Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

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14 de abril de 1974 

A indispensável resistência 

Os leitores viram, naturalmente, a declaração da TFP sobre seu programa de resistência à política de aproximação da Santa Sé com os governos comunistas. Sobre os motivos e a natureza de nossa atitude, nada há que acrescentar. Igualmente me parece que ficou tudo dito quanto a um ponto capital da matéria, do qual somos supremamente ciosos, isto é, a constância de nossa inteira e amorosa união com o Santo Padre Paulo VI, em toda a medida preceituada pela Doutrina Católica. Entretanto, falta tratar da oportunidade de nossa atitude.

Bem entendido, não presumo que o pronunciamento da TFP mude a orientação da diplomacia de Paulo VI. As razões que alegamos são por demais evidentes, para que já não as tenham ponderado, de há muito, o Sumo Pontífice e seus imediatos conselheiros.

Passando ao ponto de vista tático, não há comparação possível entre as vantagens que o Vaticano imagina capitalizar com o apoio do Moloch que é o mundo comunista, e os inconvenientes que lhe possam resultar da resistência de filhos espirituais que tem na TFP, disseminados por quase toda a América e em algumas nações da Europa, cheios de Fé, é verdade, mas desprovidos do poderio que sobra do lado comunista. Nossa própria Fé é um fator que, numa avaliação meramente política, ainda diminui, nas balanças da diplomacia, o alcance de nossa posição. Pois o Vaticano está certo, absolutamente certo, de que a Santa Igreja não tem que recear de nós qualquer forma de apostasia.

- Qual, então, a utilidade de nossa atitude?

A distensão do Vaticano vem de longe. Nota-se desde o Concílio Vaticano II uma mudança gradual de atitude dos Episcopados de quase todo o mundo diante do perigo vermelho. De arredia, vigilante, e não raras vezes até combativa que era, tal atitude passou a ser, em boa medida, átona, silenciosa, e como que desatenta. Dir-se-ia que o problema comunista cessou de repente. Destacando-se sobre este fundo de quadro, um número não pequeno de prelados passou a exprimir, com matizes novos, o glorioso e antigo anseio da Igreja no sentido de uma mudança das condições de vida das classes pobres. É só confrontar a linguagem de um São Pio X a esse respeito, com a de certas conferências episcopais e de certos prelados, para medir quão sensível vem sendo essa mudança. A linguagem nova de muitas reivindicações sociais eclesiásticas por vezes é tal que, sem ser definidamente marxista, parece inspirada no vocabulário e no estilo usados pelos comunistas. Como infelizmente é bem notório, há mais. Determinados prelados, constituindo exceções rumorosas e impunes, apoiam decididamente as hostes comunistas. O exemplo mais frisante dentre eles é o Cardeal Silva Henriquez no Chile. Somam-se a essa imensa massa de fatos os contatos secretos do Santo Padre com chefes de Estado vermelhos, as viagens diplomáticas que Mons. Casaroli — o Kissinger vaticano — faz, a toda hora, aos países comunistas, etc., e pergunte-se qual o efeito conjunto de tudo isso sobre a vigilância e a pugnacidade face ao perigo comunista, dos católicos do Ocidente (para só falar deles). Obviamente, a distensão vaticana tem por efeito uma desmobilização psicológica dos 500 milhões de católicos em relação ao perigo comunista.

Estes são fatos absolutamente impossíveis de serem contestados.

Ora, precisamente a esta altura, o perigo comunista se vai tornando mais grave. Cresce a todo momento, o poderio diplomático e militar da Rússia, e a propaganda comunista se vai tornando mais disfarçada, mais envolvente, mais aliciante. Os intelectuais ou os políticos explicitamente comunistas vão passando, hoje, para o folclore e a pré-história do comunismo. O político esquerdista com tendências comunistas, o intelectual que fala mal do comunismo, mas cria um clima pré-comunista, esses são os agentes mais eficientes e modernos da propaganda vermelha.

Em suma, o auge da desmobilização católica coincide com o auge da investida polimórfica do comunismo. O resultado: catástrofe a prazo médio, se não breve.

- E o antídoto que preserve os católicos? — Só pode ser uma ação anticomunista especializada, desenvolvida por católicos baseados na doutrina tradicional da Igreja, que falem aos seus irmãos na Fé de maneira a os alertar e levar à luta contra o perigo vermelho. Qualquer outra forma de antídoto será vã ou contraproducente.

Nesta tarefa se empenha a TFP. Tarefa tão imprescindível enquanto durar a "Ostpolitik" do Vaticano. É a utilidade de nossa árdua, mas indispensável – e quão filial – resistência.


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