Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Atualidade da Mensagem de Fátima,

 

75 anos depois

 

 

 

 

 

"Diário las Américas", Miami, 14 de maio de 1992

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A Mensagem de Fátima – passados três quartos de século das famosas aparições de Nossa Senhora em Portugal, em 1917 – irrompe em nossos dias com renovada atualidade, a ponto de aparecer ainda há pouco (27 de setembro de 1991) como objeto de extensa matéria de primeira página do "The Wall Street Journal", um dos jornais de maior circulação do mundo.

Impressionante concomitância de dois fatos que marcaram o século

O que conferiu às revelações de Fátima essa surpreendente vitalidade?Nelas está profundamente concernida uma nação que ocupa hoje lugar central no cenário político mundial, isto é, a Rússia.

Chama a atenção desde logo a concomitância dos dois fatos – as revelações de Fátima e a revolução russa – que se desenrolaram ambos no decurso do mesmo ano de 1917. O comunismo se assenhoreou do poder na Rússia exatamente 25 dias depois da última aparição de Nossa Senhora em Fátima. Uma mensagem transmitida aos três videntes – os pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta – e que permaneceu secreta até 1942, apontava "os erros da Rússia" como o foco central de graves perturbações que realmente vieram abalando o mundo todo durante a maior parte deste século. Por fim, na mesma Mensagem estava prevista a conversão dessa nação...

Nestas condições, a espetacular queda do muro de Berlim e da cortina de ferro, em 9 de novembro de 1989, com as comoções políticas que a precederam e se lhe seguiram nos países do Leste europeu, não podiam deixar de ser associadas ao que foi previsto em Fátima. Não seriam tais acontecimentos sinais de que Nossa Senhora estaria cumprindo suas promessas?

O referido artigo do "The Wall Street Journal" focaliza precisamente essa questão.

Não é possível, nos estreitos limites de um artigo comemorativo, tratar exaustivamente desse ponto fundamental da atual situação política internacional. Cumpre não obstante fazê-lo, ao menos de modo sumário, ao celebrar uma data tão significativa como o decurso de três quartos de século das mais célebres aparições mariais quiçá de toda a História da Igreja.

Increpação ao mundo, ameaça de castigos, promessa de paz

O que um leitor médio, que a ela consagre uma atenção suficientemente séria, extrai dessa Mensagem?

Um leitor em tais condições retém da Mensagem o fato supremamente grave de que Nossa Senhora increpa o mundo de certas culpas e o ameaça de determinados castigos caso os pedidos dEla não sejam atendidos. O caráter condicional das promessas de Fátima fica assim perfeitamente configurado. Isto é, Nossa Senhora deixa uma via aberta para que a humanidade possa escapar do castigo iminente mediante a emenda da vida.

Neste sentido, ressalta também o caráter expiatório dos pedidos feitos por Nossa Senhora: a Comunhão Reparadora dos primeiros sábados de cinco meses seguidos e a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Se tais pedidos fossem atendidos, a Rússia se converteria, abandonaria os seus erros, e esse fator fundamental de perturbação do mundo cessaria de atuar. O mundo voltaria a gozar da paz: a paz de Cristo no Reino de Maria.

A crise moral no Ocidente não fez senão acentuar-se

Pergunta: as culpas, os pecados cessaram? A expiação foi feita? A consagração da Rússia se realizou nos exatos termos estabelecidos por Nossa Senhora?

Resposta: para ir antes de tudo ao mais evidente, a crise moral no Ocidente, de 1917 para cá, não fez senão acentuar-se rapidamente. As modas se degradaram, aproximando-se do nudismo cada vez mais generalizado. A assombrosa instabilidade do casamento, casas de prostituição que se ostentam desavergonhadamente até com anúncios luminosos em locais de fácil acesso, a aceitação da homossexualidade como um fato normal, o número de apostasias no Clero e nas fileiras das Ordens religiosas de ambos os sexos por motivos que têm muito a ver com a desestima do voto de castidade, a coeducação de rapazes e moças, a educação sexual nas escolas, os artifícios todos para a diminuição da natalidade são outros tantos sintomas da degenerescência que afeta setores cada vez mais amplos das sociedades do Ocidente.

A seita atéia do comunismo procurou construir uma sociedade sem Deus

Quanto aos países do Oriente dominados pela seita atéia do comunismo, neles foi construída uma sociedade na qual se procurou banir totalmente a idéia de Deus. Do topo do Estado aos detalhes mais miúdos da vida de cada indivíduo, tudo se organizou ao avesso do que postula o Direito Natural codificado nos Dez Mandamentos da Lei de Deus. A legislação comunista aboliu a propriedade privada, instituiu o igualitarismo mais completo e praticamente extinguiu a família, transformando o casamento num mero registro público que insignificantes formalidades legais podem alterar ao bel prazer do par que episodicamente se juntou.

Reforma da moralidade, a grande esquecida

Assim, entre tantas reformas de que todo o mundo fala como necessárias – quer no Ocidente, quer no Oriente – ninguém pleiteia a solução do que mais ofendeu a Nossa Senhora, isto é, a reforma da moralidade, tanto particular como pública, pela restauração do instituto da família, com o revigoramento da indissolubilidade e sacralidade do casamento, da autoridade dos pais sobre os filhos, a subtração destes à intromissão abusiva do Estado que oficialmente é pelo menos leigo, senão diretamente ateu etc. etc.

Os pedidos de Nossa Senhora não foram atendidos num ponto fundamental

Portanto, sem mesmo entrar na discutida questão de se as sucessivas consagrações do mundo ao Imaculado Coração de Maria feitas pelos Pontífices preencheram as condições estabelecidas por Nossa Senhora para a conversão da Rússia (nação que deveria merecer uma menção especial na fórmula da consagração), qualquer afirmação no sentido de que as promessas de Fátima estão se cumprindo exigiria a maior circunspecção, posto que, da parte dos homens, não houve correspondência aos pedidos de Nossa Senhora em um ponto fundamental destes, que é a emenda de vida.

Perestroika, da esperança aos espinhos

Não obstante, é fato que a promessa gorbacheviana de instauração da perestroika na Rússia produziu, dentro e fora daquele país, talvez um dos maiores terremotos geopolíticos da História. Nações mantidas sob o guante de ferro do comunismo soviético, que não vislumbravam a menor esperança de libertação, subitamente sacudiram esse jugo e tomaram o próprio destino em mãos. A Alemanha dilacerada de alto a baixo se unificou. Como não ver com ânimo esperançoso tão alentadoras transformações?

Passados, porém, os primeiros momentos de otimismo, o olhar dos observadores realistas começou a discernir espinhos no talo das rosas. Setenta anos de comunismo na Rússia e cerca de meio século nas nações satélites ou anexadas produziram uma devastação nas instituições e uma apatia nas populações que não dão sinais de pronta recuperação. Pelo contrário, os analistas e a mídia mundial passaram a focalizar cada vez com maior freqüência o gravíssimo problema das migrações – falando alguns em dezenas de milhões – de famintos dessas nações em busca de condições de sobrevivência no Ocidente. Os povos das nações ocidentais franzem o sobrecenho diante da perspectiva dessa nova "invasão dos bárbaros", a qual, se atingir as proporções prognosticadas, produzirá por sua vez devastações inimagináveis. Além do depauperamento econômico, a imisção de etnias tão diferentes fará com que essas nações percam a identidade consigo mesmas. O Ocidente, que resistiu mal e mal à pregação doutrinária do comunismo, ver-se-ia assim destroçado por uma operação aparentemente a-ideológica!

A esta altura uma pergunta se impõe, inevitável. Quando Gorbachev determinou a derrubada da cortina de ferro, não era exatamente este o efeito que ele tinha em vista? Compreende-se que muitos europeus comecem a ter saudades da cortina de ferro, até então encarada como muralha do horror, e que agora se revela ter sido uma barreira protetora...

Retração ou metamorfose do comunismo?

Os espíritos mais atilados sempre olharam com desconfiança a perestroika, receando que ela contivesse em seu bojo uma jogada soez do comunismo. Hoje a opinião pública do Ocidente vai lentamente se percatando de que os verdadeiros fins da perestroika eram na realidade obscuros. Talvez não esteja longe o dia em que a autenticidade discutível da retração do comunismo revele que esta não foi senão uma metamorfose, e que da larva decomposta sai voando a "linda" borboleta da autogestão... Autogestão esta que todos os teóricos e líderes máximos do comunismo, desde Marx e Engels até Gorbachev, sempre apresentaram como a versão extrema e cabal do comunismo, a quintessência dele. No preâmbulo da Constituição soviética, tal estava afirmado com todas as letras. O comunismo, aparentemente derrocado, se teria assim disseminado por todo o mundo.

Neste ponto, sim, se confirmariam as profecias de Fátima, que advertem: se os homens não se emendarem, a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo!

Lucidez, vigilância e coragem

Importa, pois, em alto grau, interpretar a Mensagem de Fátima de forma autêntica, para que os espíritos se mantenham lúcidos, vigilantes e corajosos diante de acontecimentos extraordinários que possam advir, lançando a humanidade na perplexidade e na aflição.

Para os que têm fé, ressoarão sempre aos seus ouvidos as palavras de Nossa Senhora em Fátima: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará".


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