Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentários a invocações da ladainha do Sagrado Coração de Jesus

 

 

 

 

 

Santo do Dia — 24 de junho de 1965

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

Hoje é a vigília de uma grande festa: a do Sagrado Coração de Jesus.

Eu recomendaria muito aos senhores que lessem a ladainha do Coração de Jesus. É uma verdadeira maravilha! Algumas invocações quero comentá-las hoje.

Em primeiro lugar, essa belíssima invocação: Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe.

Se considerarmos o Coração de Jesus, que é – em sua realidade material e carnal – o objeto de nosso culto como símbolo da vontade de Nosso Senhor e, portanto, do amor de Nosso Senhor; se considerarmos que o Coração de Jesus foi formado no seio Imaculado de Nossa Senhora e com a matéria que a Mãe dá para a formação do corpo do filho. E, portanto, a carne santíssima, e ligado à divindade em união hipostática, de Nosso Senhor Jesus Cristo, é a própria carne de Maria; o Sangue de Jesus é o próprio sangue de Maria; o Coração de Jesus é de algum modo o Coração de Maria.

E nessa evocação desse processo de geração tão admirável, pelo qual a mãe como que se desdobra e dá de si mesmo tudo para constituir o corpo do filho; se nós nos lembramos que Jesus foi todo ele assim formado do corpo de Maria e isto num oceano, num incêndio de amor e de adoração para com esse Filho que Ela estava formando em suas entranhas, compreendemos ainda mais como o Coração de Jesus está ligado ao Coração Imaculado de Maria e como podemos ter uma confiança sem reserva na eficácia da intercessão de Nossa Senhora junto a Nosso Senhor, tomando em consideração que Nosso Senhor não poderia recusar nada àquela Mãe Santíssima, perfeitíssima, da qual Ele não só não tem nenhuma queixa, mas da qual tem o mais superlativo e total contentamento que um Criador pode ter em relação à sua criatura, e mais ainda, do qual sabe que Sua própria carne é a carne de Nossa Senhora e que Seu próprio Coração é o Coração de Nossa Senhora, por assim dizer.

Acho que esta invocação, para os que são devotos de Nossa Senhora, tem um grande significado que não poderia passar desapercebido nestes comentários.

Outra lindíssima invocação é: Coração de Jesus, de majestade infinita.

Santo Agostinho diz o seguinte: “Onde está a humildade, aí está a majestade” (ubi humilitas, ibi maiestas – Sermão 14), ou seja que as duas coisas são inseparáveis.

Daí concluímos que o Coração de Jesus, que é um abismo de humildade, é por isso mesmo um firmamento de majestade. Eu gostaria de ser artista e saber representar a figura de Nosso Senhor para tentar exprimir exatamente não só a majestade, nem só a humildade, mas Nosso Senhor numa dessas apresentações em que a gente vê, num só relance, aquilo que a majestade tem de comum com a humildade, ou aquilo que a humildade tem de comum com a majestade, e que é aquela esfera superior de virtude onde essas duas virtudes particulares como que se encontram e se fundem. 

 

O “Beau Dieu d'Amiens” 

Lembro-me aqui da figura do “Beau Dieu d'Amiens”, que é tão expressivo nesse sentido. É uma figura que não tem o Coração de Jesus, mas é Nosso Senhor Jesus Cristo no portal da catedral de Amiens, e que sempre me deu muito essa impressão: um rei digníssimo, um doutor nobilíssimo, mas ao mesmo tempo tão sereno, tão manso, tão senhor de Si completamente que se percebe que Ele seria capaz de receber a pior injúria e de Se conservar inteiramente quieto, inteiramente sereno, não ter nenhuma reação de amor próprio, desde que fosse isto a virtude do momento.

Essa imagem do “Beau Dieu d'Amiens”, tenho a impressão que é uma das que melhor demonstram essa ligação da suma majestade com a suma humildade.

Nós que prezamos de sermos filhos da Contra-Revolução, tomando em consideração que a Revolução caricaturiza a humildade e cala a majestade, deveríamos pedir ao Coração de Jesus que desse ao coração de cada um aquela forma elevada e nobilíssima de majestade, que deve ter todo contra-revolucionário, que traz em si o senso da realeza, o senso da ordem perfeita, da honra, da hierarquia e do que é majestoso, mesmo quando se é o mais humilde dos homens

 

Breve vídeo com os restos mortais da Bem-aventurada Ana Maria Taigi, na igreja de São Crisógono (Roma)

 

 

Eu não poderia deixar de lembrar aqui aquela figura extraordinária da  Bem-aventurada Ana Maria Taigi (1769-1837) que era uma simples cozinheira em Roma, que não queria passar por rainha, mas que tinha de tal maneira a figura da majestade que era impossível passar perto dela sem que alguém não se sentisse intimidado.

Ou então de Santa Teresinha do Menino Jesus, que era tão majestosa na sua despretensão e na sua afabilidade, que até o pai dela a chamava sempre “minha pequena rainha”.

Outra invocação: Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade. Os senhores sabem que o Coração de Jesus é uma fornalha ardente de amor de Deus, porque caridade é propriamente o amor de Deus. E o fato dEle ser a fornalha ardente – ou seja não só uma fornalha, que de si já traz a idéia do ardor, mas é uma fornalha ardentíssima –, exprime bem a idéia de que Ele é o foco de todo o amor de Deus, e que a devoção ao Coração de Jesus por intermédio do Coração Imaculado de Maria é especificamente esplêndida para quem se lamenta de ser tíbio, de estar se arrastando lentamente na vida espiritual, esta devoção é a que comunica este fogo da fornalha da caridade.

De maneira tal que se queremos, para nós ou queremos para outros,  verdadeiro amor de Deus, esta é uma das devoções mais indicadas e mais excelentes.

Também me parece muito importante para nossa época, a invocação Coração de Jesus, paciente e misericordioso. O que quer dizer, propriamente, paciente? Paciente é aquele que sofre; é o Coração de Jesus sofredor e misericordioso. Porque sofredor, é capaz de sofrer também as injúrias que nós lhe fazemos.

Vem o segundo sentido da palavra paciente. Mas então o Coração de Jesus enquanto disposto a sofrer, enquanto amando o sofrimento, enquanto compreendendo que o sofrimento é a grande lei da vida e que uma existência sem sofrimento não vale absolutamente nada.

 

O homem vale na medida de sua capacidade de sofrer 

Porque, em última análise, vistas as coisas sob um certo ângulo, a vida do homem vale na medida em que sofre e ama o sofrimento que padece. E então aqui temos o Coração de Jesus paciente.

Uma das expressões mais típicas da capacidade de sofrer é o espírito de iniciativa, por onde o homem vence a preguiça, vence a moleza, vence o tédio, vence o amor a si mesmo e se joga ao trabalho, e se joga à luta e se joga até ao mais grosso e ardoroso da luta, se for necessário, quites a deixá-la imediatamente se o interesse da Igreja conduzi-lo no sentido oposto.

Aqui está a forma superior de paciência, que é esse espírito de iniciativa e de combatividade, por onde o homem renuncia a todas as suas preguiças, a todos os seus relaxamentos e é isto que devemos pedir ao Coração de Jesus, paciente e misericordioso.

Misericordioso quer dizer quem tem pena: é um corolário do segundo sentido da palavra paciência. E aqui vem esta outra questão: a enorme dificuldade de convencer as almas da minha tão cara geração nova da misericórdia de Deus, que perdoa uma vez, perdoa duas vezes, perdoa duas mil vezes e só não quer que se desanime do perdão.

Então, para termos confiança no perdão de Nosso Senhor, pela intercessão do Coração Imaculado de Maria, aqui está uma invocação magnífica: Coração de Jesus, paciente e misericordioso. Paciente com os meus defeitos, com os meus pecados; misericordioso com relação a minhas lacunas, pelo Coração Imaculado de Maria, tendo pena de nós. É uma excelente invocação até para recitar durante o dia, para não se perder a confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Um método para fazer ação de graças 

Duas outras invocações: Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados. Às vezes acontece que nos sentimos fundamentalmente indignos, e isto até as almas mais puras e mais altas podem senti-lo. E compreendemos que diante da justiça infinita de Deus, não somos absolutamente nada. Mas há essa invocação, que é uma tranqüilidade para nós. O Sagrado coração de Jesus é uma propiciação pelos nossos pecados.

O que significa propiciação? Eu não valho nada. Os sacrifícios que faço – porque provem de mim que não valho nada – também de si não valem nada. Mas há uma vítima que vale tudo, porque é uma vítima sem mancha, sem jaça, é uma vítima ligada por união hipostática à própria divindade, e essa vítima é Nosso Senhor Jesus Cristo, que Se ofereceu por mim. De tal maneira que tudo aquilo que eu tenho receio de não conseguir, esta vítima consegue.

Meus pecados, essa vítima os carregou. Meus pecados, essa vítima sofreu por eles. E por causa disso considero os meus pecados com uma vergonha, com uma contrição, pelo menos com uma atrição, mas em todo caso com uma imensa confiança, porque Alguém morreu por mim, Alguém derramou por mim todas as gotas do seu Sangue.

E eu tenho confiança não em mim, mas neste Sangue infinitamente precioso, que por mim foi derramado.

Uma última invocação: Coração de Jesus, fonte de toda consolação.

A palavra consolação tem também dois sentidos: 1) ela corresponde a  fortalecimento; 2) em outro, ela quer dizer alegria, suavidade e unção do Divino Espírito Santo na alma. Em ambos sentidos o Sagrado Coração de Jesus é fonte de toda consolação. A nossa força vem dEle. E quando nos sentimos fracos, tíbios, desorientados, sobretudo quando estamos diante de algum grande ato de generosidade ao qual estamos chamados mas sem coragem de concretizá-lo, não devemos fazer “olimpismo”; não devemos imaginar que é só por nós que o conseguiremos fazer. Não! O Coração de Jesus é a fonte de toda a força; por meio do Coração Imaculado de Maria,  que é o canal único e necessário para se chegar ao Coração de Jesus, dirigir-se  ao Coração de Jesus, e pedir-Lhe forças. Não serei frustrado no meu pedido e,  em determinado momento, terei a força de que preciso para fazer inclusive as coisas mais árduas e difíceis com relação à vida espiritual.

Aí estão algumas considerações que podemos aproveitar para a comunhão.

Como é excelente, para a comunhão por exemplo, levar a ladainha do Sagrado Coração de Jesus, e cada dia escolher – talvez até a esmo – uma das invocações para comungar tomando em consideração que se está recebendo na alma a presença real, física, verdadeira e viva daquele Coração do qual se está meditando que é, v. g., fonte de toda fortaleza. E então fazer a comunhão assim, por exemplo:

Senhor, Vós sois fonte de toda fortaleza, e eu quereria ter mil vezes mais força do que tenho para vos servir melhor. Sei que esta fonte de fortaleza está presente dentro de mim; sei que esta fonte de fortaleza sois Vós. Dai-me forças contra vossos inimigos externos e contra as tendências más que há em mim e que são vossas inimigas também. Tende compaixão de mim, eu vos peço pelo Coração Imaculado de Maria.

Isto deve ser feito por movimentos livres da alma. Mas aqui está uma sugestão - que não vale mais do que uma sugestão – a fim de que quando se esteja na aridez e, por assim dizer, sem assunto para com Nosso Senhor na comunhão, tomarmos uma dessas invocações dessa ladainha e rezá-la: a comunhão poderá ser fonte de verdadeiras graças.

 


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