À procura de

 

almas com alma

 

 

 

 

 

 

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NOSSA CAPA

O juramento do guarda-suíço

Em um pátio interno do Vaticano, o guarda-suíço presta seu juramento. Ele se compromete a defender o Papa com heroísmo.

O compromisso ardente jorra de seu peito com convicção e entusiasmo, numa proclamação altissonante que mobiliza todo seu ser.

Seriedade, generosidade e amor são três notas que impregnam a cena, enriquecida pela nobreza marcante do ambiente e pela beleza dos trajes, desenhados por Michelangelo.

Contemplar essa alma com alma é uma fonte de inspiração para quem procura atingir os extremos limites de sua personalidade em qualquer situação, como guerreiro ou civil, nobre ou plebeu.

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ÍNDICE

21 - Introdução - Analisando as almas

28 - No campo

56 - Na cidade

90 - Nos porões

102 - Nos salões

118 - Nos palácios

150 - No mirante

190 - A "música" das almas

272 - Epílogo: olhares...

283 - Glossário

 

À procura de almas com alma

Excertos do pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira

recolhidos por Leo Daniele

SEGUNDA SÉRIE

Edições Brasil de Amanhã

São Paulo, 1998

Seleção, apresentação e notas:

Leo Daniele

Revisão:

Francisco Leôncio Cerqueira

Helio Dias Viana

Edições Brasil de Amanhã

Rua Javaés 681 – CEP 01130-010

São Paulo – SP

Impressão:

Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda.

Rua Javaés 681 – CEP 01130-010

São Paulo – SP

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[Texto da contra-capa]

“Estou sozinho dentro de uma multidão”.  É assim que muitos têm resumido seu próprio drama, ao se sentirem envolvidos e torturados pelas estridências do mundo moderno, em particular nas grandes cidades. O fato era profundamente deplorado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Mas, como deve ser o convívio ideal? É a pergunta que surge espontaneamente.

Incomparável psicólogo e mestre da boa conversa, o ilustre líder católico nos dá a resposta. Arguto conhecedor das psicologias individuais, ele via as relações humanas como uma espécie de música, na qual cada pessoa entrava com seu timbre, suas melodias e sua vitalidade.

Neste volume encontrará o Leitor o que procura, na forma de comentários nascidos da fina observação feita por uma alma com alma e dirigida a pessoas de escol. Pois, como dizia o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, “por mais bonita que seja a natureza, todas as suas belezas são menos belas do que a alma humana”. [fim do texto da contra-capa]

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Ao Leitor

“Estou sozinho dentro de uma multidão". É assim que muitos têm resumido seu próprio drama, ao se sentirem devorados pelas estridências do mundo moderno, em particular nas grandes cidades.

As relações humanas foram dulçurosas e sentimentais no século passado. Depois, tornaram-se metálicas e secas, pois o egoísmo-a-dois do sentimentalismo foi substituído por um feroz egoísmo-individualista que se resume em dois itens: utilidades e sensualidade. E nisto estamos.

Em conseqüência, há cada vez menos pessoas na face da Terra capazes de entender, por exemplo, a obra-prima da Criação que é um simples olhar humano. E outros elementos que dignificam o convívio, como uma amizade  elevada  e uma conversa distinta e entretida.

Este estado de coisas era profundamente deplorado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Incomparável mestre da boa conversa, ele  via nas relações humanas uma espécie de música, na qual cada pessoa entra com seu ônus, seu timbre e suas melodias.

Como dizia o ilustre líder católico, “por mais bonita que seja a natureza, todas as suas belezas são menos belas que a alma humana”.

Da mútua admiração deve brotar o respeito, e de ambos, um teor de relações verdadeiramente harmônico e cristão.

Ao mesmo tempo, o senso da realidade deve levar à análise meticulosa da maldade humana, pois quem ama, detesta, e é impossível admirar verdadeiramente, sem abominar o contrário do que se admira.

Esta interessante concepção das coisas é a que o Leitor encontrará em todas as páginas da presente obra, parte integrante da coleção “Canticum Novum”.

A figura legendária que foi a de Plinio Corrêa de Oliveira, pensador com obras traduzidas para as principais línguas do planeta, homem de ação com irradiação nos cinco continentes, mostra neste livro seus dotes de psicólogo penetrante.

Ele, que tantas vezes, através de uma simples fotografia, adivinhava os meandros da alma de alguém, neste livro comenta para os leitores o semblante enrugado mais expressivo de uma velha, o sorriso anônimo mas representativo de uma criança, e assim por diante.

Como fecho, foram selecionados textos em que enuncia ele uma teoria palpitante de vida e de verdade sobre o convívio e a sociedade humana: é a música das almas.

*

Cumpre advertir que a palavra almas, que figura no título da obra e é muito encontradiça em toda sua extensão, não deve levar a pensar que se está diante de um livro de pensamentos exclusiva ou principalmente de teor espiritual ou moral. A tônica principal do livro é dada por seu aspecto simbólico. Ou seja, os homens são analisados em sua possibilidade de simbolizar realidades mais altas, individualmente ou em conjuntos. O que ficará mais claro ao longo da leitura.

Leitores de “O Universo é uma Catedral”, em número expressivo, viram na maneira com que neste livro foram selecionados e apresentados os pensamentos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira certo flou, ao modo do estilo impressionista de pintura, no qual uma imprecisão propositada convida o observador a que entre com sua parte e complete a criação artística.

Há sem dúvida algo de verdadeiro nessa apreciação.

Embora o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tenha escrito tratados como por exemplo “Revolução e Contra-Revolução” e “Reforma Agrária — Questão de Consciência”, merecidamente célebres por seu estilo solidamente travado, por sua penetração e sua lógica de ferro, não nos parece que ele consideraria o qualificativo de impressionista como depreciativo para sua maneira de conversar, arte na qual era mestre e da qual nos dá preciosas achegas neste volume. Pois mesmo quando escrevia livros ou artigos, o Prof. Plinio conversava. E neste livro procuramos, sempre que possível, fazê-lo conversar com quem lê.

Por isso, se o leitor, agradavelmente envolvido nessa boa prosa, em vez de ler o livro como em ordem de batalha, se puser a flanar ao sabor das cintilações que de cá e de lá reluzem, não serão os organizadores que lhe atirarão a primeira pedra.

O próximo volume desta coleção “Canticum Novum” vai abordar o tema da luta. Fica no presente livro assentado um indispensável pressuposto para a verdadeira combatividade, que é o espírito de apostolado, pois o verdadeiro espírito de luta nasce do amor.

Dedicamos este despretensioso trabalho a Nossa Senhora, “alma com alma” por excelência e mãe especialmente afetuosa de todas as almas sedentas de admirar, augurando que, com Sua elevada proteção, nada possam contra os livros desta coleção as tristemente célebres “patrulhas ideológicas”, nem seus inteligentes e eficientes sucedâneos, as patrulhas anti-ideológicas, geralmente a serviço de ideologias que não ousam dizer seu nome, e  que assolam e monopolizam o mundo globalizado de hoje em dia.

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Advertência

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, com certeza ordenaria que se colocasse explícita menção a sua enlevada disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito do Autor dos pensamentos contidos neste livro, cuja ilibada ortodoxia, aliás, nunca foi contestada por quem quer que seja:

"Católico apostólico romano,

o autor deste texto se submete

com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.

Se, no entanto, por lapso,

algo nele ocorra que não esteja conforme

àquele ensinamento, desde já e

categoricamente o rejeita".

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Introdução

Analisando as almas

Do alto da Cruz, Nosso Senhor disse: “Sitio” — Tenho sede1. Ele tinha sede.  E todos os intérpretes concordam em que essa sede não era apenas física, causada pela efusão abundante de sangue, mas sobretudo a sede das almas, que Ele tinha.

Ouvimos também falar de sede em outras passagens do Evangelho.  Noutra ocasião Nosso Senhor fala daqueles que têm fome e sede de justiça.  Foi quando enumerou as bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados”2.

Podemos dizer, também, que a alma tem sede de Nosso Senhor, como no Salmo: “Assim como o cervo suspira pelas fontes das águas, assim minha alma suspira por ti, ó Deus”3. É até freqüente, em símbolos eucarísticos, vermos dois cervos se dessedentando numa fonte.  Essa sede é, evidentemente, a que a alma tem de Deus.

Há três espécies de sede: a que Deus tem das almas; a que temos de Deus; e a que devemos ter, uns das almas dos outros.

Todas as três sedes têm de comum que são apetências, atrações puramente espirituais, de alma para alma, em que o corpo não interfere; é a alma que deseja uma outra alma.

Naturalmente, uma sede inexprimível da parte de Deus, que não precisa de ninguém, que é perfeito, que Se basta a Si próprio, e que quer condescender em ter sede de nós; uma sede muito menor — mas nos Santos ardentíssima — dos homens  para com Deus; e uma sede que o apóstolo tem das almas junto às quais vai fazer apostolado4.

*     *     *

Eu gostava de observar alguns mendigos que havia na Rua Martim Francisco5, porque, apesar de serem extremamente miseráveis, percebia no fundo dos olhos deles uma centelha.

E essa centelha da alma humana no fundo do lodo e da sujeira, continha um particular elemento de realce.

Se é verdade que o Universo inteiro foi criado para que o homem o conhecesse e, através dele, subisse a Deus6, a obra-prima do Universo sensível que temos diante de nós é o homem.

O homem contemporâneo não sabe compreender a beleza de uma alma, não sabe entender quão bela é qualquer alma, a alma do último maltrapilho que se encontra bêbado na rua.

Em toda alma humana essa centelha existe, e toda alma, qualquer que seja — desfigurada pelo pecado original, pelos pecados atuais —, tem pelo menos uma beleza potencial, que deveríamos saber entender.

Enquanto se ficar em considerações a respeito de graminha, de florzinha, ou de uma queda d’água majestosa, ou dos pinheiros do Báltico, estaremos num nível baixo.

Por mais altas que sejam as considerações a que tudo isso se presta, qualquer alma humana vale ainda mais.

Quem não é capaz de perceber a beleza espiritual que existe por cima da beleza material, nada compreendeu do Universo.

É preciso conhecer o valor de cada alma para ter a noção exata do valor do Universo7.

Notas:

1. Jo.  XIX, 28.

2. Mt.  V, 6.

3. Ps. XLI, 2.

4.  Apostolado é a ação pela qual um católico procura fazer bem a outra pessoa, aconselhando-a ou ajudando-a na prática da virtude.

5. No bairro de Santa Cecília, São Paulo.

6. Esta é tese central do livro “O Universo é uma Catedral”, o primeiro desta coleção "Canticum Novum" com pensamentos e frases de Plinio Corrêa de Oliveira (Artpress, São Paulo, 1997).

7. O texto desta Introdução foi integralmente extraído das conferências intituladas "A sede de almas", proferidas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 1972, e publicadas na "Circular aos Sócios e Militantes", ano VII, números 5/6, de 13 de maio de 1972.