Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...

“Noivado moderno”

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de março de 1938, N. 288, pag. 2

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Com o título acima, publicou o Sr. Dr. Francisco Laraya no “O Estado de São Paulo” um artigo em que clama por uma reação enérgica contra os abusos que ultimamente os noivos modernos costumam praticar antes do casamento.

O autor veio atacar uma das maiores chagas sociais da nossa época. A baixeza com que se encara o matrimonio e a falta de uma preparação séria daqueles que vão contraindo, faz com que tantas e tantas famílias sejam construídas unicamente na base do egoísmo dos nubentes. Daí o crescimento de lares infelizes e a corrupção cada vez maior dos costumes.

Merece, pois, louvores o Dr. Laraya pela coragem com que vem denunciar certas práticas hoje muito toleradas e encobertas por uma falsa prudência, que é na realidade uma tolerância criminosa para com o mal.

Oxalá as mesmas intenções animassem toda a classe médica, uma das grandes culpadas pelo aviltamento do matrimonio.

Faltou, no entanto, ao Dr. Francisco Laraya atingir o fundo do problema. O único meio de se conseguir restaurar toda a pureza e a seriedade do casamento está no perfeito conhecimento dos princípios cristãos e no respeito à dignidade excelsa do Sacramento do matrimonio.

Muitos noivos de hoje preparam-se para o casamento sem estarem compenetrados da missão elevadíssima de auxiliares de Deus na obra da Criação, que o Sacramento do Matrimonio lhes conferirá. Em vez de verem no ato sacratíssimo da união conjugal o Sacramento que recebem para sua santificação e para a constituição santa da família, procuram nele apenas a satisfação de seus mais baixos instintos.

Escreve o Dr. Laraya: “O noivado de hoje não se recomenda pela moral. Deixou de ser sonho e poesia, como era o noivado de outrora, para transformar-se numa camaradagem muito íntima, altamente inconveniente e prejudicial em todos os sentidos”.

Ora, não devemos pretender que o noivado seja poesia e sonho. Pois foi exatamente por causa desse romantismo que se chegou ao realismo sensualista e freudiano de hoje... O próprio Dr. Laraya reconhece que é preciso voltar a uma vida “mais moralizada e mais cristã”.

Pois bem. A concepção do noivado como um sonho ou uma poesia não foi mais do que a primeira etapa do abandono dos princípios cristãos sobre o casamento. Daí facilmente chegou-se até à camaradagem em muito boa hora denunciada pelo articulista.

O único meio de vencer o materialismo de hoje não é, pois, uma volta ao romantismo de Romeu e Julieta... Mas sim um trabalho intenso no sentido de preparar aqueles que se destinam ao casamento para o cumprimento dessa vocação sublime, a de constituírem um lar santificado pelo Sacramento do matrimonio.

Só quando convictos de que não devem ser sonhadores, nem camaradas, mas criaturas que se preparam para cumprir uma vocação recebida de Deus, é que os noivos podem preparar-se para constituir uma família santificada pela Igreja Católica.

Nota deste site: Para aprofundar o assunto, vide a obra "A TFP: uma vocação - TFP e famílias - TFP e famílias na crise espiritual e temporal do século XX", Vol. I, Secção I, pags. 5 e ss.


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