Plinio Corrêa de Oliveira

 

Ofensiva?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, 29 de setembro de 1935, N. 181

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É realmente árdua a tarefa do jornalista católico. Procurando tornar cada vez mais atual “O Legionário” e relacionando os assuntos de que ele trata com as questões do momento, não nos tem sido possível fazê-lo sem formular frequentes críticas, quer a políticos, quer a escritores, quer à imprensa. Assim, um órgão destinado ao apostolado, isto é, à aproximação ao Cristo, dos incréus e dos pecadores, pode parecer a alguns carregado de fel e de censuras, a procurar atrair de carranca fechada aquelas ovelhas tresmalhadas às quais o Salvador prodigalizaria certamente os seus carinhosos afagos. E de si para si perguntarão se porventura “O Legionário” supõe que é desferindo uma ofensiva categórica contra os adversários da Igreja que ele conseguirá atraí-los ao seu aprisco, ou que se esqueceu ele daquela judiciosa frase de São Francisco de Salles, que afirmava que com uma colherada de mel se atraem muito mais moscas do que um tonel de vinagre?

Entendamo-nos. Não é exato, preliminarmente, que “O Legionário” tenha em vista, de modo principal, a conversão de hereges ou de pecadores. Folha essencial e ostensivamente católica, dedicando-se à crítica de assuntos exclusivamente religiosos, será muito difícil que sobre suas colunas venham pousar os olhos de um incréu ou de um indiferente. Se algum dia tal se der ou se tenha dado, e se “O Legionário” puder ter contribuído para aproximar uma alma, uma alma apenas, da Igreja, daríamos por pagos, e por muito bem pagos, os trabalhos que, até agora, a luta na imprensa católica nos tem custado.

No entanto, é necessário que não percamos de vista que a principal finalidade do “O Legionário” é de orientar a opinião dos que já são católicos. E estamos certos de que, realizando esta obra, ele preencherá uma verdadeira lacuna. Realmente, a falta de instrução religiosa em nosso povo é imensa. E como consequência, muita gente há que, recebendo as informações sobre o que se passa no mundo inteiro através dos jornais diários, adquire uma noção inteiramente viciada, de todos os grandes problemas contemporâneos. Assim, a maioria dos católicos ingere sem antídotos todos os venenos que lhe são ministrados pela imprensa quotidiana.

Há católicos liberais, católicos socialistas, católicos semi-paganizados. O que revela a existência de tantas tonalidades de catolicismo entre nós, quando o Catolicismo só tem uma tonalidade autêntica que é a de Roma?

A falta que faz um órgão que oriente realmente o pensamento católico, mostrando que o católico não pode ser senão, acima de tudo, mais do que tudo, antes de tudo católico.

Nossa função é, pois, de preservar contra as infiltrações do erro os filhos da luz.

Ora, se é certo que é com mel que se caçam moscas, é com cercas de arame farpado que se devem cercar os campos onde não se quer que penetre o lobo devorador.

Não quer isto dizer que devamos infringir os gravíssimos deveres que nos são impostos pela caridade. Há uma certa forma de se ser caridoso e severo que nos faz alvejar o erro ou o vício, sem atingir quem erra ou quem peca, ou melhor, levando ao pecador o mais ardente de nosso afeto fraternal, o mais delicado de nosso carinho em Cristo.

Em segundo lugar, não estamos desencadeando uma ofensiva, mas tomando uma atitude de mera defesa. Trama-se contra a Igreja na vida política como na vida social. E sempre que os interesses da Igreja são ofendidos, aí está “O Legionário” disposto a defendê-los, criticando - dentro da caridade cristã a mais inalterável - todos os ataques feitos à doutrina católica.

Ainda agora, por exemplo, vimos que a Câmara se prepara para rejeitar o excelente veto do Sr. Presidente da República à regulamentação do casamento religioso. Com a rejeição do veto, o Catolicismo é prejudicado. E se “O Legionário” critica aqueles que se esforçam em contrariar a boa doutrina, ele não o faz para alvejar qualquer pessoa, ou qualquer interesse partidário. Respeitamos e amamos o nosso próximo, e nunca passaria por nossa mente o desejo de o ferir. Desejamos, tão somente, defender os interesses da Igreja, mostrando aos católicos quem está com Ela e quem contra Ela.

Se é certo, portanto, que “O Legionário” tem procurado ser um órgão de combate, é certo também que ele só tem procurado combater o bom combate da Igreja, que é sempre defensivo nunca ofensivo.

E se para este combate nos fosse permitido escolher um lema, nós o redigiríamos assim:

Para com os católicos, caridade e unidade; para com os não católicos, caridade para obter a unidade.


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