Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 7 de agosto de 1968 

6 lições dos 600 mil 

"Aggiornamento"... "encontro com a História" são expressões com que a todo o momento se esbarra, mas cujo conceito – o mais das vezes – permanece obscuro. Dentro desta obscuridade, entretanto, um resíduo é sempre claro: atualização. A pessoa que se preza de "aggiornata" julga conhecer a realidade dos dias presentes e ter acertado os seus ponteiros segundo ela. O "encontro com a História" é essencialmente um encontro com o presente, e de modo particular com aquilo que o presente tem de diverso e até de contraditório com o passado.

Para os fanáticos do "aggiornamento" e do "encontro com a História", a palavra mal vista por excelência é "tradição". Evolucionistas conscientes ou inconscientes, para eles a natureza não tem elementos fixos e imutáveis, nem a ordem natural repousa sobre princípios perenes. A posição do presente em relação ao passado não é, pois, segundo eles, o de uma continuidade dinâmica e aprimoradora, mas de uma negação completa, de uma ruptura omnímoda e de uma demolição integral e renovadora. Compreende-se, pois, que para os apaixonados deste gênero revolucionário de progresso, a tradição é um insulto ao presente, a expressão teimosa e atrevida do desejo de sobrevivência de algo que pela ação implacável do tempo perdeu o direito de existir.

Sem entrar na análise deste modo de ver – que reputo indefensável – parece-me importante notar que um extremista do "aggiornamento", para ser coerente com sua posição, deve antes de tudo esmerar-se em ter a noção mais lúcida da realidade. Pois se é por esta que tem ele que acertar seus ponteiros, lhe é indispensável ver com toda a exatidão por onde estes ponteiros correm.

Neste sentido, a atual campanha de coleta de assinaturas que – simultaneamente com suas congêneres, as TFP argentina, chilena e uruguaia – a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade vão promovendo, revela alguns dados que os preconceitos dos "arditi" do "aggiornamento" lhes impede de ver. Seis dados devidamente explicitados e concatenados surpreenderão muitos observadores da realidade, mesmo fora dos meios em que sopra com mais força o "snobismo" progressista: 

1 – A Tradição o mais das vezes não repele o homem de hoje. Pelo contrário, o atrai. A experiência tem mostrado que o quadro formado pelo estandarte rubro da TFP com seu heráldico leão rompante, em torno do qual coletam assinaturas jovens de todas as classes, de paletó e gravata, desperta consideração, confiança e simpatia em larguíssimas parcelas da opinião. Alegram-se estas em ver a Tradição proclamada e defendida por jovens, e nisto vêem elas uma garantia de estabilidade fecunda para o presente, bem como de seriedade e dignidade na caminhada para o futuro. 

2 – Para incontáveis brasileiros a esquerdização, e máxime a esquerdização radical, é um mal. Segundo suas aspirações, a linha do verdadeiro progresso não inflete para a esquerda. A identificação entre "aggiornamento" e "apertura a sinistra" [abertura à esquerda] carece de fundamento. Incontáveis homens de hoje, bem de hoje, repelem a famigerada "apertura". 

3 – Se bem que o brasileiro continue profundamente católico – ou melhor, porque ele continua profundamente católico – a infiltração esquerdista em meios católicos o desconserta e desola. Para lhe ter a confiança e o coração, a "apertura a sinistra" é profundamente contra-indicada. A "nova religião" esquerdista aconselhada pelo Pe. Comblin, como meio pastoral de atrair as massas, as afasta. Elas não querem a "maquillage" subversiva e anticlerical que o professor do Instituto Teológico de Recife, e os que o apoiam, desejam infligir à face majestosa da Igreja. Elas rejeitam as reformas revolucionárias a que o clérigo belga quer sujeitar o Brasil. 

4 – É nos bairros de população mais pobre, que as manifestações de inconformidade contra a campanha da TFP são mais raras. Só um ou outro provocador isolado aparece ao longo destas coletas em um ou outro bairro, tal como Osasco, Vila Maria, S. Caetano ou Santo André. Os jovens da TFP o deixam falar. Ele perora isolado, e se retira na indiferença ou na reprovação geral, sem conseguir desviar em nada o caudal dos subscritores do abaixo-assinado. No Brasil o esquerdismo não tem por si as camadas populares. 

5 – Pelo contrário, as manifestações de hostilidade ao abaixo-assinado da TFP são menos raras nos bairros "bem". Ali, sim, uma minoria pequena mas dinâmica desenvolve uma campanha de insultos, de difamação oral sistemática e de insuflação de ódio contínuo. O que, aliás, não impede a imensa maioria de apoiar a campanha. 

6 – O esquerdismo é, pois, no Brasil, um fenômeno minúsculo e burguês. É o morbus de uma irrelevante minoria burguesa. Ou antes "clérico-burguesa", pois também de certos clérigos têm os jovens da TFP recebido manifestações de hostilidade desconcertante. 

Eis as 6 grandes lições que se deduzem da atitude corajosa e coesa dos 600 mil brasileiros que de norte a sul vêm assinando as listas da TFP. 

Elas dão o sentido verdadeiro do que o Brasil de hoje quer ser e do que ele não quer ser. É segundo essa imagem, e não segundo as miragens do progressismo esquerdista, que toda a atualização autêntica se deve fazer.


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