Plinio Corrêa de Oliveira

 

Política Social

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, Nº 198, 24 de maio de 1936

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A voz augusta do Sumo Pontífice se fez ouvir, das alturas do Vaticano, para fulminar, com sua condenação, os intuitos subversivos dos comunistas brasileiros. Mas, perguntará muita gente, não terá sido inoportuna a referência do Santo Padre ao Brasil? Quando a opinião pública começa a se restabelecer do pânico que lhe causaram as últimas intentonas, quando a calma e a confiança começam novamente a florescer em nosso ambiente, será conveniente que o Chefe da Cristandade, ainda ande a revolver as cinzas do incêndio que se apagou, para lançar seu anátema contra uma meia dúzia de agitadores que já estão nas garras salvadoras da polícia?

Estaríamos de acordo com esta observação, se o perigo realmente já tivesse passado. No entanto, parece-nos que o Santo Padre, escolhendo exatamente o momento atual, para falar contra o comunismo no Brasil, quis indicar aos brasileiros que o perigo está longe de ter sido removido. Que, atrás da aparente tranqüilidade do ambiente, há focos de agitação que se não apagaram. Que a viração de qualquer comoção na política de nossos partidos burgueses poderá varrer as cinzas que encobrem a lareira, e dar alimento novo às brasas que ainda crepitam.

Mais do que um ensinamento e um incitamento à luta, há uma advertência discreta mas muito clara, nas palavras do Pontífice. Cumpre não desarmar. Cumpre lutar, cumpre agir. Mas... cumpre a quem?

Aos católicos, em primeiro lugar, em primeira linha, antes de tudo e antes de todos.

Mas, agem os católicos? O que tem a Igreja feito contra o comunismo? A julgar pelo que noticiam os jornais, pensará muita gente que ela se limitou a apoiar moralmente o Governo, em um telegrama expedido pelo Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro ao Sr. Getúlio Vargas. E nada mais.

Qual o dever dos católicos? Simplesmente o de bater palmas aos soldados que em praça pública lutaram ou lutarem contra o populacho, adornando com flores as baionetas tintas de sangue, da nossa polícia?

Nunca. Esta não foi, esta não é e esta não será a atitude dos católicos.

É certo que, enquanto houver gente na rua a lutar contra a mazorca, o apoio dos católicos não lhes faltará. Nunca partirá de nossos arraiais, para as autoridades policiais, um gesto que não seja de apoio, de estímulo e - o que é muito mais do que tudo isto - de cooperação.

Mas é preciso agir. A questão social não é apenas uma questão de polícia. É antes de tudo uma questão de justiça e de caridade.

É preciso que o operário extremista sinta que nossas classes armadas são um antemural inexpugnável, contra o qual se chocarão inevitavelmente todas as arremetidas dos comunistas. É preciso que ele sinta a impotência da esquerda. Mas, mais do que tudo, é preciso que ele sinta que, embora sem o receio de uma revolução social, há, do outro lado das barricadas, uma mão amiga, que se abre para ele com lealdade, para reedificar a paz social, sobre bases sadias de justiça e de caridade.

Não será possível resolver a questão social, enquanto uma parte importante de nosso operariado estiver persuadida de que o patrão burguês é um vampiro que lhe quer sugar todo o sangue, toda a vida, toda a felicidade, para converter em ouro seu suor e sua saúde.

É preciso instituir um largo ambiente de cooperação social, em que o operário católico, insuspeito de afinidades burguesas pelo próprio fato de ser operário e de ser católico, vá dizer a seu irmão extraviado, que a Igreja quer reivindicar para ele, sem segunda intenção, o direito à existência digna, a que faz jus sua própria natureza humana. É preciso que o operário sinta que, atirando contra as barricadas onde estão os adversários do comunismo ele não fere inimigos, mas fere, na pessoa dos católicos, os seus melhores amigos, aqueles que, a despeito de todos os extravios de certos elementos operários, estão dispostos a sacrificar seus interesses e até a sua vida, pelos direitos da classe operária.

Mas, para que gozem de tal reputação, é preciso que os católicos trabalhem. Cumpre que eles apóiem as associações já existentes e secundem além disto as louváveis iniciativas que estão aparecendo, especialmente a Assistência operária e a JOC, para que o operário veja, sinta e perceba que a cooperação dos católicos com a classe operária não consiste apenas em belos discursos, mas em solidariedade útil e eficiente.

Assim procedendo, teremos conquistado para Jesus Cristo o coração dos operários, e dado aos operários o Coração de Jesus Cristo.

Unidos estes corações, numa união indissolúvel e afetuosa, nada poderá no Brasil a hidra vermelha. Será inexpugnável nossa pátria, contra as investidas do comunismo, no dia em que ela for uma cidadela defendida pela própria força de Deus, em cujo recinto vigorarem as leis suavíssimas da justiça e da caridade, sob o cetro misericordioso do Cristo Rei.


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