Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 15 de agosto de 1971

Rumo ao desenvolvimento global

O Comitê de Jovens Equatorianos Pró-Civilização Cristã é constituído por um grupo recente — e já em vigorosa expansão — de estudantes da pátria de Garcia Moreno. Animado por ideais anti-socialistas e anticomunistas, que vão aglutinando movimentos de jovens em quase toda a América do Sul, os participantes do Comitê dirigiram ao presidente da República, sr. José Maria Velasco Ibarra, uma carta rogando-lhe não desse aplicação à lei de reforma agrária socialista e confiscatória em vigor no país. O documento, respeitoso, solidamente argumentado, cristalino, foi publicado por iniciativa dos missivistas no jornal "El Comercio" de Quito, no dia 17 de abril p.p. Sem dúvida alguma, é ele de porte a atestar o excelente nível cultural da mocidade equatoriana.

Entretanto, mais notável ainda, nos dias de brutalidade e vulgaridade em que vivemos, foi a reação do chefe de Estado. Enviou ele aos Jovens Equatorianos Pró-Civilização Cristã uma resposta que pode passar por um modelo de cortesia, de atenção e de elevação de espírito. Na impossibilidade de a transcrever por inteiro, cito-lhe aqui a parte mais característica:

"Distintos Senhores. — Li com atenção e respeito sua exposição de 14 de abril relativa aos problemas da Família e da Propriedade. Digo que li com respeito porque nestes dias em que todos, inclusive certos dignitários eclesiásticos, falam de mudança de estruturas, de liberação, de revolução e de tantos e tantos outros problemas que excitam à sedição e à perturbação da ordem, não podem deixar de merecer respeito aqueles que, como os senhores, defendem teses tradicionais, dignas de todo o respeito.

"Li com atenção a exposição que fizeram, porque, indubitavelmente, a argumentação é firme e os pontos de vista que apresentam têm grande transcendência.

"Entretanto, devo começar por declarar-lhes o seguinte: respeito absolutamente a Família tal como está constituída. Creio que a Família é o lugar onde a personalidade se forja, se desenvolve, e se assenta e vai, pouco a pouco, abrindo campo para maiores horizontes. Destruir a Família; destruir o respeito do filho ao pai e o amor do pai ao filho; introduzir na Família elementos estranhos sob pretexto de preparar a união das nações, parece-me um verdadeiro atentado contra a personalidade do homem ou da mulher, que é o que só interessa".

E, depois de argumentar cerradamente a favor da reforma agrária, o Chefe de Estado conclui: "Perdoem-me estes conceitos, escritos, por assim dizer, ao correr da máquina, porque não tenho tempo para outra coisa; mas estou pronto a conversar amplamente com os senhores sobre tão inesgotáveis problemas.

"Dos senhores, muito atento e seguro servidor, J. M. Velasco Ibarra, Presidente da República do Equador".

O estilo é o homem. Este estilo define o presidente equatoriano, e, mais do que isto, seu modo de governar. Pois o estilo não é só o homem. Obviamente é também o presidente.

* * *

Grato é pois registrar que os Jovens Equatorianos Pró-Civilização Cristã não ficaram atrás. Responderam eles ao sr. Velasco Ibarra nos seguintes termos:

"Excelentíssimo senhor presidente. — Queremos expressar-lhe, antes de tudo, nossa agradável surpresa diante da honra que representa receber uma resposta pessoal de V. Excia.

"E não queremos deixar de elogiar a manifestação de atenção que V. Excia. dá, deste modo, ao pensamento da juventude, da qual os Comitês de Jovens Equatorianos Pró-Civilização Cristã constituem uma parcela.

"Este gesto nobre da parte de V. Excia. aumenta o desejo dos integrantes de nossa entidade de colaborar com V. Excia. — no limite de nossas possibilidades — para a prosperidade e grandeza de nosso País.

"Somos sensíveis ao fato de que um Chefe de Estado tão ocupado por inúmeros problemas de governo, tenha aplicado uma parte de seu tempo para dirigir-se a nós, em nível de diálogo, a fim de tratar da grande questão da reforma agrária.

"Esta benévola atitude de V. Excia. nos coloca, pois, na condição de dizer a V. Excia. quais foram, em nós, as repercussões do conteúdo de sua atenciosa carta".

E, depois de reafirmarem , com respeito e firmeza, sua posição contrária à reforma agrária, concluem: "Para terminar, e já que V. Excia. teve a gentileza de falar de diálogo, depositamos nas mãos de V. Excia. as convicções que formulamos, como expressão do zelo que nos anima pelo bem do Equador.

"Fazemo-lo, assim, com a firme convicção de que, sendo nossa propaganda realizada num plano exclusivamente ideológico e pacífico, e com escrupulosa obediência às leis, V. Excia. continuará a assegurar-nos o livre desenvolvimento desta nossa campanha.

"Desde já gratos pelo que V. Excia. faça para garantir essa liberdade de vozes patrióticas e cristãs que se erguem no seio da juventude equatoriana, aproveitamos o ensejo para apresentar a V. Excia. respeitosas saudações e as expressões da mais alta consideração. — Antonio Chiriboga Torres, Diretor. — Ignacio Perez Arteta, Diretor".

O Chefe de Estado equatoriano garantiu ampla liberdade de ação ao Comitê. E o autorizou amavelmente a publicar na imprensa a troca de cartas. É do jornal "El Comercio" de 21-5-71, que as transcrevo. Também "El Universo" de Guayaquil, as publicou.

O episódio, pela fidalguia de atitudes que revela de parte a parte, dignifica o país irmão. E não só ele. Nesta hora de crescente vinculação entre os povos da América Latina, honra-os a todos.

É, pois, com alegria que o ofereço à consideração dos leitores.

* * *

Outro documento que atesta a elevação moral e cultural a que se vai alçando a vida pública em nossa vasta família ibero-americana é a carta dirigida ao tenente-general, Chefe do Estado argentino, pelos membros do Conselho Nacional da TFP daquele país, a respeito da derrubada das barreiras ideológicas.

Publicamos dele a parte essencial:

"Em nossa condição de católicos e argentinos que não queremos um triunfo comunista em nossa pátria, de qualquer espécie que seja, consideramos indispensável dar a conhecer a V. Excia. as considerações seguintes:

"1. Não se pode ver no Sr. Allende um Chefe de Estado como os demais. Nos países comunistas, o Partido governante é mais do que o Estado, e na coerência dos princípios adotados pelo Governo chileno, Allende é mais o chefe de um partido marxista que um Chefe de Estado.

"Assim o entende a opinião pública, por mais que alguns setores da burguesia, do clero e do jornalismo queiram apresentar, de Allende, a imagem de um Chefe de Estado no estilo ocidental. Portanto, a recepção dele por V. Excia. será interpretada inevitavelmente, pela massa da opinião pública, como uma recepção a um líder marxista.

"2. O governo tem uma influência pedagógica muito poderosa sobre o povo. É por isso que receber com honras oficiais ao marxista Allende, é um modo de convidar o povo argentino a aplaudi-lo, ou se isso não for fisicamente possível, pelo fato da entrevista se realizar em algum lugar remoto, ao menos a olhar com benevolência ou com aceitação a quem está conduzindo a nação irmã chilena para o comunismo.

"3. Isto tem outra conseqüência interna de suma gravidade: tende a derrubar as barreiras psicológicas que separam a maioria dos argentinos da minoria comunista ou marxista, que quer fazer, em nossa pátria, precisamente o que Allende está fazendo no Chile".

Como se vê, a argumentação é exímia pela clarividência, e a linguagem elevada.

Os diários "La Nación", "La Prensa" e "La Razón" publicaram esta carta de 30 de julho p.p. Fora ela entregue anteriormente no Gabinete presidencial.

Não tenho em mãos a resposta do tenente-general Lanusse. Divulgá-la-ei caso me seja comunicada pelos amigos argentinos. Espero que não fique aquém da brilhante missiva do presidente equatoriano.

* * *

Os três documentos que publico servem de indício a um fato auspicioso. É o desenvolvimento latino-americano. Desenvolvimento moral, cultural e político, a iluminar as vias para o esforço do desenvolvimento econômico, o qual as riquezas naturais do Continente tornam tão promissor.


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