Plinio Corrêa de Oliveira

 

Rosa: esplendor da ordem com poesia


Orquídea: a beleza do inusitado


Tulipa: obra-prima de coerência

Santo do Dia, 6 de março de 1971

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

Há não poucos anos, alguns holandeses conseguiram trazer para o Brasil raízes de tulipas e conseguiram plantá-las, porque aqui tudo dá... 

Já Pero Vaz de Caminha, quando escreveu para Dom Manuel, Rei de Portugal (séc. XVI), a primeira carta do Brasil - era um longo relatório, aliás num lindo português, um mimo da língua portuguesa – com uma descrição do País, teve ele aquela famosa frase: “Essa terra, Senhor, é dadivosa e boa, nela em se plantando tudo dá”... Então, acabaram dando as tulipas também. E alguém me pediu que eu fizesse um pouco a descrição ou “Ambientes e Costumes” sobre a tulipa.

A tulipa é a mais bela das flores? Resposta: a meu ver, não é. Nós temos duas flores que, para o meu gosto pessoal, dou a elas primazia sobre as tulipas.

A primeira evidentemente é a rosa. Queira-se ou não se queira, uma rosa inteiramente bonita, perfeita e acabada, é uma glória, é uma beleza, é uma maravilha, é uma ordenação como não tem igual. Ela ocupa o primeiro lugar.

Depois da rosa - e aqui é uma opinião ainda mais pessoal, creio que não compartilhada por muitos - há um tipo de flor que dá maravilhosamente no Brasil. Ouvi dizer que dá mais belamente ainda na Colômbia: são as orquídeas, mas que, entretanto, indica um gênero de beleza profundamente diferente da rosa.

 

A rosa traz consigo o esplendor da ordem!... Ela é eminentemente ordenada, as pétalas estão todas postas em ordem e todas as formas de belezas da rosa obedecem a um raciocínio. Não há nada de previsto na rosa. Eu estaria longe de dizer este horror que a rosa seria planificada! Mas dir-se-ia que um poeta a planificou... Deus Nosso Senhor a planejou, a destinou. Tudo nela é ordenado, estabelecido, arranjado. Ela tem o perfume que está na sua forma de beleza e possui a beleza da ordem prevista, racional e explícita. A rosa é uma formidável explicitação do conceito de beleza!

 

 

Se isto se pode dizer da rosa, o contrário é a orquídea. A orquídea é rara, é singular, prega surpresas, tem pétalas que se movem de um jeito quase de um balé vegetal, para direções que ninguém imagina e que se compõe em torno da parte central de um modo que também varia de um tipo para outro. A parte central da orquídea é sempre de uma beleza magnífica, mas que não se esperava. Por exemplo, brancas na orla e depois de um vermelho e de um roxo aprofundado e que chega até a uma parte misteriosa dentro, onde se tem a impressão de que há um vermelhíssimo sublime que não se mostra por uma espécie de recato, por aquela espécie de movimento que leva as coisas verdadeiramente muito superiores a não se exibirem, enquanto as coisas charlatanescas se exibem.

Assim, há formas de orquídea incomparáveis, mas todas elas com a beleza do fantasioso, do inesperado, de uma alta distinção que parece dizer a quem a vê: “Confessa que tu não me imaginavas e que sou muito superior a tudo quanto pensavas”...

Há um “não me toques” na orquídea que faz parte de outra família de beleza. Não é a beleza de desordem – porque esta é desprovida de qualquer forma de beleza –, mas é desses estilos superiores de ordem, que o raciocínio não constrói e que só a fantasia sabe compor, que estão muito na forma de espírito das nações latino-americanas. E, creio eu, que são sobretudo na forma de espírito de duas nações psicologicamente muito parecidas: o Brasil e a Colômbia. O capricho, o inesperado, o entusiasmo... também, às vezes, o ressentimento, a vingança, conforme a ocasião a violência, mas seguida logo depois de uma reconciliação afetuosa, e às vezes afetuosamente afetuosa. Todo este vai-e-vem temperamental, eu vejo de comum entre o brasileiro e o colombiano. E aí está a orquídea a marcar dessa maneira as peculiaridades do espírito dos povos que a Providência haveria de colocar lá um dia no mundo.

 

Entre outras cores – talvez a mais bonita – é esta cor de vinho quase dada ao bordeaux, ao menos quando o bordeaux é visto contra o sol. Os senhores estão vendo que esta cor de vinho não tem nada do indefinido da cor da orquídea. A cor da orquídea - aliás, variam muito as cores da orquídea - mas a cor da orquídea mais comum é lilás, que tem uma tonalidade meio indefinida. E causa a impressão de que a gente tem o céu por um instante e que muda de repente, é insensível, a gente não pega bem. Esta cor vinho, não: é uma cor estável, definida.

A orquídea é uma parasita, mas ela toda fala de auto-suficiência e de independência. Os senhores vejam com que altaneria ela se levanta, como ela está de pé e como ela carrega, com uma espécie de equilíbrio, bem na ponta, o mais belo de si mesma. É um equilíbrio um pouco altivo, as próprias folhas cercam uma haste e se desprendem para deixar passar uma haste que vence todos os obstáculos e que se afirma quase como uma lança. No alto, esses cálices – porque são verdadeiros cálices rubros – e quando se abrem mais, as pétalas fazem um jogo mais ou menos como se debruçasse para revelar uma beleza interior ainda maior.

 

O que é a tulipa?

A tulipa é uma muito bonita flor. Ela é uma flor tão bonita, que quando a gente a vê, se pergunta se algo pode ser mais bonito do que ela. Ela existe em várias cores. Entre outras, em negro também. É a única flor que eu conheço que dá flor preta.

Qual é sua beleza? É claro que é a beleza da cor, mas é também a beleza da harmonia. Há uma proporção entre a altura, o diâmetro, o tamanho de cada flor, que faz dela uma obra-prima de coerência. E quando a gente admira isto, a gente sente a alegria de ser um ente racional, sente a beleza da razão... a gente não sente a beleza da fantasia. Não está presente aí a fantasia; está presente a razão. É uma ordem de belezas como a da rosa e de tantas belezas da maravilhosa Europa: equilibrada, racional, na qual - exceto uma famosa Península (Itália) que já tem a fantasiosa forma de uma bota – tudo  é racional, equilibrado e sem fantasia.

Os senhores dirão: “É só isto a beleza da tulipa?” Eu digo: não. Ela tem muita proporção com o caule, não pesa sobre o resto, ela tem o tamanho exato, é uma verdadeira obra-prima!

Ela, para nós, para o homem moderno, dá especialmente um ensinamento interessante. O espírito contemporâneo é profundamente falseado numa ordem de valores que Deus pôs e que se pode considerar no plano metafísico. Mas por sua tendência igualitária, o homem contemporâneo não considera de grande classe muita coisa que o é! Se algo não é de primeira categoria, é de segunda classe – conforme a mentalidade moderna. E ao considerar como sendo de “segunda classe”, já entra algo de pejorativo: seria uma porcaria que não vale nada.

Os senhores podem dizer que em relação à rosa a tulipa é uma flor de segunda classe? Bela como a rosa, ao menos ela não é. Mas não é segunda classe no sentido pejorativo da expressão. Ela é uma linda flor que constituiria,  por si só, uma maravilha do universo floral. Ela está logo junto à rosa. Quando a gente a vê, nem deve compará-la com a rosa, porque ela tem uma forma de beleza na qual é suprema, sendo menos bela que a rosa. Por que? Porque é uma idéia estúpida do homem revolucionário contemporâneo que o que não for primeiro-primeiríssimo é lixo. Mas, pelo contrário, há uma porção de lugares na gradação das coisas. E nós devemos amar a beleza própria de cada grau.

O ensinamento que nos proporciona a orquídea é de modéstia, de humildade nesse sentido da palavra: encontra-se tão alta na hierarquia dos valores – mas não é a primeira – e entretanto dá esplendidamente glória a Deus Nosso Senhor que a criou! Isto prova que a hierarquia tem uma razão de ser. Não se trata de um achatar o outro, mas de um respeitar o outro, embora com graus, formas e níveis de resplendor desigual. E nesse sentido, a gente poderia dizer que a orquídea é uma flor do anti-igualitarismo.

Se a rosa é uma flor de anti-igualitarismo para mostrar a beleza do grau supremo, a orquídea é uma flor do anti-igualitarismo para mostrar a beleza desses graus intermediários em relação aos quais o espírito moderno é tão pouco compreensível.

Tulipa preta, "a rainha da noite" (Queen of the Night) 

Em relação à tulipa negra. Quando soube que havia tulipas negras, eu me perguntei: para que há de servir uma flor preta? Será para cruzes de defunto? Mas há de haver uma razão qualquer para que a tulipa negra exista.

Os franceses ornamentam as vitrines com um tino particular. E, por exemplo, colocam flores ainda que seja em uma loja de sapatos e a gente pára para comprá-los porque alguém inteligentíssimo havia colocado num canto um  jarro com flores...

Passando certa ocasião de automóvel por uma rua de Paris, eu vi na vitrine de uma loja, que não era uma floricultura, um jarro com tulipas de várias cores e, no meio delas, uma preta. Que coisa linda! pensei eu. E aí eu compreendi porque Deus fez as tulipas pretas. Os senhores não imaginam como realçava a beleza de todas as outras! E como daquela noite escura saía um contraste tal, com o preto, que se alguém quisesse tirar o preto, eu diria: Não tire, porque é uma das notas mais bonitas do jarro!

Mas era uma forma de fantasia racional, a la francês. Era um teorema a respeito de cores. Mas o automóvel passou rápido, com a rapidez dos taxis velhos da França de outrora, quer dizer, uma rapidez lenta. Eu regalei os olhos com aquilo! Mais ainda: regalei a inteligência, pois compreendi a razão de ser de uma maravilha de Deus!

Vista parcial de uma vitrine de uma casa de tecidos em Paris


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