Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Evangelho
 
O orgulho cega

 

 

 

 

 

Legionário, 12 de março de 1939, N. 339, pag. 5

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Terceiro Domingo da Quaresma

Evangelho segundo São Lucas, cap. XI, vers. 14-28

Naquele tempo, expelia Jesus um demônio, e este era mudo; e, lançando fora o demônio, falou ao mundo, e se admiraram as turbas. Mas, alguns deles disseram: Ele expele os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios. Outros, para o tentarem, pediam-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu. E Jesus, vendo os pensamentos deles, lhes disse: todo o reino dividido contra si mesmo será assolado, e cairá casa sobre casa. Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como estará em pé o seu reino? Porque vós dizeis que por Belzebu é que eu lanço fora os demônios. Ora, se é por virtude de Belzebu que eu lanço fora os demônios, vossos filhos por quem os expelem? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se é pelo dedo de Deus que eu lanço fora os demônios, por certo chegou a vós o reino de Deus. Quando o homem forte guarda armado o seu pátio, em segurança estão os bens que possui. Mas se, sobrevindo outro mais forte que ele e o vencer, tirar-lhe-á todas as suas armas, nas quais confiava, e repartirá os seus despojos.

Quem não é comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo desperdiça. Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando descanso; e, não o achando, diz: voltarei para minha casa donde saí. E quando chega, acha-a varrida e adornada. Vai, então, e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando na casa, nela fazem habitação. E vem a ser o último estado deste homem pior que o primeiro. E aconteceu que, dizendo ele estas palavras, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram. Mas ele respondeu: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática.

Desde que Jesus, o Messias, começou sua pregação, teve pela frente, como mais encarniçado inimigo, a estulta vaidade dos escribas e fariseus que se julgavam os únicos conhecedores da Lei e dos Preceitos de Deus aos homens. De maneira que estes homens juraram perder, a qualquer preço, o Salvador. Este Evangelho evidencia até que ponto os cegou o ódio alimentado contra Jesus Cristo.

Tendo o Mestre expulsado, miraculosamente, a um demônio que retinha presa a língua de um infeliz caído nas suas garras, não podendo os fariseus negar o prodígio, sacia-se seu ódio na blasfêmia: “Este vem do diabo por isso, em seu nome, expulsa aos demônios”.

A acusação era grave e monstruosa. Merecia resposta pronta. A repulsa foi imediata. 1° porque Satanás não expulsa a Satanás, pois que todo o interesse do demônio consiste em cruciar aos homens e perder-lhes a alma, não vai o demônio repelir seu colega de onde exerce sua função predileta!

Por isso compara-se o possesso a uma fortaleza cuja porta é guardada pelo vigia, homem forte e armado: no caso, o demônio. Para que alguém consiga o domínio da cidadela é mister primeiro que subjugue ao seu guarda, que o supere, que lhe seja superior em poder. Era fácil aos fariseus concluir que Jesus só poderia expulsar demônios, tendo domínio sobre eles, jamais sendo um dos seus agentes. Depois, se os filhos de Israel expulsavam demônios em nome de Deus, também só em nome de Deus poderia Jesus expulsá-los.

Depois de, assim, repelir a peçonha dos judeus, põe Jesus a nu o estado miserável a que eles se reduziram por sua própria culpa.

As palavras que seguem resumem a história do povo eleito. Cuidou o Senhor de preservá-lo da idolatria, expulsando sempre os demônios dos deuses pagãos que, de vez em vez, entre os israelitas se estabeleciam. Depois do cativeiro da Babilônia, especialmente, com o estudo mais assíduo das Sagradas Escrituras, tinham os judeus, a casa de sua alma limpa e adornada. O demônio, no entanto, cujo fim único é fazer mal à humanidade, não encontrando descanso fora do seu nefando ofício, retorna a ver se consegue, novamente, apossar-se de sua antiga presa. – No caso dos judeus, ele encontra seus espíritos limpos e vazios. Vazios porque não souberam agazar a Deus nos seus corações, reduzindo a Religião a um número de práticas exteriores estéreis. Nenhum campo mais bem preparado para ação do inimigo. Aproveita-se disso Satanás e apossa-se com energias dobradas sete vezes de terreno tão propício do que aquele em que se encontravam. Eivados de preconceitos, fecharam os judeus seus olhos e seus ouvidos às obras e doutrinas do Salvador, obstinaram-se em repudiá-lo e tornaram assim seu estado pior, antes da vinda do Messias.

Seja para nós advertência. Pois bem-aventurado só é aquele que ouve a palavra de Deus e a pratica.


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