Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Versailles
O sorriso que convida para a grandeza

 

 

 

Catolicismo, N° 604 - Maio 2001 (*)

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Nas ilustrações aqui apresentadas, do célebre palácio de Versalhes, na França, a primeira coisa interessante de se notar é como o edifício, em seu conjunto, olhado de relance, causa a seguinte impressão: é belo, agradável. Não oferece mistérios. Aliás, o próprio da arte da época em que o palácio foi construído é apresentar-se sem mistérios, de tal modo que tudo está explicado.

 

Os jardins exibem uma extraordinária riqueza de coloridos e de formas. São linhas sinuosas formadas por flores — o elemento floral é muito carregado —, folhagens e gramados, entrecortados por caminhos de pedregulho.

Contrastando com o que os jardins poderiam ter de muito raso, notam-se pontas em ciprestes, rigorosamente aparados, que se multiplicam mais ou menos por toda parte.

 

 

As fontes, com bordas de mármores, contêm chafarizes em vários pontos; de maneira que, quando é ligada a água, formam-se arcos com esguichos variados, criando uma fantasia de movimentos. Todos eles muito harmoniosos e sóbrios, dando origem a uma espécie de castelo de água em frente ao castelo de pedra.

Chamo a atenção antes de tudo para a cor do palácio. É uma cor meio indefinível, um pouco dada a creme. Ela é tão discreta, que se nota ser bela, e depois não se pensa mais no assunto. A idéia da cor passa como que desapercebida.

O palácio ostenta em relação aos jardins um contraste flagrante. Enquanto estes caracterizam-se pelas sinuosidades, quase o excesso de sinuoso, o edifício é todo constituído de ângulos, quase o excesso de ângulos. Exatamente esses quase excessos que se tocam descansam a vista, e causam a impressão de harmonia.

Em outros termos, há um contraste muito inteligente, muito bem pensado, em que no palácio refulge o retilíneo imponente, majestoso, sério, forte, coerente, de uma coerência cartesiana e quase hirta. E nos jardins reside o oposto, ou seja, o sinuoso risonho, amável, afável, aprazível, convidando o observador a ficar à vontade junto a tanta grandeza.

No palácio vemos expressa a grandeza. Nos jardins, o sorriso que convida para a grandeza.

Tudo isso caracteriza bem a época em que Versalhes foi edificado, o Ancien Régime (Antigo Regime), ou seja, era da naturalidade diáfana, leve, risonha, ultra bem pensada, e que, depois de produzir uma obra-prima, diz com naturalidade: “Eu sou assim!”

É a última expressão da elegância dentro da concepção francesa. Ninguém poderá qualificar como medíocre tal concepção. Poderão dizer dela tudo quanto queiram, medíocre não é! Ela é propriamente extraordinária! 

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP em 10 de junho de 1969. Sem revisão do autor.


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