Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Alma e mentalidade do povo russo

 

 

 

Catolicismo, N° 572 - Setembro de 1998 (*)

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Coroação do Czar Nicolau II: cerimônia com solenidade, ricos paramentos

O que se pode dizer da alma e da mentalidade russas?

Convém fazer uma observação preliminar: ficaram submetidos ao jugo comunista durante 70 anos. E essa tirania foi de tal ordem, que se poderia dizer: salvo estes ou aqueles homens, a mentalidade autêntica do povo russo foi aniquilada. O que é um fato própria e especificamente catastrófico para um país.

Em face disso, coloca-se outra pergunta: como eram os russos antes do comunismo?

Havia duas Rússias. Uma, a de São Petersburgo e, outra, a de Moscou.

São Petersburgo é uma cidade situada junto ao Rio Neva, perto do Mar Báltico, que mantém comunicações fáceis com a Europa Ocidental através do Mar do Norte e do Mar Báltico. Essa região do país era muito ocidentalizada.

Havia também a Rússia de Moscou, mais profunda, em que tudo se processava de acordo, ainda, com o que se poderia chamar de Idade Média russa. Essa época histórica correspondia à Rússia de Ivan, o Terrível. Apresentava uma arquitetura regional muito bonita, mas bastante misteriosa: salas com sombras, penumbras e esconderijos. Vida de corte no Kremlin – que era a residência do Czar – de um fausto extraordinário, que refletia luxo muito grande, correspondente à grandeza do Império russo.

 

Interior da majestosa Catedral de São Pedro e São Paulo, São Petersburgo, construída em etilo barroco

Como era a alma do povo? Denomino povo o conjunto da população: desde o Czar até qualquer indivíduo de baixa condição social.

População inteligente, não muito amiga do raciocínio, mas sim da imaginação. Por isso, nela eram menos frequentes grandes sábios do que literatos de porte. Estes sim, numerosos e de renome internacional.

O gosto pela imaginação inclinava certa parcela desse povo a apreciar a bebida e a menosprezar o trabalho. E os romances russos eram marcados por tal mentalidade. Mas como os literatos desse povo possuíam uma verdadeira capacidade de fazer sentir em seus escritos o que eles pensam, os romances russos difundiram-se pelo mundo inteiro. Por exemplo, as obras de Dostoievski e uma série de outros escritores.

 

Fonte Grande Cascata situada no parque do Palácio denominado Corte de Pedro, em São Petersburgo. Edificado pelo Czar Pedro, o Grande, no início do século XVIII, esse palácio reflete de modo característico a Rússia ocidentalizada

Em virtude desse conjunto de fatores, nota-se uma certa desordem dos espíritos.

A que se deve tal desordem? Só ao temperamento nativo do povo?

Tenho forte impressão de que não. Mas que essa desordem é devida ao fato de que, ainda durante a Idade Média, o povo russo rompeu com a Igreja Católica e constituiu uma igreja denominada greco-cismática. Os russos abraçaram o cisma grego contra Roma. Mas, tornando-se independentes da Grécia e de Roma, os Czares praticamente erigiram-se como chefes da igreja cismática russa. E todas as características da alma desse povo encontram-se também nessa igreja cismática.

As cerimônias religiosas e a liturgia são esplendorosas, mas têm uma origem anterior ao cisma, que data de uma época em que a Rússia era católica. Os paramentos riquíssimos, a liturgia apresenta cerimônias muitos longas, solenes e belas. Os padres cismáticos em geral eram homens enormes, robustos, com longa barba e bigode, ostentando olhares escuros – como costumam ser o dos russos, em geral -, que lembram os olhos de reis assírios da Antiguidade.

Eis aí alguns traços do estado em que se encontravam a alma e a mentalidade russas antes de se abater sobre tal povo o flagelo do comunismo, em 1917. 

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP em 17 de setembro de 1992. Sem revisão do autor.


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