Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

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Legionário, Nº 722, 9 de junho de 1946 

Os socialistas e comunistas italianos estão levantando uma verdadeira celeuma contra o fato de haver a imensa maioria dos eleitores do Partido Democrata Cristão votado a favor da monarquia. Dizem que há uma contradição entre este fato e as diretrizes de estrita imparcialidade em matéria de forma de governo, estatuídas pelo Vaticano. E daí deduzem, como de costume, a existência quimérica de conspirações "clericais" cavilosas contra o povo, etc., etc., etc...

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Parece indiscutível que os católicos votaram a favor da monarquia. Com efeito, esta perdeu as eleições por fraca diferença de votos. Dos numerosíssimos votantes que teve a Casa de Savóia, claro está que nenhum foi comunista, e pouquíssimos terão sido socialistas. De onde saíram? Como os partidos anti-socialistas e anticomunistas são - excetuando o PDC - muito pouco numerosos, claro está que a grande votação monárquica só poderia ter saído do próprio PDC.

Como se explica isto, quando o PDC italiano se pronunciou, em sua convenção, contrário à monarquia, por forte maioria de seus delegados?

É absolutamente evidente que os delegados não interpretaram bem o sentir de seus eleitores. Porque os números falam uma linguagem que não deixa margem a qualquer dúvida.

Este erro dos delegados é muito explicável. Quase todos eles lutaram no Movimento de Resistência Italiana, contra o fascismo, e, nesta luta, adquiriram um certo "complexo" - perdoem-nos o abominável termo - contra a monarquia, que parecia aliada do regime fascista. Em seu louvável patriotismo, parecia-lhes indiscutível isto, quando o contrário é que era a verdade: a Casa Real lutou sempre, na Itália, contra o fascismo, aceitando-o embora como fato consumado.

A massa dos eleitores, julgando mais serenamente os fatos, e conhecedora até da estreita colaboração entre o Vaticano e a Casa Real para contrariar a política belicosa e totalitária do fascismo, não julgou assim.

E, daí, o fato de que, muito claramente, a votação do PDC italiano desautorou o pronunciamento republicano de seus delegados.

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É possível, também, que a opinião anticomunista tenha sentido que a monarquia representava, na Itália, um dique contra a onda da desordem e da anarquia. Claro está que, em tese, uma república pode ser perfeitamente ordeira e perfeitamente cristã. A dois passos da Itália, está a Suíça, modelo de ordem, que jamais foi monarquia. Este ponto é tão evidente, que dispensa delongas. Mas, assim como a implantação de uma monarquia aristocrática na Suíça poderia trazer reações e contragolpes que conduzissem o país ao comunismo, assim também a implantação da República, na Itália, pode trazer surpresas e perturbações que levem ao comunismo.

Este receio, fundado todo ele em circunstâncias contingentes, e não em motivos especulativos e doutrinários, facilmente se justificaria com o exemplo da Espanha, na qual a República foi um passadiço para o bolchevismo.

O próprio chefe do Partido Comunista italiano, ao saber da queda do trono, teve uma exclamação que é muito significativa sobre a conexão destes problemas, na ordem das realidades contingentes da política italiana. Disse ele que a derrota da monarquia era a derrota do Vaticano, e que, derrubado o trono, os comunistas tinham obtido o essencial para chegar à conquista da Itália.

Se ele não mentiu, parece bem explicável que os católicos, que são anticomunistas por definição, tenham votado pela monarquia. Como os censurar por isto?

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Mas, dir-se-á, os católicos tinham instruções para serem neutros na questão da forma de governo. Como então, romperam a neutralidade?

Nada mais simples de explicar. Foi sempre doutrina da Igreja que todas as formas de governo - democracia, aristocracia, monarquia - são legítimas e podem, sem pecado, ser desejadas pelos católicos para seus respectivos países.

Assim, dizer que alguém peca pelo simples fato de ser republicano é estar contra as diretrizes da Igreja, que dá aos católicos o direito de serem republicanos.

Entretanto, a Igreja ensina que estas três formas, embora justas, não convêm indiferentemente a todos os países, e que, conforme as realidades contingentes de cada país, pode ser ou nociva ou boa, qualquer delas.

Foi o que o Vaticano lembrou. E ordenou que, por simples motivos doutrinários, ninguém ousasse dizer-se obrigado pela Igreja a ser monarquista ou republicano.

Os católicos, livres de apreciarem as realidades contingentes em que o Vaticano não quis entrar, podiam entender que a queda do trono era ou não, nas circunstâncias concretas, um passo para o comunismo.

Entenderam que era, e votaram a favor da monarquia, em sua maioria. Muitos católicos, entretanto, entenderam que não, e votaram pela república.

Podem ser censurados de desleais os que votaram pela monarquia, só porque a Igreja declarou que ninguém era obrigado a ser monarquista?

Vejamos agora, quem sentiu melhor os verdadeiros interesses da Igreja, se os católicos monarquistas, se os republicanos.

O LEGIONÁRIO já tem dito mais de uma vez, que dificilmente a queda do trono deixaria de representar um risco na Itália.

O futuro dirá se tínhamos razão. Desde já, o presidente do PC Italiano disse que sim...


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