Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Alocução do Santo Padre

 

à nobreza romana

 

"Legionário" n° 601, 13 de fevereiro de 1944

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A genuína nobreza romana se compõe de famílias das mais antigas e gloriosas da Europa, que se salientam por ume fervoroso devotamento ao Santo Padre. Quando Garibaldi invadiu Roma em 1870, essas famílias, em sua generalidade, recusaram-se a servir a corte real italiana, continuando a figurar na Corte Pontifícia durante o cativeiro voluntário dos Papas que durou até o Tratado de Latrão. Só nessa ocasião a nobreza romana reabriu seus salões, fechados desde 1870 em sinal de luto pela anexação dos Estados Pontifícios. Os melhores elementos da nobreza romana sofreram uma guerra tenaz do regime fascista, cuja legislação claramente socialista os expoliou em larga escala de seus patrimônios. Nem por isto curvaram a cabeça, e durante a ocupação nazista recusaram os cargos de "quislings" que com ameaças e promessas lhes foram oferecidos.

Nosso clichê representa, da esquerda para a direita os Príncipes Colona e Massimo e um Camareiro secreto de capa e espada "di numero", em seus belos e tradicionais trajes de cerimônia na Corte Pontifícia.

Em um de nossos últimos números publicamos um breve resumo, fornecido pela agencias telegráficas, da alocução que Nosso Santíssimo Senhor o Papa dirigiu a membros da nobreza romana, por Ele recebidos em audiência especial. Publicamos hoje um resumo mais completo dessa importante e atual oração, feito pela agencia noticiosa católica N.C.

O Santo Padre pronunciou seu discurso em resposta à saudação que Lhe dirigira o Príncipe Marcantonio Colona.

Pio XII afirmou que o mundo atual presencia um dos maiores transtornos de sua história do qual há de sobrevir uma nova ordem; ao advertir contra o perigo de ligar-se demasiado ao passado, o Soberano Pontífice também se pronunciou contra as aventuras temerárias e contra os profetas alucinados que falam de um falso e ilusório futuro e sublinhou ante seus ouvintes a necessidade de sempre se orientarem segundo as verdades eternas da Igreja.

A adequada continuação da tradição — disse Sua Santidade — exige de cada um o comprimento valoroso da missão a que Deus o destinou, ou seja, aperfeiçoar a nova ordem que seguirá à presente crise universal.

A virtude da tradição

Muitos dizem — acrescentou — que a tradição é somente um pálido vestígio de épocas passadas que já não existem mais; em suma, lhe concedem a categoria de algo que deve ser entregue a um museu com veneração, mas em verdade, a tradição é o que se opõe à reação destruidora de todo progresso sólido. A palavra em si, constitui um sinônimo de movimento e de avanço contínuo, tranquilo, ativo, ao passo que o progresso somente evoca um movimento para adiante, fixos os olhos num futuro incerto.

Pela virtude da tradição, a juventude, iluminada e guiada pela experiência de seus antecessores, avança com passo mais seguro, e então a idade pode entregar confiadamente a mãos mais vigorosas, a continuação do arado no sulco já aberto.

Desta maneira — continuou o santo Padre — a tradição e o progresso integram-se um ao outro. A tradição sem progresso é uma contradição, ao passo que o progresso sem tradição é empresa precipitada que se lança para as trevas.

Sua Santidade passou a assinalar a urgente necessidade de colaboradores no progresso para um futuro sólido e feliz, exortando seus ouvintes ao cultivo do conhecimento do passado, ao estudo da história, ao amor pelos costumes consagrados, à incomovível lealdade aos princípios eternos; ao mesmo tempo mostrou-lhes como função social de vital importância, a necessidade de que se mesclem com o povo, e compreendam suas aspirações e seus males — seguindo o exemplo de tantos espíritos nobres —, para desta maneira difundir e criar uma ordem social cristã nos diversos campos da atividade social. A Igreja então, terá valiosos colaboradores na sua empresa que — mesmo no meio da agitação e conflito — não cessa de promover o progresso espiritual dos povos.

Missão social

Ao transtorno social e político do momento — disse Sua Santidade — está por seguir uma nova ordem que só a Providência de Deus, que dirige os acontecimentos humanos, conhece. O momento atual, transitório, não é um mal em si, a menos que a destruição se espalhe e a rapina cave um abismo entre o que foi e o que há de vir. Esta perigosa passagem da crise — frisou ainda Pio XII —, pode ser a fonte da salvação ou a fonte da ruína irreparável. Insistiu que a meditação do passado nos ensina que o mal perpetrado foi um certo momento evitável, se houvesse cada um cumprido valentemente com a missão a que, na medida das suas possibilidades e da sua fortaleza, o destinou a Divina Providência para o progresso e a perfeição do organismo social.

 

Nota: Para aprofundar o tema, consulte a obra “Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana”.


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