Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et vetera
 
Nazismo versus comunismo?

 

 

 

 

 

Legionário, 4 de fevereiro de 1945, N. 652, pag. 5

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Em seu último discurso, Hitler teve a coragem de fazer mais um apelo patético ao povo alemão no sentido de o ajudar na luta contra o bolchevismo.

Isto nos faz lembrar uma hipotética luta entre dois bandos de gângsteres: Dillinger faria um apelo ao bom povo de Chicago no sentido de o ajudar a eliminar da face da terra o inimigo número dois do gênero humano representado por Al Capone...

Embora usando métodos de ataque diferentes, comunismo e nazismo são atualmente os dois maiores inimigos da civilização católica. Poderíamos também citar o liberalismo. A distinção, porém, não é necessária, pois no fundo tanto o comunismo como o nazismo se acham impregnados da pior forma do liberalismo, que é o liberalismo religioso.

Em nosso último número vimos a identidade de meta do nazismo e do comunismo, que é a abolição do Cristianismo e, em particular, da Igreja Católica. Tal como na Rússia bolchevista, os ataques nazistas contra a Igreja têm sido não somente diretos, mas principalmente indiretos, visando a substituição do cristianismo por uma ideologia pagã. Passamos em revista as tentativas feitas para substituir a moral católica por um conceito de moral que lhe é antípoda e que muito se assemelha com o que tem sido inculcado ao povo na Rússia através principalmente da escola leiga. Hoje vemos alguns aspectos da campanha desencadeada pelo nacional-socialismo no sentido de criar um sucedâneo religioso para o povo alemão, como coroamento da esperada extinção da Igreja naquele infeliz país.

Ainda uma vez, [a citação] é retirada do “Cristianismo en el Tercer Reich”.

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Em seu número de 8 de junho de 1943, “Das Schwarze Korps” descreve da seguinte maneira a nova “imagem de Deus” germânica: “Faz algum tempo estamos estudando minuciosamente a questão de saber quais os dogmas da religião cristã que ferem os sentimentos éticos e morais da raça germânica e que, por conseguinte, de acordo com o estabelecido expressamente no artigo XXIV do Programa do NSDAP, devem ser considerados como incompatíveis com as concepções racistas. Chegamos à conclusão de que toda uma série de conceitos cristãos são incompatíveis com nossas ideias...

“Qual de nós – que tenha verdadeiramente o sentido do sangue – não sente no mais íntimo da alma uma profunda e persistente vergonha ao encontrar de improviso, em suas viagens por terras da Alemanha, uma imagem do Crucificado diante do panorama dos cumes nevados dos Alpes ou no meio da paisagem majestosa da Westfalia?

“Os deuses de nossos antepassados tinham outro aspecto. Eram homens e empunhavam uma arma, que simbolizava o típico da tendência vital comum à nossa raça: o fato ativo da responsabilidade para consigo mesmo.

“Que diferença daquele pálido Crucificado, cuja atitude passiva e cujo aspecto acentuadamente lastimoso expressam humildade e abnegação extrema, qualidades opostas à tendência básica e heroica de nosso conceito de sangue!

“E agora, se escutarmos com ouvido aguçado a voz do sangue, reproduz-se em nós mesmos todo o processo histórico: a mais inaudita de todas as privações históricas, o extermínio de tudo quanto era sagrado a nossos antepassados.

“A clara, pura e orgulhosa crença do homem nórdico na própria força e na infalibilidade de uma atitude vital limpa e varonil, foi destruída pelos zelosos precursores de uma ideologia estranha, que pregaram a nosso povo o terrível fantasma da fé no pecado”.

O pecado, o pecado original e o desejo da redenção são desprezados por anti-germânicos.

E o “Schwarze Korps” de 7 de janeiro de 1937 diz: “Estamos convencidos de que qualquer moral decretada e imposta ao povo é tão reprovável como aquela hipocrisia que – por exemplo, mediante o sigilo sacramental – se aproveita dos erros humanos mais naturais para a dominação política de pessoas intelectualmente inferiores.

“O abstruso dogma do pecado original, que exige necessariamente uma redenção, a queda do primeiro homem e o conceito do pecado em geral, tal como o ensina a Igreja – com prêmio e castigo – para indivíduos de raça nórdica são intoleráveis, por ser incompatíveis com a ideologia heroica de nosso sangue.

“Acima de todas as dissensões confessionais – a mais não podem chegar na Alemanha de hoje as discussões sobre problemas religiosos – para nós se acha o fato incontrovertido de que o que mais importância tem para o porvir de nosso povo é que a religião, como servidora do Estado, crie novas formas espirituais adequadas para concorrer para a realização do ideal de vida heroica de nossa raça”.

Portanto, o dogma da Justiça Divina, que recompensa e castiga e o da vida eterna depois da morte, não podem conciliar-se com o materialismo biológico do nacional-socialismo, razão pela qual os conceitos da outra vida que não concordam com este sistema devem ser abandonados.

Em um artigo publicado no “Der S. A. Mann”, de 14 de agosto de 1937, e ilustrado com uma caricatura, se diz que o inferno serve para “assustar as mulheres velhas e os meninos”.

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Visto que os alemães têm uma tradição cristã, a terminologia da nova confissão religiosa nacional-socialista também será cristã. A terminologia, não, porém a teologia. Falar-se-á, no futuro, também em Deus, em fé, em sacrifício, em ressurreição, em eternidade e imortalidade, como até agora, em tudo o que foi realizado nos últimos anos em Munique e Nuremberg nas reuniões festivas do Partido e nos estádios comemorativos, e talvez se chegará a realizar com o correr dos tempos nos edifícios que uma vez foram igrejas. Os atos nacionais e o culto religioso hão de ser uma coisa só. E isto será realmente um culto de Estado, e não uma Igreja nacional ou uma religião nacional no sentido atual. Culto de Estado: - a igreja política do nacional-socialismo!

Consequentemente, erigem-se edifícios para o culto neo-pagão e se dá outro sentido às festas cristãs. Para as festividades nacionais-socialistas, é criado um cerimonial próprio, matizado como religião, um culto realmente neo-pagão. As autoridades e a imprensa do Partido se esforçam sem cessar em substituir os costumes e os Sacramentos cristãos pelos costumes neo-pagãos; em lugar da religião cristã há de ser entronizada uma nova piedade, uma fé nacional-socialista.

Edifícios para o culto neo-pagão em vez de igrejas cristãs! Este é o postulado que agora se sustenta, onde a enorme maioria do povo alemão permanece fiel à Fé de seus pais. Como o anuncia o “Reichspost” (Correio do Reich) de 2 de abril de 1937, em uma reunião dos membros do “Movimento da Fé alemã” em Hannover, se levantou o problema: “Que faremos de tantas igrejas, quanto estiver morta a geração que agora ainda se aferra ao Cristianismo?” O orador, chefe da circunscrição, dr. Hammerbacher, responde do modo seguinte: - “Conservaremos naturalmente todas as igrejas que tenham valor; serão empregadas para as horas de consagração do povo alemão, depois de haverem sido eliminados logicamente todos os símbolos cristãos. Muitas igrejas, porém, deverão ser demolidas...”

No mesmo sentido se manifesta também um artigo do “Schwarze Korps”, de 16 de fevereiro de 1939, página 6.

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As festividades cristãs cada vez mais são substituídas por festas neo-pagãs. Existe já uma abundante literatura que trata desse assunto.

Em começos de abril de 1939 um certo dr. Karl Ruprecht fez uma conferência pela rádio austríaca sobre “Costumes populares e Igrejas”. O orador afirmou que a Igreja se havia apoderado de todos os costumes populares de origem germânica contra todo direito, e que o Natal, a Páscoa e outras festividades deviam ser despojadas de seu caráter cristão artificial, para tornar a ser o que foram sempre em sua essência: festas nacionais nórdicas dos alemães.

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Em janeiro de 1939, por ordem do Ministério do Interior da Áustria, em todos os hospitais os crucifixos foram substituídos por retratos de Hitler.

“Oststebote” (Mensageiro do mar oriental) de Doberan (Meklenburg-Schwerin) de 11 de novembro de 1937, informa acerca de uma festa de batismo nacional-socialista, a chamada “consagração do homem”, no pórtico dos antepassados de Guestrow (trata-se de uma Igreja católica desapropriada).

Desde o dia 1º de janeiro de 1939, juntamente com a lei alemã do estado civil, se introduz também uma “designação solene do nome com entrega de um certificado de denominação”, o qual – como admite publicamente a imprensa vienense – deve substituir o batismo cristão.

Chefes da Juventude Hitlerista realizaram já no mês de setembro de 1935 casamentos públicos e criaram para isto um cerimonial neo-pagão.

No mês de dezembro de 1936 o chefe dos grupos locais do Partido Nacional-socialista Alemão do Trabalho apresentou à sessão do conselho de Sollingen uma proposta para a “transformação do casamento civil”.

A revista “Comuna Nacional-socialista” no número de julho-agosto de 1939, diz: “O Partido tem o dever de cuidar por todos os meios possíveis que o casamento civil seja configurado de tal maneira, que corresponda com o pensamento nacional-socialista. No interesse da unidade do Partido e do Estado deveria haver somente um casamento; justamente o civil, que deveria ser digno para todos os cidadãos “.

O “Movimento da fé alemã” luta por uma “cerimonia juvenil de crentes”, como sucedâneo da Comunhão e da Confirmação.

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Que outras provas necessitamos para mostrar a comedia que representa a luta nazista contra o bolchevismo? Se Caim tivesse outro irmão da mesma marca, é provável que ambos se unissem para eliminar Abel. Mas como a aliança entre os maus é feita sob o signo do ódio, acabariam entrando em conflito, uma vez superado o interesse material que os unia. E na presente guerra devemos levar em consideração não somente os interesses em jogo de nação para nação, mas também a e sobretudo o aspecto revolucionário do conflito. Tenhamos sempre em mente as palavras de Lenine a respeito da necessidade de uma segunda grande guerra que seria desencadeada sobre o mundo para destruir os últimos redutos de resistência contra a implantação da [ditadura do proletariado].


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