Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...


A religião sem dogmas

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 3 de outubro de 1943, N. 582, pag. 2

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O muito materialista e ateu sr. Maurício de Medeiros vem de assinalar, num de seus últimos artigos para a “Gazeta”, o movimento de unificação que se esboça entre as várias seitas religiosas, que se destacaram da Igreja Católica, através dos tempos. Este movimento de unificação, o sr. Maurício de Medeiros aplaude, nele vendo o triunfo dos princípios de humanitarismo, de justiça e de elevação espiritual. Ora, todo o mundo sabe que o sr. Maurício de Medeiros é um espírito emancipado pela ciência, não havendo jamais encontrado a alma na ponta de seu bisturi, é evidente que não pode acreditar nela. Além do mais, suas ideais marxistas não são nenhum segredo e Marx reduz todas as manifestações superiores do espírito humano à dialética prosaica do materialismo histórico. Assim, o sr. Maurício de Medeiros não pode achar outra coisa das religiões a não ser que são epifenômenos da evolução econômica, ou produtos de má digestão. Donde lhe vem, pois, esta solicitude pela unificação das seitas, que se procura estabelecer sob a égide soviética de Moscou?

A resposta vem no fim. O sr. Maurício de Medeiros termina seu artigo da seguinte forma: “O movimento que se vai desenhando para essa unificação é dos mais significativos. Fora dele ficarão somente aquelas seitas em que se prezam por demais os bens materiais para arriscá-los em uma aventura ideológica, que, inspirada embora na crença do Deus único, e nos preceitos pregados pelo nazareno que o proclamou ao Ocidente, poderia imprimir à vida humana um aspecto menos pomposo, mas certamente mais belo espiritualmente.” Eis aí. Tudo se resume ao atamancadíssimo ódio ao Catolicismo, a que o sr. Maurício de Medeiros alude transparentemente nas linhas acima. Aquela história de “aspecto pomposo” se traduz por “Telefone de Ouro do Papa”; os “bens materiais” tão prezados por certas seitas são “As Fabulosas Riquezas do Vaticano”. Não vamos perder tempo, evidentemente com estas imbecilidades, de que se envergonharia qualquer pessoa menos cafajeste. A Igreja não precisa nem deve defender-se de semelhantes ataques.

O que deve ser assinalado é a tendência, incentivada e explorada pelo comunismo, de formar uma religião sem dogmas, onde naufragará definitivamente o espírito humano. As seitas heréticas pretendem unir-se, prescindindo de princípios definidos, sobre a larga base do interesse social; porque a verdadeira Igreja sempre se opôs a semelhantes intentos, guardando ciosamente o depósito da revelação Cristã; por isso Ela é atacada, e só por isso.

Mais do que nunca, também existe hoje em dia a tendência de menosprezar a formulação racional da Revelação, que caracteriza o dogma de fé. Esta formulação seria, no máximo, uma baliza temporal, e por isso sempre parcial, extrínseca, jamais atingindo a medula eterna e inefável da Verdade.

O problema da união dos espíritos estaria, portanto, em fazer com que todos entrassem em contacto direto e vital com esta Verdade, para além dos dogmas, os quais, por sua própria natureza, cerceiam e constrangem o espírito humano, fechando-o em si mesmo e impedindo a sua efusão no Espírito. Tudo isto talvez pareça confuso ou hermético, mas tem sentido. Um sentido que a verdadeira Igreja já condenou muitas vezes.


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