiente no tempo dele já chamava de “exagero”. Quer dizer, este “exagero” deve ser entendido como entre aspas: o que é amar, senão fazer o que vocês entendem como exagero?

É uma espécie de choque dele contra esta “lei do desapaixonamento”, que é uma lei normal para o espírito francês, mas para o espírito católico antes de tudo, porém eminentemente para o espírito francês.

Estou dando aqui não uma teoria minha, mas uma interpretação de São Julião Eymard, à vista da Doutrina Católica, para vocês poderem comentar. Está claro isto?

(Sim.)

Pois bem, na ordem da salvação é preciso também ter uma paixão que nos domine a vida, e a faça produzir, para a glória de Deus, todos os frutos que o Senhor espera”.

Vejam o categórico de sua afirmação, hein? Ele corrobora aqui a doutrina que eu estava expondo. Para a glória de Deus, é preciso ter uma paixão. Agora, releia um pouquinho o que você já leu.

Na ordem da salvação é preciso ter também uma paixão que nos domina a vida.”

“Domine a vida”, hein?! Continue.

“E a faça produzir, para a glória de Deus, todos os frutos que o Senhor espera”.

Vejam, portanto, que produtividade de ação humana, para a glória de Deus, a produtividade total é esperada da colaboração da paixão, não é só da paixão, mas é da colaboração da paixão com as outras faculdades da alma. Aliás, só isto que é humano.

Toma aquela coisa que causa horror, dos chineses no tempo final da monarquia, aquela mania de se cortarem as pontas dos pés e andar em cima daqueles sapatinhos. É uma coisa medonha, não é? Está bem, mas não é menos medonho cortar uma faculdade da alma e viver sem ela? É mais medonho! O homem desapaixonado é um mutilado. Vamos para frente.

“Amai tal virtude, tal verdade, tal mistério apaixonadamente!”

Por exemplo, isto é um São Bernardo de Claraval! E aí mais ou menos, mais ou menos, até o francês do tempo do racionalismo. Com o racionalismo, com Descartes, essa mentalidade começou a mudar.

“Devotai vossas vidas, consagrai vossos pensamentos e trabalhos. Sem isso nada alcançareis jamais: sereis apenas um assalariado e jamais um herói!”

É uma afirmação esplêndida! Tenho a impressão que valeria a pena vocês comprarem esse livro dele; deve-se encontrar na França, nosso pesquisador procura, e apresentar o texto francês.

“Todo pensamento que não se termina em uma paixão, que não acaba por tornar-se uma paixão, nada de grande produzirá jamais.”

Estupendo! Mas estupendo! E vocês poderiam fazer uma relação entre o desaquecimento das paixões na França e - não me queiram mal com o que vou dizer - a decadência gradual da França. É assim!

Tenho a impressão que está tão bom, que valeria a pena ler mais algumas passagens.

“O amor não transfere a ninguém as suas obrigações. O amor tudo faz por si mesmo, é a sua glória”.

Isso é muito bonito do outro lado. Quando vocês virem um membro de algum grupo contra-revolucionário e que gosta de empurrar trabalho por cima dos outros, ele está desapaixonado! Porque quando tem paixão, ele mesmo faz. Aquele está desapaixonado. Porque quando está desapaixonado, dele não resulta nada! Pelo contrário, o apaixonado não tem tempo e ainda aceita trabalho dos outros! São estes os únicos homens que têm tempo! Porque para um homem sem paixão, todo tempo é pouco para ele não fazer nada. Para um homem com paixão, de qualquer minuto, ele faz uma eternidade.

Ai de nós se o amor de Jesus no Santíssimo Sacramento não nos conquistar o coração. Jesus estará vencido, nossa ingratidão será maior que Sua bondade, nossa malícia mais poderosa que Sua caridade. Oh não, meu Salvador, Vossa caridade me oprime, me atormenta e me constrange”.

É um dito apaixonadíssimo! Mas, no fundo, o que é? É uma tomada de atitude lúcida, diante de uma realidade que é essa.

Vocês não encontrarão, no mundo inteiro de hoje, um manual para uma pessoa comungar todos os dias com esse pensamento. Acho que em qualquer país que vocês queiram procurar não encontram. Por quê? São “serenos”, que evitam os grandes horizontes... É a teoria e prática da mediocridade. É tremendo!

Esta frase - não sei - mas estou pensando como pô-la nas capelas do Grupo, porque é uma frase tremenda, profunda! Põe em baixo uma jaculatória: “Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, gravai com fogo estas palavras em meu coração.”

Mas, acho extraordinário!

“O culto, a honra tributada a Jesus Cristo são a medida da Fé de um povo, a expressão de sua virtude.”

É muito bonito, mas é um corolário.

“É o que Jesus Cristo faz com os indivíduos, Ele faz com os povos. Não é mais amado, respeitado, conhecido: abandonam-No, desprazam-No. O que faria um rei abandonado por seus súditos? Jesus se vai, vai em busca de um povo melhor. Que tristes espetáculos esses abandonos de Nosso Senhor. Houve um tabernáculo no Cenáculo, e hoje o Tabernáculo é uma Mesquita. Não havia mais verdadeiros adoradores.”

Este é o tipo do pensamento apaixonado! Mas, o que é que é este pensamento? Não tem nada aí dentro que não seja inteiramente verdadeiro, inteiramente racional, não há mentira nenhuma; é apenas a verdade levada à sua última ponta, que leva a esta reflexão.

Mas, como isto produz uma paixão, porque quem toma isto a sério se apaixona, o resultado é que eles não põem os pensamentos capazes de apaixonar. Isto, por exemplo, vocês não veem ninguém dizer hoje.

“Que quereis que Jesus fizesse? O Egito, a África, outrora terra clássica dos santos, habitados por legiões de santos monges, Jesus Cristo as abandonou. Ali, desde que a Eucaristia deixou de estar presente, reina a desolação. Mas, ficai seguros que Jesus Cristo foi o último a deixar o lugar, quando não encontrou um só adorador!

Que bonito! Que bonito, hein? Quer dizer, quando os eremitas começaram a abandonar aquilo, é porque já tinham abandonado a Nosso Senhor. Ele é sempre o último a deixar, faz parte da fidelidade dEle, e acentua a nossa maldade.

“Saibamos bem que, indo Jesus, voltarão os [...], a perseguição, a barbárie. Quem deteria estes flagelos? Oh, Senhor, ficai conosco, nós seremos os Vossos fiéis adoradores. Mais valeria o exílio, a mendicidade, a morte do que a privação de Vós.”

Que bonito! Que coisa magnífica! Mas são todos esses pensamentos que continuamente apaixonam. E estão vendo que ele está querendo uma piedade apaixonada à Sagrada Eucaristia... Entrem nestas igrejas de adoração perpétua. Infelizmente, de modo geral, não é a atmosfera que vocês encontram. Nada de fogo... Isto é fogo! Isso é uma alma eucarística!

“Não nos inflijais este castigo de abandonar o santuário de Vosso amor. (...)

“Nosso Senhor quer estabelecer em nós o amor apaixonado por Ele; toda virtude, todo pensamento que não se caminha, que não acaba por tornar uma paixão, nada de grande produzirá jamais. Não é amor a afeição de uma criança, ela ama por instinto, porque se sente amada, ela se ama naqueles que lhe fazem bem. O amor só triunfa quando é em nós uma paixão vital. Sem isso podem produzir-se atos isolados de amor, mais ou menos frequentes, mas a vida não é tomada, não é dada.

“Ora, enquanto não tivermos por Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento um amor apaixonado, nada teremos feito”.

É evidente, nada teremos feito! Compreendem que isto é por Nosso Senhor Sacramentado, mas é também pela Santa Igreja, é por Nossa Senhora, é pela Contra-Revolução, evidentemente!

São Luís Grignion de Montfort é este estado temperamental a serviço da devoção a Nossa Senhora. Peguem a “Oração Abrasada” que ele compôs, é este estado de espírito.

Nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer as leis das paixões humanas; falo das paixões honestas, naturalmente boas. Pois as paixões são indiferentes em si mesmas, nós as tornamos más, quando as dirigimos para o mal, mas só de nós depende utilizá-las para o bem.”

É o que disse há pouco. Em si mesmo, as paixões são indiferentes; nós temos obrigações de pô-las à serviço do bem etc., etc.,

 “Ora, a paixão que domina o homem. Tal homem quer chegar até uma determinada posição honrosa e elevada, só para isto trabalhará 10, 20 anos, não importa, chegará. Faz unidade, tudo se acha reduzido a servir este pensamento, este desejo, deixa de lado tudo quanto não conduz a seu objetivo. Eis como se chega no mundo ao que se deseja. Estas paixões podem se tornar más, e não são mais do que um crime contínuo, muitas vezes.”

Considerem esta expressão, que magnífica! “um crime contínuo!” São expressões. Alguns franceses que conheci diriam que é “espanholada”. Não é não. A Igreja é apaixonada em toda parte por onde Ela está.

 “Sem uma paixão nada se alcança, a vida carece de objetivo, arrasta-se uma vida inútil. Pois bem, na ordem da salvação é preciso ter uma paixão que nos domine a vida e a faça produzir.”

“Na ordem da salvação”, é uma condição para salvar-se.

“Que nos domine a vida e faça produzir para a glória de Deus todos os frutos que o Senhor espera. Amai tal virtude, tal verdade, tal mistério apaixonadamente! Devotai a vossa vida, consagrai vossos trabalhos…”

Contra-Revolução, por exemplo, que não é um mistério... tá, tá, tá. E é para toda a Igreja, é para toda a Civilização Cristã.

 “Sem isso nada alcançareis jamais, sereis apenas um assalariado, e jamais um herói. Tende um amor apaixonado pela Eucaristia, amai Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento com todo o ardor que se ama no mundo, mas por motivos sobrenaturais. Para consegui-lo começareis por colocar vosso espírito sobre a influência desta paixão, alimentai em vós o espírito de Fé, e persuadi-vos da verdade da Eucaristia, da verdade do amor que Nosso Senhor nela vos testemunha. Tende uma grande ideia, uma contemplação arrebatada do amor e da presença de Nosso Senhor. Assim dareis a vosso amor o fogo que alimentará a chama, o vosso amor será então constante. O homem de gênio concebe uma obra prima, abrange-a com o olhar da alma, acha-se, arrebata: há de realizá-la por todos os meios possíveis, à custa de todos os sacrifícios, não se desgastará: sua obra prima o domina, ele a vê e dela não pode desviar o pensamento.

“Pois bem, vede Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, vede o seu amor, e esse pensamento vos domine, vos arrebate. Por quê? Porque Nosso Senhor se abre a ponto de sempre Se dar, sem jamais fatigar-Se”

É magnífico! Não tenho nada que dizer!

“Considerai os santos, seu amor os transporta, abrasa, faz sofrer, um fogo que os consome, despende suas forças e acaba por lhes causar a morte. Morte feliz: mas se não chegarmos todos a este ponto, ao menos podemos amar apaixonadamente Nosso Senhor deixar que nos domine por Seu amor. Há pessoas que amam até a loucura os pais, os amigos, e não sabem amar o bom Deus. O que é que se faz com a criatura, é o que se deve fazer com Deus, somente ao Bom Deus é preciso amá-Lo sem medida, cada vez mais.”

Se nós fizéssemos pela Causa e por Nossa Senhora o que muita gente faz para granjear prestígio no pátio das vaidades, o Grupo seria outro! Esta é a realidade.

Imagem à qual São Pedro Julião Eymard tinha muita devoção. Igreja de São Cláudio, dos Sacramentinos, Roma

“No Juízo não serão tantos os nossos pecados que nos aterrorizarão e nos serão censurados; estão irrevogavelmente perdoados; mas Nosso Senhor nos censurará por seu amor: ‘Criaturas, vós não fizestes de Mim a felicidade de vossa vida? Vós Me amastes bastante para não Me ofender mortalmente, mas não para viver em Mim?!’ Mas, poderíamos dizer, somos então obrigados a amar assim? Bem sei que o preceito de amar assim não se acha escrito, não há necessidade. Nada o diz, tudo o clama! A Lei está em nosso coração!

Notem a paixão da afirmação: “Nada o diz, tudo o clama!” Está muito bem apresentado! Nota-se o “entrant” [o ardor, o entusiasmo, n.d.c.] do homem!

(Aparte: É uma explicitação do 1º mandamento.)

1º mandamento! Por exemplo, comentário do 1º mandamento assim, vocês terão ouvido muito poucos.

“Sim, o que me aterroriza é que os cristãos pensarão de boa vontade seriamente em todos os mistérios, e votar-se-ão ao culto de algum santo; e a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, não. Mas, por quê? Ah, é porque não se pode considerar atentamente ao Santíssimo Sacramento sem dizer: é preciso que eu o ame, que vá visitá- Lo, não posso deixá-Lo sozinho, Ele me ama demais!”

Considerem, do lado psicológico, esta explicação tão verdadeira teologicamente, como ela é boa, hein?! Não se vai ao Santíssimo Sacramento, porque se nota, se sabe, que Ele é envolvente demais; é o que está escrito aí. Então fica-se no culto desse santo, daquele santo e não se vai ao Santíssimo Sacramento, porque se percebe que será arrastado pelo amor. São os que têm medo do exagero. Se contentam com uma coisa menor, mas não querem que a graça os convide para os que eles consideram exagero.

“A Eucaristia é a mais nobre inspiração do nosso Coração. Amemo-La pois, apaixonadamente. Dizem: Mas é exagero tudo isso. Mas o que é o amor, senão o exagero? Exagero é ultrapassar a Lei, pois bem, o amor deve exagerar. O amor que nos testemunha Nosso Senhor permanecendo conosco sem honra e sem servidores, não é também exagerado? Quem se limita absolutamente ao que é seu dever, não ama. Só se ama quando se sente interiormente a paixão do amor.”

Poderia vir uma objeção quanto a esta impostação de São Pedro Julião Eymard: esta paixão assim corre o risco de levar as pessoas às vezes ao exagero. E que, portanto, para evitar este risco é prudente ficar aquém.

São Pio X tem uma afirmação interessantíssima a este respeito.

Cardeal Ferrari, Arcebispo de Milão, reagiu com violência contra justas críticas feitas pelo diário católico "L’Unità", a uma publicação eivada de modernismo apoiada pelo purpurado. São Pio X acorreu em defesa do jornal. Escreveu então ao ilustre Prelado: "Surpreende-me que V. Emcia. considere as justas observações de "L’Unità" como insulto a V. Emcia. Como se se tivessem acusado V. Emcia. de ser pouco perspicaz ou pouco devoto da Santa Sé. Que deveria dizer neste caso o Papa quando lê as "santíssimas críticas" ao "Corriere d’Italia, ao "L’Osservatore Romano" e ao Mestre do Sagrado Palácio, que dá o imprimatur a livros logo depois condenados pelo Índex? O Papa agradece aos censores que o ajudam a conhecer o mal que não tinha visto" (Carta ao Cardeal Ferrari de 27-2-1910). Percebe-se, sem dúvida, que São Pio X alude aqui a críticas então feitas contra a Santa Sé, a propósito de publicações no órgão oficioso "L’Osservatore Romano", e de decisões do Mestre do Sagrado Palácio, alto dignitário vaticano, da confiança direta do Papa. Num gesto sublime, cheio de justiça e mansidão, o grande Santo não se esquiva aqui da responsabilidade que lhe toca pelo ocorrido. Antes aceita as críticas sagazes e justas, como uma verdadeira colaboração. E a agradece.

Quer dizer, portanto, quando o exagero não fica longe das fronteiras do equilíbrio, o exagero do bem é um “peixe pequeno”. Não sei se me exprimi bem? Não tenhamos medo, porque o homem é falível, e em qualquer posição pode errar. Prefiramos errar deste lado, do que errar do outro lado.

Ora, o que os partidários da perpétua moderação criam é um pânico dos desequilíbrios do que consideram exagero. Eles não têm pânico, nem medo dos desequilíbrios da moderação. Nada, nada. Eles exageram os riscos do exagero. Estes são eles...

Bem, estou imaginando a situação: vocês chegam e encontram gente ocupada, gente cansada... e então lhes dizem: “Aqui tem uma fita com uma reunião bem potável que Dr. Plínio fez. Vocês não querem ouvir?” Reação: “Não, isso é para depois. Dr. Plínio vai nos levar para horizontes, para coisas que não são o problema da encomendazinha que eu tenho que fazer agora, do servicinho que eu tenho que fazer daqui a 10 minutos; ele vai me levar para ideias exageradamente grandes, cogitações exageradamente altas, ele vai me tirar de dentro das minhas raízes. E eu perco minha eficácia apostólica ou burocrática, se eu agora for ouvir uma reunião dele. É melhor eu ficar dentro do meu panorama, e um domingo destes qualquer que eu tenha tempo…” - ou seja, um domingo que nunca virá... – “eu vou ouvir esta reunião”. E, portanto, não se ouvirá.

Há também os que estão aqui e que ouviram a reunião. Chegam lá, e a atmosfera é toda outra: há uma coisa que impede de ouvirem de novo essas palavras de São Eymard com proveito. E dessa reunião vai ficar zero!... Eu estou perdendo meu tempo, se nós não tomarmos, portanto, providências muito exatas, eu estou falando do mundo da lua.

Isto é uma calúnia vil e baixa, é um exagero, ou há algo de verdade nisso? como é “fulano”?

(Aparte: Se estas medidas puderem se estender até Curitiba...)

Podem! Mas é isso! Sicrano, como é isso?

(Aparte: Espero que tenha sido verdade até hoje, e que de amanhã em diante não seja mais.)

É muito bonito o dito, tem paixão até... Bem, o que é que se pode fazer para dar a isto uma certa vitalidade, hein?

Evidentemente não é a solução arranjar uns letreiros bonitos e pôr isto dentro da capela. Porque pelo mesmo estado de espírito, se banaliza, bagateliza, a pessoa olha, não se incomoda mais... Era preciso uma outra coisa qualquer.

(Aparte inaudível)

Acho que se poderia fazer uma coisa, aproveitando esta ideia e a desenvolvendo um pouco, que seria o seguinte: não posso prometer, porque não sou um porta voz de Nossa Senhora, mas acho que seria sumamente razoável afirmar o seguinte: quem quer ter êxito no seu apostolado e na sua ação concreta, fará muito bem se destinar 15 minutos por dia para, na capela, ler todos os dias estas frases de São Pedro Eymard. Claro que querendo parar para pensar, refletir, obviamente que se pode. Mas ler, ainda que seja árido, ainda que não valha nada, ainda que a pessoa tenha vontade de sair correndo, ainda que não acredita. Leia, leia, leia! Alguma coisa ficará.

Oferecer a Nossa Senhora estes 15 minutos e, sobretudo, quando se estiver com tédio e se tiver a impressão que é inteiramente inútil, oferecer pelo êxito do apostolado.

Devemos ter diante de nossos olhos como nós somos, com nossas fraquezas. Não vamos fazer pelo êxito do apostolado de toda a Contra-Revolução porque nós temos mais empenho pelo nosso apostolado individual do que pelo apostolado geral. Então, façamos pura e simplesmente pelo êxito de nosso apostolado individual, pelo que se vai desenvolver naquele dia ou no dia seguinte, por exemplo. Até com a liberdade de pedir a Nossa Senhora que seja por tal ponto de nossa atividade ou tal outro. Isso acho que pode pegar.

Não sei o que acham disso?

(Aparte inaudível)

Nada é como as palavras de São Julião Eymard. É preciso lê-las. Mas durante estes 15 minutos, leem-se as palavras dele. Está certo? Mas, fazermos isto em Curitiba também, não é verdade meu filho?

(Aparte: Isto é muito aproveitável para o apostolado.)

Muito, mas muito!

Então, uma sugestão: ver se há livros de São Julião Eymard que a gente possa colocar na Sede, e que um ou outro possa ler alguma coisa disso antes da Comunhão, em português, ou em francês. Sem nunca se esquecerem que a piedade ao Santíssimo Sacramento passa por Nossa Senhora. Ela é a Medianeira junto ao Santíssimo Sacramento. E que, portanto, a invocação de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento é absolutamente apropriada para todas essas considerações.

Tudo isto viveu no Coração Sapiencial e Imaculado dEla, com uma intensidade de qual o fervor de São Julião Eymard não é senão uma fagulha. Assim era Ela... Podem imaginar Nossa Senhora numa sala, ao lado de onde Nosso Senhor celebrou a Primeira Missa, e ouvindo - talvez tenha visto - a Consagração, e a primeira vez na História que havia a Eucaristia, o Pão se transubstanciava, o vinho se transubstanciava, e este milagre se operava, o fervor dEla o que é que foi?! Todos os Anjos não eram nada em comparação com isto! Então, pedir a Ela este fervor. É um conselho.


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