Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Mentalidade festeira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de agosto de 1939, N. 362, pag. 2

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Em nosso último número, tivemos o prazer de comentar a atitude correta da polícia de São Paulo, apoiando irrestritamente a Arquidiocese de São Paulo na moralização das festas ao Senhor Bom Jesus de Pirapora, de maneira a ressaltar-lhes o aspecto religioso, que vinha sendo comprometido pela proliferação parasitária do samba. É verdade que houve quem desejasse a perpetuação dos festejos profanos, embora depravados, sob o pretexto de que eram uma expressão de nossa cultura.

Esta razão poderia ter uma certa aparência de razão, principalmente por causa da preocupação sociológica que revela; e hoje, a sociologia é uma coisa séria, talvez mais séria do que o carnaval carioca...

Entretanto, querendo a Diocese de Taubaté coibir abusos semelhantes que costumavam ocorrer em festas religiosas, viu surgir-lhe pela frente um autêntico botocudo de ivirapema [maça com que os indígenas matavam os prisioneiros, n.d.c.] em punho, indignado com a ideia de se querer suprimir a festança. E isto não por causa de algum interesse folclórico ou sociológico. O homem era mais modesto, e talvez, mais leal: queria a festança por causa da festança, porque gostava da festança, do foguetório, do frege.

Eis aí! Após tanto esforço e tanto progresso parece que ainda estamos em pleno século XIX, com aqueles catolicões de opa, rojões, doces de coco, flores de papel e maçonaria. Este conjunto de coisas não eram apenas prejudiciais à Religião. Eram, também, mortais para a Nação, porque representavam um estado de delinquência, de esterilidade, de incapacidade para qualquer realização séria, original, grandiosa. Pois quando menos se espera, aparece um caso recidivo desta mentalidade irresponsável! Não, não estamos fantasiando; se alguém quiser dar-se o trabalho de verificar, encontrará no número de 30 de Julho p.p. do “Momento”, folha que se edita em Taubaté, o caso a que nos referimos.

Lá está com todas as letras. O Jornal faz uma celeuma enorme porque a Cúria taubateana desmentiu que os festejos profanos, levados a efeito conjuntamente com certas comemorações religiosas, não tinham aprovação eclesiástica. No entanto - continua a “argumentação” momentosa - alguns vigários de localidades vizinhas haviam determinado a realização de quermesses por ocasião das festas dos padroeiros. Ora, isso não quer dizer absolutamente nada. A Autoridade Eclesiástica, no seu alto critério, aprova os festejos que ela julga dignos de serem aprovados, e rejeita os que ela considera prejudiciais. Pelas leis da Igreja, são proibidos os festejos que ponham em perigo a salvação das almas, como baile e jogos a dinheiro, ou os que não sejam costumeiros no lugar. Ora, nada há tão habitual entre nós do que quermesses para a obtenção de fundos para a Igreja, quermesses onde não há nada de intrinsecamente perigoso.

E para terminar, o nosso botocudo saiu-se com esta: a Autoridade Eclesiástica manda dentro da igreja (edifício de tijolos), mas não tem nenhum poder fora dela (no largo da Matriz). Ora, isso é tão rançoso mesmo, que nem vale a pena a gente gastar tinta em refutar. É coisa velha, velhíssima, que já ficou na antepenúltima volta da estrada, por onde os retardatários agora estão passando...


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