Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Guilherme II e a Imperatriz Sissi

 

 

 

Catolicismo, N° 774, Junho de 2015 (*)

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Soberano prototípico de sua época rende homenagem às “maneiras cheias de dignidade e ao porte magnífico que caracterizavam a Imperatriz”

O Imperador Guilherme II (**), no episódio que vou comentar, era ainda príncipe herdeiro do Império Alemão. A Alemanha na época da Primeira Guerra Mundial em larga medida foi modelada pela atuação do Kaiser — tipo humano perfeito do nobre atualizado de fins do século XIX e das primeiras décadas do século XX.

Enquanto que a Imperatriz Sissi (***), esposa de Francisco José, soberano do Império Austro-húngaro, representava o passado.

Qual o efeito que tal passado produziu sobre o futuro Kaiser, considerado um homem moderno daquele tempo? Como a tradição é vista por um homem mais pobre em tradição diante de uma pessoa mais rica nesse sentido?

A questão é muito interessante para se compreender como é exercida a continuidade familiar e também como é a irradiação da nobreza sobre o tipo humano da nobreza.

O Kaiser, em seu livro de memórias “Minhas recordações”, narra seu encontro com a Imperatriz Sissi:

“Uma recordação da Imperatriz permaneceu indelével na minha memória. Um dia, a grande dama veio tomar chá em casa de minha mãe, em Hetzendorf. Eu estava ocupado exatamente em escrever meu diário, lamentavelmente perdido havia muito tempo, quando minha mãe me fez chamar no jardim onde ela passeava com a Imperatriz. A Imperatriz me cumprimentou com sua apurada amabilidade corrente e minha mãe me ordenou conduzir, durante o passeio, a longa cauda do vestido de Sua Majestade. Aceitei com entusiasmo a execução deste suave serviço de pajem e admirei suas maneiras cheias de dignidade e o porte magnífico que caracterizavam a Imperatriz. Ela cumpria à risca tudo o que exigia o antigo cerimonial das cortes: não se sentava, mas se colocava majestosamente; não se levantava, mas se elevava; não caminhava, mas avançava com dignidade. Este é o melhor modo de qualificar o ritmo precioso que orientava todos os movimentos da soberana.”

Notam-se bem os traços do nobre: uma amabilidade apurada. Refinada não apenas em certa ocasião, mas normalmente requintada. Também pode-se notar a hierarquia. A mãe ordenou “conduzir a longa cauda do vestido de Sua Majestade”. No palácio, a Kaiserina deveria ter quantos lacaios quisesse, mas era tal o seu respeito pela Imperatriz visitante, que mandou o príncipe herdeiro carregar a cauda. E ele não se sentiu diminuído no serviço de pajem, mas, pelo contrário, admirou a dignidade e o porte magnífico da Imperatriz. A nobreza deve ser assim. Tudo o que ele admirou era efeito do cerimonial antigo das cortes.

A linguagem do Kaiser é muito rica, reflete muito a substância do que estava vendo. Ele indica que todos os movimentos da Imperatriz eram assim, e não apenas esses de andar e sentar aos quais ele se referiu. A soberana não andava como qualquer pessoa, mas “avançava com dignidade”.

Esse episódio revela como a Imperatriz Sissi exercia um efeito enorme sobre a educação inteira de um povo e que para alcançar este alto grau de requinte é necessário que haja uma dinastia para elevar tudo até esse altíssimo nível.

Notas:

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio em 18 de novembro de 1992. Sem revisão do autor.

(**)  Frederico Guilherme Victor Alberto de Hohenzollern (1859–1941).

(***) Elizabeth Amélia Eugênia de Wittelsbach (1837–1898).


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