Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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Propaganda da impureza

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de abril de 1946, N. 716, pag. 2

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Diz-se que São Felipe Neri sentia mau cheiro quando se aproximava de alguma pessoa impura. Se este dom sobrenatural fosse concedido indiscriminadamente aos homens, ninguém mais poderia suportar os péssimos odores que se desprenderiam dos grupos sociais. Uma cidade como São Paulo seria um monturo intolerável. As coletividades se dissolveriam por repugnância olfativa. Aliás, a imundice moral está tomando tais proporções que, mesmo sem o dom de São Felipe Neri, parece que já se percebem as exalações mefíticas. Principalmente, há certas pessoas que parecem cheias de podridão, e se diriam feitas da purulência mais atroz. Em algumas ocasiões isto surge com tal nitidez que provoca a ilusão olfativa do mau cheiro.

Aliás, tudo indica que estas mesmas pessoas percebem alguma coisa da natureza fétida que há nelas. Contudo, por uma estranha perversão do gosto, se deliciam com estas emanações de cloacas, e até as provocam. É o que se dá, por exemplo, nas conversações pornográficas, note-se que as pessoas que se refocilam em tais conversas tem prazer em pronunciar repetidas vezes os grandes palavrões obscenos, como a saborear-lhes a essência. É na pronunciação das palavras obscenas que as pessoas impuras obtêm uma certa realização plástica da própria impureza, na qual se verifica uma como experiência direta do vício enquanto tal. Ao passo que no desregramento da conduta tais pessoas são apenas levadas pelo vício, na expressão verbal eles o possuem, miram-no à luz do dia, e regozijam-se nele, e se fazem perfeitamente à sua imagem, conformando-se conaturalmente com ele. É uma coisa espiritual, e por isso mais pervertida, em que encontra realização plena e sem disfarces, sem satisfações sensíveis, este absurdo desejo de autoconspurcação, que o pecado original deixou em nós, e que é o fundo da concupiscência. É uma realização verbal, e por verbal entenda-se aqui o que é relativo ao verbo, à palavra interior do espírito humano. Por isso São Paulo nos adverte a nem mencionar tais coisas.

São, pois, as conversas imorais que alimentam mais fortemente o vício da impureza. São elas que temperam e amadurecem os atos desonestos, aumentando-lhes a malícia.

São uma dolorosa experiência em nossos dias os males sem conta causados por tais conversas. E, digamo-lo com vergonha, por causa da verdadeira obsessão pornográfica que reina entre nós, somos frequentemente desprezados pelos estrangeiros.

Entretanto, vem agora um certo literato árabe, que melhor faria se abrisse uma loja na 25 de Março, pois assim ainda lesaria menos ao próximo, e começa a fazer uma verdadeira propaganda da imoralidade, pelas colunas de um jornal que é tido por limpo. Seu último artigo tem o título expressivo: “Da necessidade da pornografia”. Sua tese é que o homem deve entregar-se a todos desregramentos da conduta e da linguagem, para depois, por exaustão, atingir o senso das coisas puras.

Como se vê, é uma pureza de velhos "blasés" (enfastiados, n.d.c.) e gagás. Se este é o seu ideal, faça-lhe bom proveito. Porém, se era para pensar tais coisas, era melhor ter nascido, sem cabeça.


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