Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A verdade e a caridade

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 8 de janeiro de 1939, N. 330, pag. 2

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S. Excia. Revma. o sr. Arcebispo de Cuiabá recentemente de volta ao Brasil da viagem que realizou à Europa como representante do Governo Brasileiro ao Congresso Internacional de Educação, e em que teve oportunidade de avistar-se com S.S. o Papa, trouxe para os jornalistas católicos do Brasil a benção e a palavra de ordem de Pio XI. Esta palavra é a seguinte:

“Queremos dar-lhe um pensamento de Santo Agostinho: Dilatentur spatia caritatis - Dilatem-se os domínios da caridade, diz a todos o santo Doutor. Aos jornalistas, porém, diremos assim: “Dilatentur spatia veritatis — dilate-se o campo da verdade”.

Certamente, a primeira obrigação da imprensa é a de veicular a verdade. O jornal que, conscientemente, divulga falsidades, comete um roubo contra o leitor. Entretanto, a verdade, a qμe se referiu o Santo Padre, é ainda mais alguma coisa: consiste, muito especialmente em julgar os acontecimentos com lealdade, dando o verdadeiro nome às coisas, de modo a bem orientar o leitor.

Neste sentido, é bom que se note a modificação intencional que fez Sua Santidade nas palavras de Santo Agostinho, substituindo a palavra Caridade por Verdade. Evidentemente, isto não quer dizer que o jornalista não deve ser caridoso. A caridade é o centro da vida cristã e, sem ela, como disse São Paulo, as mais belas palavras são como o soar de um sino. Infelizmente, porém, a caridade não está sendo bem compreendida por certas pessoas que a confundem com uma certa tolerância amável, ou com outros sentimentos mais ou menos adocicados. É a mentalidade das “mentiras piedosas”, das transigências, das acomodações, da confusão enfim.

Ora, a linguagem do verdadeiro católico deve ser “não não, sim sim, porque o resto vem do demônio”. Um dos principais deveres de caridade é o de manter a mais nítida separação de campos, porque é na confusão que as almas se perdem. Esta separação tem, algumas vezes, algo de cirúrgico e violento; nem por isso deve ser protelada. É preciso não esquecer, enfim, que castigar os que erram é uma das obras de misericórdia.


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