Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

O Batismo

 

 

 

Catolicismo, N° 563, Novembro de 1997 (*)

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Em quadro do século XVIII representando esse Sacramento, nota-se mescla de pompa, ostentação de elegância e restos de espírito sacral

 

Na igreja [que figura no quadro desta contra-capa], embora seja ela renascentista, predomina uma atmosfera representada pela meia luz.

O batistério à direita, com todo seu esplendor escultural, dá bem a idéia da glória do batismo.

O soalho, muito polido, reflete luzes indefinidas.

As pessoas que vamos analisar apresentam atitudes dignas. Todos seus gestos são nobres, elegantes, distintos, indicando que elas compreendem que estão num lugar de respeito, assistindo a uma cerimônia pomposa, que exige delas toda compostura.

Esta senhora, cuja atitude parece o contrário da pompa - porque muito embevecida com a criança que a madrinha está apresentando ao Padre para ser batizada -, mesmo nessa atitude, tem uma dignidade perfeita (detalhe 1). Com que elegância ela segura a saia. As dobras ficam quase mais bonitas assim do que se ela não as estivesse segurando. Com que leveza a mão pega o tecido, sem o amassar. Sua mão e seu braço ficam bonitos. Instintivamente ela estudou tudo para ficar belo, porque é uma senhora tão educada, que não faz um gesto despreocupado que não seja belo. 

Este homem está de pé numa posição natural, mas denota certa elegância e distinção (detalhe 2).

Esta outra senhora está um mimo. Vestida de branco - uma vez que a cerimônia batismal exprime candura - mas um branco meio prateado, de alta classe. Rendas magníficas que esvoaçam; e o esvoaçar tem uma distinção enorme no traje feminino (detalhe 3). 

Esta terceira senhora está portando a criança de acordo com os mesmos princípios da escola estética com que a outra segura o vestido (detalhe 5). Não se tem a impressão de que ela está fazendo força. Nada é mais feio do que uma madrinha que lute a duras penas para segurar o bebê. Ridiculariza a cerimônia! Ela, não. Tem-se a impressão de que a criança é peso pluma para ela.

Este casal - que evidentemente é de parentes mais distantes ou de amigos que têm menos a ver com a cerimônia - colocou-se mais longe da cena, compreendendo que não ficaria bem, sendo estranho à família, estar lá pelo meio (detalhe 4 - acima). Mas tanto ele quanto ela assume uma posição de quem compreende que participa de algo importante. 

Em resumo, podemos dizer que o conjunto da cena reflete uma atmosfera de pompa, ostentação de elegância ou faceirice, com uma nota sacral. Pompa e faceirice são muito maiores do que a nota de sacralidade, isto é, nota voltada para os aspectos veneráveis e santos de tudo aquilo que se relaciona diretamente com Deus, como, por exemplo, o Sacramento do Batismo e o interior de uma igreja católica.

A sacralidade transparece na cerimônia como um resto, notando-se aquela muito mais nos objetos e na luz da igreja do que nas pessoas. Estas assumem atitudes nobres e distintas muito mais por faceirice e por senso estético do que movidas por uma preocupação de caráter sacral.

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP em 15 de abril de 1967. Sem revisão do autor.


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