Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
O nome das cidades

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 9 de maio de 1943, N. 561, pag. 2

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O Conselho Nacional de Geografia vai sistematizar os nomes das cidades brasileiras, a fim de evitar não só os nomes longos, a saber, os que se compõem de mais de uma palavra, como também para acabar com as inúmeras repetições, que se multiplicam pelo território nacional. Aliás, não é a primeira vez que isto se faz. Ainda há pouco tempo várias cidades do Estado de São Paulo tiveram as suas denominações simplificadas; assim, por exemplo, Vila Bela se transformou em Formosa.

Não se pode negar a utilidade da iniciativa. Os nomes muito longos, e, principalmente, a sua repetição em várias cidades, estabelecem uma certa confusão, inegavelmente.

Entretanto, “est modus in rebus”: acreditamos que a utilidade não vai ser o único critério a guiar os trabalhos do Conselho Nacional de Geografia. A seguir exclusivamente este critério, a lógica nos levaria necessariamente a substituir o nome das cidades por prefixos, formados de uma combinação científica de números e letras, o que levaria a simplificação, e também a identificação ao mais alto grau. Por exemplo, Campinas seria S.P.-7, para distinguir de todas as outras Campinas que existem no Brasil. Nem se diga que a alteração, por demasiado radical, iria acarretar graves dificuldades. Afinal entre Formosa e Vila Bela existe apenas um longínquo eco mnemônico; e o Conselho Nacional de Geografia, se quiser ir a fundo nesta questão de nomes, será forçado a fazer substituições ainda mais acentuadas.

Ora, é indubitável que não há quem não tenha um calafrio ante a ideia de se substituírem, os nomes de nossas cidades por simples prefixos; o que prova que, no caso, o que está em jogo não é apenas uma questão de utilidade e identificação. E isto não é apenas por sentimentalismo. O nome das cidades é como o nome das pessoas, algo que se integra na personalidade, na fisionomia, na feição espiritual, de tal forma que quando se quer assinalar com justeza a degradação de alguém, costuma-se dizer que “perdeu até o nome”. No que se refere ao nome das cidades, isto se relaciona intimamente com a vida nacional, o que faz com que uma Nação mais profundamente se diferencia de uma colônia, é que uma colônia é um produto artificial, ao passo que uma Nação é algo de vital. Ora, não há vida nacional sem tradição, isto é, sem que a sociedade nacional de hoje exista em função das sociedades nacionais dos séculos passados, de tal modo que formem todas uma só sociedade histórica. Estas considerações certamente hão de pesar nas alterações que se fizerem, de maneira que, por causa da utilidade, não se sacrifique a alma nacional.

Mas há, ainda, uma outra consideração não menos importante. Se se quiser reduzir o nome das cidades a uma só palavra, que acontecerá aos nomes de Santos, que ostentam tantas cidades brasileiras? Ora, a Fé Católica formou e plasmou o Brasil; evidentemente, ninguém há de querer tirar do solo pátrio os sinais gloriosos desta Fé, pois o Brasil não quer perder a sua própria identidade, não quer renegar-se a si próprio, não quer, principalmente, renegar o seu passado, porque não quer ser uma Nação sem História.

Nós somos, pela graça de Deus, filhos daquela mesma Fé que criou a verdadeira Civilização; não somos, nem queremos ser, uma colônia de aventureiros, formada ao acaso, ao sabor das circunstâncias, sem estirpe e sem glória.

Certamente, todas estas idéias já ocorreram aos membros do Conselho Nacional de Geografia, que saberão combinar os valores espirituais da nacionalidade com os interesses da utilidade.


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