Plinio Corrêa de Oliveira

 

Os recentes acontecimentos proporcionaram uma confirmação sensacional às previsões desta Folha

 

 

 

 

 

Legionário, 27 de agosto de 1939, N. 363

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Nota deste site: No dia 23 de agosto é assinado o pacto entre o Ministro Exterior soviético Vyacheslav Molotov e o Ministro Exterior nazista Joachim von Ribbentrop, o famoso pacto Molotov-Ribbentrop, foto acima. Encostado junto à parede, o segundo da direita para a esquerda, com seu volumoso bigode e sorriso sinistro, Stalin.

Toda a orientação política desta Folha girou sempre em torno da convicção central e fundamental de que entre o nazismo e o comunismo a aparente oposição se resolvia, em última análise, em uma mal disfarçada solidariedade.

Por isso teve o “Legionário” o dissabor de dissentir, mais de uma vez, de católicos que, conquanto ilustres e dignos da maior atenção, viam os acontecimentos internacionais através de outro prisma. Segundo eles, o mundo se encontrava cindido em dois campos antagônicos, o das direitas e o das esquerdas. De um lado, pois, todo o grupo de potências signatárias do pacto anti-Komintern, bem como as correntes políticas que, nos países democráticos, preconizam a aliança com tal bloco. Em outros termos, em um dos campos estariam o nazismo, o fascismo, o falangismo espanhol, o rexismo, as “Croix de Feu” francesas, os fascistas ingleses de “sir” R. Owen, etc., etc. Em outro campo, estariam os liberais, democratas, socialistas e comunistas.

Assim, de um lado estando o comunismo, com tanta razão comparado ao Anticristo, e estando do outro lado um grupo de inimigos do comunismo, em qual dos campos deveriam situar-se os católicos? A resposta não parecia difícil: os que não se colocassem no campo dos inimigos do Anticristo ficariam automaticamente situados no campo deste último. Ora, o “Legionário” não estava situado no campo das direitas. Logo...

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Dentro do molejo férreo desta lógica simplista, como facilmente se pode imaginar, o “Legionário” ficava mal situado. E, por isto mesmo os ataques e até as injúrias as mais pesadas não lhe faltaram. Guardamos ciosamente em nossos arquivos cartas de fascistas e nazistas afirmando de pés juntos que o “Legionário” se alimentava com dinheiro de Moscou. E se apenas dos arraiais fascistas e nazistas tal acusação tivesse procedido, ainda seriamos felizes...

Entretanto, o que o “Legionário” sempre sustentou justificava amplamente sua posição. Se, realmente, o mundo estivesse dividido entre direitas e esquerdas, a posição dos católicos não poderia deixar de estar nas direitas. Mas as direitas comumente chamadas tais não eram, em última análise, senão pseudo-direitas que ocultavam um conteúdo doutrinário profundamente esquerdista. E o comunismo e o nazismo eram irmãos xifópagos que se entregladiavam “pour épater les bourgeois” (para iludir os ingênuos, n.d.c.).

Quanta risota cética, quanta dúvida enunciada com a pretensão de quem via em nós uma meia dúzia de fantasistas divorciados do senso comum!

Nem as bênçãos ininterruptas das Autoridades Eclesiásticas, inclusive a do próprio Papa Pio XII, expressiva particularmente por sua espontaneidade absoluta; nem o apoio de um espírito de valor do Pe. Garrigou Lagrange, considerado o maior teólogo de nossos dias, que deu a esta folha um autógrafo altamente expressivo, nem a evidência dos fatos que se desenrolavam, conseguiu persuadir certos espíritos que não se animam a ver as coisas por outro prisma senão pelos comentários mais ou menos condimentados das agências telegráficas.

Finalmente, os fatos aí estão. E o “Legionário”, para provar a seus leitores quanta razão lhe assistia, publica aqui uma resenha de todas as notícias e comentários que fez no ano corrente, prevendo o monstruoso conúbio que o mundo inteiro contemplou boquiaberto e estarrecido.

Neste momento, entretanto, não nos move um pensamento de vanglória, mas um desejo de encaminhar para o conhecimento da verdade objetiva o maior número possível de leitores.

Ao mesmo tempo, temos uma palavra de homenagem comovida e de saudades ao grande Pio XI, cuja política em relação a direitas e esquerdas recebe agora uma franca comprovação. Nosso pensamento se volta também com indizível afeto e respeito ao Santo Padre Pio XII, Pai da Cristandade e continuador da grande obra política de Pio XI. Finalmente, depois de pensarmos em nosso Pai espiritual, pensemos em nossos irmãos. Uma prece comovida e afetuosa, também ela, pelos alemães, russos, franceses, italianos, ingleses e polacos espalhados pelo mundo inteiro e tão duramente provados pelo sofrimento. Que Deus os proteja e que recebam a solidariedade desta folha que, se foi sempre antifascista, antinazista (...), teve apenas o intuito de melhor servir os interesses da Cristandade, de que aqueles povos são parcela integrante e gloriosíssima.

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14/8/1938 - O governo mexicano exportou para a Alemanha dois navios carregados de petróleo. A esse propósito, o “Legionário” nota a cooperação cada vez mais estreita entre o México (...) comunista e a Alemanha nazista, contrastando com as declarações de Hitler, quando se afirma o campeão do anticomunismo no mundo inteiro.

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 28/8/1938 - Notícias da Grécia indicam como de origem alemã o armamento levado por navios russos à Espanha, para servir aos vermelhos espanhóis.

Simultaneamente, com o tumulto causado pela questão germano-tcheca, dá-se o reatamento das relações diplomáticas entre a Rússia e a Alemanha. Isto se verifica exatamente quando se aproxima o termo do famoso tratado de Rapalo, concluído em 1922 entre esses dois países, tratado esse firmado por cinco anos e renovado em 1927. Lembra o “Legionário” que, enquanto anunciava uma luta feroz contra o comunismo, o Sr. Hitler recebia o embaixador russo Tchinchuk (...) e renovava mais uma vez aquele tratado, em cujo texto se lê, entre outras, essa declaração: “os interesses mútuos (dos governos alemão e russo) exigem uma colaboração confidencial e ambos estão decididos a consolidar suas relações de amizade”. O “Legionário” nota mais uma vez o contraste entre as declarações anticomunistas de Hitler e sua política amigável com a Rússia, lembrando ainda diversas ofertas feitas pela Alemanha à Rússia depois do advento do nazismo, como a de um crédito de 200 milhões de marcos pagáveis em cinco anos. É espantoso que o mesmo homem que afirmou ser “o aumento do exército russo um sério perigo para a paz”, ofereça grandes somas que ele sabe vão ser aplicadas, em grande parte, na intensificação desse exército!...

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11/9/1938 - Trechos do editorial da seção “Comentando”, com o título “nazismo e comunismo”:

“Por várias vezes, e isso desde há muito tempo, o “Legionário” assinalou os parentescos ideológicos das duas doutrinas políticas. Em resumo, o fundo, a essência mesma destas doutrinas é a mesma, elas têm ambas um mesmo pensamento central, que é este: o Estado é a fonte de todos os direitos, o homem não tem nenhum direito que lhe seja inerente, o que equivale dizer que o homem não tem nenhum conteúdo que lhe seja substancial e especificamente próprio, não tem realidade por si, mas é um mero acidente da coletividade e, por conseqüência, do Estado. Esta é a idéia central e dominante do nazismo e do comunismo, idéia predileta de todos os mestres (...) de Marx a Durkhein. As diferenças que se possam notar, são acidentais, acessórias, versam apenas sobre minúcias.

“Mas houve um acontecimento, desenrolado há poucos dias, aqui mesmo na América do Sul, que põe a definitiva pá de cal nessa balela da inimizade entre Hitler e Stalin. Se nazismo e comunismo eram aliados doutrinários, são agora aliados de revolução”.

“De fato, do Chile nos vem a notícia, por outro lado auspiciosa, do fracasso de uma intentona que visava estabelecer naquela república um regime nazi-comunista”.

“Como se vê, começam já a se entender muito bem os partidários da cruz gamada com os do punho cerrado. Já são colegas...”.

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2/10/1938 - Trecho do artigo de fundo:

“Se reduzirmos ao devido valor os termos “nazismo” e “comunismo”, a diferença entre ambos é insignificante. O comunista é ateu, materialista e partidário da onipotência do Estado. O nazista não é menos ateu, nem menos materialista nem menos estatolatra. A imoralidade comunista é satânica. E a obra paganisadora do nazismo não o é menos. Porque em nossos dias, erguer altares a ídolos decrépitos e ilusórios, abater as cruzes e perseguir a Santa Igreja não é obra apenas das más inclinações do homem, como pode ter sido uma ou outra vez antes de Constantino. Hitler, exatamente como Juliano o Apóstata, é um fenômeno histórico que não se explica sem a ação do demônio.

“Optar entre o comunismo e o nazismo é optar, portanto, entre Lúcifer e Belzebuth, entre o demônio e o demônio.

“É compreensível, pois, como os católicos mais estreitamente ligados ao espírito da Santa Igreja de Deus e entre eles aquele gloriosíssimo e extraordinário Schuschnigg que é mártir desse sublime delito, se recusassem a optar entre Hitler e Stalin, [...] ficando sós com Jesus Cristo e seu Vigário, o Papa”.

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23/10/1938 - A propósito de uma reportagem sensacionalista do “Voelkischer Beobachter” sobre as riquezas das Igrejas na Áustria, com insinuações para a socialização dessas propriedades, frisa o “Legionário” que “enquanto se acentua cada vez mais a solidariedade fascista-nazista, patenteia-se também cada vez mais a analogia entre o nazismo e o comunismo”.

4/12/1938 - Informa o “Vaterland”, de Lucerna, que o colégio jesuíta “Stella Matutina”, de Feldkirch, na Áustria, foi confiscado pelo Estado nazista sem indenização nenhuma. Como os bolchevistas, os nazistas não respeitam o direito de propriedade.

Trecho do artigo de fundo desse mesmo dia:

“Que há de temerário em se afirmar que no Wotan nazista há apenas o mesmo satanás fantasiado de deus pagão? E que nos impede de prever que, em uma catástrofe não distante, o mesmo satanás que se apresenta mascarado em Berlim e despudoradamente claro em Moscou, se atire com as tenazes comunista e nazista sobre a Igreja Católica, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo”?

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1º/1/1939 - Traçando um panorama da situação política internacional em 1938, o artigo de fundo do “Legionário” começa por dizer que eram 4 as grandes posições ideológicas em que, no começo desse ano, se distribuía a humanidade: Catolicismo, Liberalismo, Comunismo e Nazismo. No correr do ano, enquanto o liberalismo vai desaparecendo acentuam-se as outras posições. Compreende-se que o Catolicismo verdadeiro é incompatível com certos movimentos vagamente cristãos ou pan-cristãos. Percebe-se claramente que a política “de la main tendue” tentada pelos comunistas em relação aos católicos é uma contradição insustentável. E o nazismo radicaliza-se cada vez mais, abrangendo na sua tendência doutrinária, o fascismo. Assim termina o artigo em questão: “Enquanto o socialismo rolou para a esquerda, e o fascismo para a direita, enquanto o “pan-cristianismo” rolou para baixo, enquanto algumas raras almas voaram para cima, o que sucedeu com o liberalismo?

“Derreteu-se como um sorvete”.

... “Enquanto todos os campos se definem, um movimento cada vez mais nítido se processa. É o da fusão doutrinária do nazismo com o comunismo. A nosso ver, 1939 assistirá à consumação dessa fusão. E desse conúbio monstruoso, nascerá uma corrente que será, para os planos de satanás, o “nec plus ultra”.

“Será que nos enganamos? É possível. Em todo o caso, é o próprio “Osservatore” que tem assinalado essa marcha do nazismo para a esquerda.

“Quer dizer que todos os erros estão escorrendo para o mesmo abismo, e que todas as forças do século se coligam.

“Contra quem?

“Neste mar tormentoso, navega a Nau Mística de São Pedro. Contra ela se formam misteriosos movimentos de onda, que degenerarão rapidamente em tempestade imensa.

“Nós, porém, não tememos. Sem desdenhar de lançar um olhar vigilante para as ondas encapeladas que formigam de monstros misteriosos, é nas estrelas todavia que procuramos nosso roteiro”.

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29/1/1939 - O “Legionário” transcreve o trecho seguinte de um comentário da “Der Deutsche in polen”, de Dantzig, a propósito do livro de Hermann Rauschining, “A fraqueza mortífera do Reich”:

“As conseqüências tiradas pelo dr. Rauschning da fraqueza mortífera do Reich confirmam a nossa opinião de o povo alemão não ter que recear a vinda do bolchevismo, porque já o tem no nazismo. O que, antes, era um perigo real, a revolução proletária dum bolchevismo alemão, hoje é uma realidade. Estamos plenamente nele, pois o característico não é um Hitler para o nazismo e um Stalin para o bolchevismo, mas o fato que, em Moscou e em Berlim, se veja na estima exclusiva da violência e da verdade para dominar a única reguladora da vida histórica, e que assim se pratique; é isso que torna público a identidade de orientação”.

Em “7 Dias em Revista” comenta-se o fato de ter o governo nazista feito exumar os cadáveres de Mons. Seipel e Dollfuss, empregando o mesmo processo de profanar cadáveres de antigos inimigos políticos aplicado pelos sovietes.

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5/2/1939 - A secção “Letras Nacionais e Estrangeiras” traz um “compte-rendue” do livro de J. Bauer Reis “O nazismo sem máscara”, que mostra uma série de pontos comuns ao comunismo e ao regime hitlerista. “O nazismo é irmão do comunismo por seus princípios, por seus fins e por seus atos” (sic). O mesmo livro transcreve a seguinte carta de Goebbels dirigida a um chefe comunista em Moscou muito antes da subida de Hitler ao poder e publicada pelo “Voelkischer Beobachter”, órgão dirigido por Hitler, em seu número de 14/11/1925:

“O senhor e eu, nos combatemos sem que, de fato, sejamos inimigos. Com isso desperdiçam-se as nossas forças e não chegaremos nunca ao terreno desejado. Talvez a extrema necessidade nos unirá. Talvez nós, jovens, o senhor e eu, somos os portadores da sorte das gerações; não o esqueçamos nunca. Eu o cumprimento.

 Dr. Goebbels”.

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12/2/1939 - O “Legionário” lembra a energia com que Pio XI condenou o totalitarismo, como fizera em relação ao comunismo. Verberando os desmandos da Alemanha pagã, aquele Pontífice denunciou a inconsistência do anticomunismo ilusório dos nazistas não sem atacar também as infiltrações nazistas ultimamente feitas na Itália.

Noticia-se que a Itália concluiu um acordo comercial com a Rússia e segundo o “Manchester Guardian” a Alemanha dispõe-se a fornecer, aos comunistas um crédito de 200 a 300 milhões de marcos em material bélico, enquanto a Rússia lhe forneceria em troca, matéria prima.

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12/3/1939 - Comentando os ataques do nazismo à Igreja:

“Cada vez mais se aclaram as suspeitas contra o arcabouço político da nova Alemanha e cada vez mais se identificam os dois mais perigosos regimes do mundo contemporâneo: comunismo e nazismo”.

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16/4/1939 - Segundo noticia “La Journée Industrielle”, o camarada Manonilsky, em congresso bolchevista recentemente realizado, expôs a necessidade de intensificar a agitação nos países democráticos, enfraquecendo-os exatamente quando se acentua a pressão dos países totalitários. O mesmo se dera no tempo da anexação da Áustria ao Reich, quando os comunistas franceses promoveram uma greve geral que vinha enfraquecer a França, exatamente no momento em que Schuschnigg tentava resistir.

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23/4/1939 - Em resposta a uma consulta do Parlamento sobre o reatamento das relações diplomáticas com os sovietes, o Conselho Federal Suíço mostra que essas relações, uma vez reatadas, sempre servem à Rússia bolchevista para propaganda política de suas idéias. O Sr. Hitler, apesar disso, mantém relações diplomáticas com os sovietes.

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14/5/1939 - De “7 Dias em Revista”:

“A Alemanha é nacional-socialista. A Rússia está ficando nacionalista, sem deixar de ser comunista.

“Pesem-se bem as palavras: entre um “nacionalismo socialista” e um “nacionalismo comunista”, que diferença há?”

No mesmo dia, a “Nota Internacional” observa que as notícias de um pacto germano-russo não foram desmentidas e que a imprensa nazista cessou suas diatribes contra os sovietes.

Ainda em “7 Dias em Revista”, comenta-se a surpresa que essas notícias tem causado em certos meios. Essa surpresa não a pode ter um observador menos superficial, dada a afinidade ideológica entre nazismo e comunismo, e porque Hitler está realizando uma verdadeira proletarização da vida social em sua pátria.

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25/6/1939 - Enquanto cresce, nos Estados democráticos, a convicção de que é necessária uma aliança com a Rússia, esta se mostra cada vez mais exigente criando uma atmosfera de desconfiança “com seu jogo entre Londres e Berlim, para o máximo proveito próprio, que talvez esteja muito mais perto de Berlim do que de Londres” (“Nota Internacional”).

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20/8/1939 - “La Croix” oferece algumas considerações, comentadas pelo “Legionário”, sobre a aproximação entre nazistas e bolchevistas, constatando que em suas doutrinas há mais pontos de contato que de divergência. Noticia também que von Papen procura as plagas soviéticas.

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6/8/1939 - Trecho da “Nota Internacional”:

“As negociações anglo-franco-russas continuam em um impasse, e se as missões militares francesa e inglesa, que vão a Moscou fracassarem - o que é bem provável - será certa a neutralidade, se não [a] aliança com o Reich, por parte dos sovietes”.


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