Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A economia de guerra

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 10 de outubro de 1943, N. 583, pag. 2

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O ministro do Interior da Inglaterra, falando em Dundee, afirmou que deverá ser mantida na paz a economia de guerra. Assim, mesmo depois de ensarilhadas as armas, os controles severos dos alimentos, das mercadorias, das indústrias, da opinião pública, deverão prosseguir, não mais com fito de ganhar a guerra - é evidente - mas para ganhar a paz.

Não se pode negar, o problema agita os espíritos. Há um clamor sistemático contra os políticos que perderam a paz que se seguiu à guerra 14-18. E, por isso, a palavra de ordem do momento consiste em ganhar a próxima paz; ouve-se mesmo falar mais em ganhar a paz do que a própria guerra. E, de um modo geral, o que se acena à humanidade como a paz a ser ganha, é com a perspectiva deslumbrante de um mundo definitivamente livre dos males que até hoje o tem atormentado. O Querubim recolherá a espada de fogo, e o homem franqueará de novo o limiar do Paraiso Terreal.

Apenas, segundo afirma o ministro do Interior inglês, os homens já não comerão livremente da abundância dos frutos de toda espécie. Seja pelo enorme crescimento da humanidade, seja pelo pequeno âmbito do Éden, seja por qualquer outro motivo que escapa à nossa incompetência, o novo Paraíso Terreno será um Paraíso racionado. Sempre será um paraíso, é verdade; e não se pode, em sã consciência, duvidar da sinceridade dos profetas que o anunciam com tanta ênfase.

De qualquer forma, todo mundo está na expectativa do grande Sol que vai raiar. Os Chanteclers já estão cantando a plenos pulmões. Portanto, o dia vai levantar-se irresistivelmente. Porém, antes disso, queríamos formular uma pequena observação.

Ninguém ignora que, antes do atual conflito, o grande problema era a superprodução. Em seu holocausto, indescritíveis fogueiras se acenderam em toda a terra, e devoraram o excedente das colheitas e dos rebanhos. Não só: fábricas fecharam-se, indústrias morreram, bancos faliram. A guerra, entretanto, veiu absorver todos os excedentes e, mais ainda, de modo que todos tiveram de diminuir consideravelmente o seu consumo normal de utilidades, para sustentar os exércitos em campanha. Ora, cessada esta voragem, a produção vai não somente atingir o nível anterior, mas ultrapassá-lo em virtude dos aperfeiçoamentos colossais conseguidos na guerra.

Quem ou o que vai absorver esta avalanche de utilidades, se prosseguir a economia de guerra dos controles?

Talvez esta pergunta seja uma imbecilidade. Afinal, um paraíso é um paraíso.


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